Nós devíamos as ler como se fosse arte. Você olha dentro do mundo emocional de sua música, mas tudo que você está vendo é você mesmo.

O lançamento de “Red (Taylor’s Version)”, álbum de 2012 regravado por Taylor Swift, tem revivido alguns tópicos antigos: Taylor como a ex-namorada que ataca seus ex-namorados em público, e que as letras das músicas operam como um código de fofoca, e seu talento é interpretar a vítima. Mesmo seu projeto de regravações de seus seis primeiros álbuns, que começaram Esse ano com o “Fearless” de 2008, vem cheio de dramas: Swift está fazendo isso para que os masters que estão na mão da sua antiga gravadora, Big Machine,  não sirvam para nada, já que ela não consegue recuperá-los através de termos favoráveis. (A gravadora vendeu os masters para um investidor de fundos.) Quando Taylor cantou a música de destaque do “Red”, a mais nova estendida versão de 10 minutos de “All Too Well” no Saturday Night Live no fim de semana do lançamento, ela deixou sua voz embargada com a intensidade de sua apresentação – mas eu mal consegui respirar antes da que o segmento de notícias começasse a fazer piadas sobre ela sendo uma ex-namorada vingativa.

Todos esses sentimentos parecem como uma volta há algum tempo passado – de volta quando Taylor lançou músicas que obviamente eram sobre pessoas em particulares, quando o público lia cada álbum como um caderno cheio de nomes, quando “ouvir Taylor Swift” era algo que você fingia ser que era só para meninas adolescentes. E pode ter sido inevitável que a conversa em torno do “Red (Taylor’s Version)” tivesse o foco em um dos ex-namorados de Taylor, Jake Gyllenhaal, a provável inspiração para “All Too Well” – seu nome começou até a ficar nos assuntos mais comentados do twitter quando o álbum saiu. Eu vou admitir que ri de algumas piadas. Mas isso é também algo muito ruim.

“All Too Well” não é apenas uma das melhores músicas de Taylor; é também uma de suas mais representativas. É uma triste balada romântica sobre ser deixada para trás, rica em detalhes escolhidos a dedo – um cachecol, uma luz de geladeira – que a deixa ainda mais poderosa. Se alguém quiser entender por completo o que estava acontecendo, essa é a música para você tocar para eles. É representativa, também, dos diversos truques íntimos que ela cultiva com seus fãs. Em sua arte, em sua apresentação, Taylor faz uma janela que na verdade é um espelho: você olha no mundo emocional de sua música, mas tudo que vê é você mesmo. Parte do apelo de Taylor Swift está nessa contradição. Em sua música, ela está sempre chorando por um amor perdido ou por se entregar em algum novo; na vida real, Taylor é tão cuidadosa com sua imagem que precisou de um paparazzi particularmente dedicado para conseguir tirar uma foto dela que mostrasse seu umbigo. É difícil imaginar a mulher que você atuando como a mulher das músicas, mas é difícil ouvir as músicas sem estar pensando que isso deve ser como ela é.

Isso é o que artistas fazem, claro: transformar algo sobre eles mesmos e o mundo em algo novo que é íntimo mas também impessoal. Mas é mais fácil falar sobre Taylor como um polo atraente de dramas do que falar da Taylor como uma artista. Mesmo quando eu tento, eu acabo falando do efeito das suas músicas em mim, e não sobre as músicas em si. Mas talvez isso seja apropriado para uma artista que está sempre contando histórias sem se entregar.

Eu não cresci com a Taylor Antiga, a artista de música country certinha de seus três primeiros álbuns. Eu não tenho certeza se prestei atenção na Taylor até 2013. Mas naqueIa primavera meu coração foi partido e tem sido por um tempo. Eu tenho ouvido muitas músicas sobre estar triste, mas a maioria delas era autodepreciativa: the Smiths, Aimee Mann, esse tipo de coisa. Eu estava triste e era estúpido estar triste e era minha culpa. Então o “Red” apareceu no Spotify e eu pensei: “Por que não?”

Em seu jeito diferente, sem vergonha por dar atenção à dor emocional e ao desejo, “Red” era o que eu precisava ouvir. Eu gostei de como Taylor Swift usou os personagens de suas músicas e os deu responsabilidade por não a amarem, mesmo que falar isso pessoalmente para outra pessoa seria bem difícil de acontecer. Foi como eu me senti também. As músicas não tinham uma pegada intelectual nas emoções que demonstravam, ou nenhum conhecimento irônico. Elas diziam: sentimentos não podem ser certos ou errados, inteligentes ou estúpidos. Deixe voce sentir o que tiver que sentir, mesmo que pareça bobo, Você vai sentir de qualquer forma.

Taylor não mudou de prazer com culpa para prazer absoluto até seu último álbum, 1989 (Teve uma esquete do Saturday Night Live sobre isso também). Porém, enquanto ela recebia aclamações dos críticos mais do que nunca, o álbum me deixou fria. Seria impossível para alguém como Taylor “se vender” – para o quê, exatamente? – mas foi assim que eu me senti. Ela lançou o reputation em 2017 e eu quase não ouvi. A artista que significou tanto pra mim desapareceu. O que eu queria era vulnerabilidade, não clipes inteligentes ou pop tranquilo. Quando eu eventualmente voltei para aqueles álbuns, eu percebi que muito do que eu pensei ter ido embora sempre esteve lá: O que eu senti como inteligente e estéril sobre o 1989 foi uma forma de experimentar – não só com estilos musicais mas com a forma de contar histórias livres dos detalhes privados da vida de Taylor. Eu subestimei a Taylor, artista, o tempo todo que eu pensei estar criando uma defesa em torno dela.

Agora, ouvindo-a cantar o “Red” novamente, deveria ser mais claro do que nunca que essas músicas são definidas adequadamente como arte – não como páginas de diário, não como um enredo de vingança. Mesmo sem isso, seria fácil imaginá-la revisitando seu trabalho antigo; suas músicas são sobre olhar para trás e seguir em frente, cheias de nostalgia antecipatória sobre algo que pode ser que nem esteja finalizado. Suas músicas que foram mais beneficiadas pelo seu projeto são “Fifteen” do “Fearless” e “22” do “Red”: Agora Taylor pode refletir propriamente sobre seu eu mais jovem que compôs aquelas músicas em vez de pular a história para imaginar uma pessoa mais velha, mais inteligente e mais triste. O imediatismo das letras ganha força quanto mais distante ela está dos eventos que ela descreveu.

“All Too Well,” curta ou longa, não é uma música sobre como um cara ficou com seu cachecol. O cara não importa; ele é apenas a ocasião. É uma música sobre lamentar sobre um relacionamento que você se dedicava mais do que a outra pessoa. A imagem do cachecol é parte do luto que é a negação – a convicção desesperada de que alguém teria ficado com ele porque significou algo para ele, em vez da resposta mais óbvia ed que provavelmente ele esqueceu que sequer pertencia a você. Na nova letra, Taylor faz tudo ser mais explícito, enquanto canta “Cá entre nós, a história de amor destruiu você também/ Você se lembra muito bem também? É engraçado pensar no que eu sentiria quando me apaixonei primeiro por essa música – foi a pergunta que eu quis fazer e sabia que não conseguiria. Uma das coisas que eu sempre gostei  sobre a persona da Taylor é que ela está mais preocupada em estar apaixonada do que ser amada. O preço de ser vulnerável dessa forma é o luto. Mas o luto também é a recompensa. A única coisa que não ser vulnerável te dá é fazer você perder seu tempo.

Músicas não são sentimentos, mesmo que elas possam induzi-los. Elas não são memórias, mas podem ser sobre pessoas reais. Elas são obras de arte. O que quer que tenha acontecido entre Taylor e Jake está terminado há muito tempo. A persona que ela se apresenta no palco é a da música, não seus sentimentos reais. Isso não desvaloriza nada, da mesma forma que um ator representando um papel todas as noites não desvaloriza suas falas em sua performance. E ainda assim nós trazemos de volta um relacionamento que terminou há 10 anos. Taylor é muitas coisas: assunto de tabloides, uma estrela do pop e sim, uma ex-namorada que conta os podres. Mas ela também é uma artista. E quando a fofoca sobre ela e Jake não é nem memória distante, em algum futuro quando Taylor for uma grande dama da música como Dolly Parton ou Steve Nicks, as pessoas ainda vão colocar “All Too Well” e cantar a plenos pulmões, cantar no karaokê, colocar para repetir enquanto olham para o teto. Porque a fofoca pode ser o que te levou ali, mas a arte é o que fez você ficar.

Fonte: The Washington Post





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