Eu amo mitos e mitologia. E amo Taylor Swift. Com o lançamento do ‘folklore’, eu fiquei extasiado ao ver minha artista preferida abertamente fazendo alusão a estórias de magia e mitologia. Quando veio a surpresa do ‘evermore’, e essas referências só aumentaram, não pude me conter de alegria: precisei por em palavras as reflexões e sentimentos que me vieram à cabeça ao escutar tantas músicas lindas carregadas de referências a estórias épicas e de um misticismo nem um pouco usual – nós, swifities, sabemos que encontrar o significado das letras deixa as músicas muito mais fortes e mágicas.
Nem todas as músicas da era folklore/evermore contém menções mitológicas ou mágicas. Algumas contém referências claras e diretas, enquanto outras são bem sutis. Boa parte dos paralelos traçados aqui provavelmente sequer foram pensados pela Taylor ao compor as músicas, mas invariavelmente conectam a genialidade dessa artista atual às lendas dos povos antigos: independentemente da época, o ser humano ama uma boa história de amor, tragédia e magia.
1 – o clipe de ‘willow’
Vamos começar com uma das primeiras cenas (figura 1): Taylor admira o reflexo do lago que a mostra ao lado de seu amado. Instantes depois, ela pula no lago, pois está em busca do coração que o destino reserva para ela. A lenda grega de Narciso (Figura 2) conta uma versão parecida, porém mais trágica do que é mostrado no clipe: Narciso era um jovem belíssimo que nunca foi capaz de reconhecer seu próprio reflexo. Após rejeitar a ninfa Eco, os deuses o castigaram por sua petulância fazendo com que ele se apaixonasse pelo próprio reflexo. Ao ver seu belo rosto refletido no lago, ele também pulou em direção a quem amava, o que causou a sua morte. A cena seguinte do clipe, após o mergulho, retrata uma Taylor mais jovem do que aquela que pulou no lago, o que pode sugerir que sua paixão pelo amado é muito forte e atravessa as fronteiras entre diferentes vidas. A própria Taylor confirmou que a música retrata o forte desejo por alguém e o quão complexo esse desejo pode ser.
A letra de willow traz: “head on the pillow I could feel you sneaking in / as if you were a mythical thing” (com a cabeça no travesseiro, eu pude sentir você entrando de mansinho, como se fosse uma criatura mítica). Essa pequena passagem alude a um dos mitos gregos mais bonitos: o de Eros e Psique, a alegoria conflituosa entre o Amor e a Mente Racional.
Psique era uma jovem de beleza comparável à de Afrodite, a qual ficou ofendida por tamanha comparação com uma reles mortal. Amaldiçoada pela deusa, Psique nunca foi capaz de achar um amado. Além disso, Afrodite ordenou que seu filho, Eros, o Cupido, fosse até Psique e a fizesse apaixonar-se por um monstro terrível. Cumprindo os desejos de sua mãe, Eros foi até Psique, mas ficou tão extasiado com a sua beleza que acabou ferindo a si mesmo com a flexa do amor, apaixonando-se pela jovem mortal. Psique, seguindo os conselhos de um oráculo que determinava que seu destino seria casar-se com um monstro horrível, irresistível aos olhos humanos ou divinos, foi então morar sozinha em um palácio encantado no meio de um vale onde deveria esperar a visita do monstro. Todas as noites, o deus Eros, escondido de sua mãe Afrodite, vinha de mansinho, visitar Psique, sempre pedindo que esta nunca mirasse o seu rosto ou perguntasse a respeito de sua identidade. Tomada pela curiosidade, Psique acabou descobrindo quem era o suposto monstro que a visitava todas as noites (Figura 3), ocasionando a ira de Eros, que fugiu revoltado para o Olimpo.
Este foi apenas o começo da jornada de Psique em busca do seu amor, Eros, mas contá-la na totalidade não é a intenção deste texto. O interessante aqui foi ver Taylor fazendo referência ao maior mito clássico sobre a briga e reconciliação entre a Mente e o Coração, sempre presente em qualquer relacionamento.
Todos nós lembramos das cobras da era ‘reputation’, certo? Bem, agora que Taylor abandonou aquela sua fase sombria e vingativa, ela fez questão de referenciar esse momento (Figura 4) da carreira como algo cômico – uma atração de circo: ‘The Python’ (A Píton)! Píton foi uma terrível serpente gigantesca que presidia o oráculo de Delfos antes do deus-sol Apolo matá-la e tomar para si o templo do oráculo. Soa familiar? Se não, lembre-se que Swift afirmou ter escrito ‘Daylight’ (do álbum ‘Lover’) como um símbolo da luz do sol que dissipa as trevas e os medos da noite – representada pela era ‘reputation’ na sua vida. Assim como Apolo matou Píton, a era Lover veio para destruir as dores e as mágoas da era reputation.
Para finalizar a lista de referências do clipe de willow, vamos à mais majestosa de todas: nunca pensei que veria uma celebração de Sabbath (Figura 5) em um clipe da Taylor, mas novamente ela me surpreendeu! Como a própria já explicou, ao passo que o ‘folklore’ representou a primavera e o verão, o ‘evermore’ veio para completar o ciclo e dissertar sobre o outono e o inverno. A cena sobre a qual falaremos, de fato, acontece em meio à neve invernal. Apesar de hoje em dia muitos de nós sequer prestarmos atenção à passagem das estações, essa era uma prática comum e sagrada para muitos povos antigos – a sobrevivência deles dependia de saber a hora certa de semear, regar, colher e sacrificar.
Fazer rituais que celebrassem a passagem das estações era a forma dos povos antigos se conectarem ao sagrado da natureza, e um dos festivais mais bonitos e importantes era o de Yule, o solstício de inverno no calendário dos povos celtas (Figura 6). No hemisfério norte, essa data ocorre por volta de 21 de dezembro e marca o dia mais curto e a noite mais longa do ano. É o ponto do calendário a partir do qual as horas do dia vão começar a aumentar, e as horas da noite, a diminuir. É o momento em que, apesar da escuridão típica do inverno, a luz triunfa e começa a crescer a partir de então, trazendo calor e vida para a terra.
O paralelo entre esta celebração celta e a vida da TayTay é inegável. Foi durante a era reputation, seu momento mais difícil, delicado e sombrio, que ela se conectou com Joe Alwyn, seu atual namorado, cuja beleza e personalidade são frequentemente referenciadas como ‘ouro’ ou ‘luz do sol’ desde a era ‘Lover’. Foi em seu momento mais escuro que ela viu a luz nascer mais forte.
2 – o triângulo amoroso entre Betty, James e Augustine
Sim, depois do Long Pond Studio Sessions, todos estamos cientes de que Betty e James tiveram um final feliz juntos (na mente da TayTay). E também refletimos sobre Augusta/Augustine não ser, necessariamente, a vilã da estória. É exatamente pelo fato de um triângulo amoroso ser uma experiência humana tão comum e poderosa que ela é explorada em tantas estórias – a maioria das tramas românticas atuais é sempre sobre uma mulher que é amada/ama dois homens ou um homem que é amado/ama duas mulheres. Portanto, obviamente esse tipo de conflito está retratado em um dos maiores símbolos da magia e do ocultismo conhecidos atualmente: o Tarot!
De forma sucinta, o Tarot vai muito além da “previsão do futuro”: suas cartas são, principalmente, instrumentos de autoconhecimento e retratos da evolução humana. É precisamente por isso que um triângulo amoroso está retratado no Tarot (Figura 7): o poder do conflito e da indecisão é a força motriz para a evolução do indivíduo.
Eu, particularmente, enxergo na Figura 7, da esquerda para a direita: Augusta/Augustine, James e Betty. Examinemos cada personagem sob essa perspectiva: a primeira mulher (Augusta/Augustine) tem um olhar muito firme e decidido, quase como se estivesse dizendo em alto e bom tom “meet me behind the mall” ou “get in the car”. A mão sobre o ombro de James e a outra mão em gesto convidativo sugere que ela dá um conselho ou sussurra (‘whispers’) uma pergunta bem sugestiva a James, talvez por conhecer pensamentos/sentimentos dele que são desconhecidos por Betty. Ouvir um “James, get in, let’s drive” nunca foi tão tentador.
A segunda mulher, Betty, coincidentemente lembra muito nossa Taylor no clipe de “cardigan” pelas madeixas loiras e pelo rosto inocente e bondoso tocando o peito de James com a mesma doçura com que toca o piano: o seu toque aponta para o coração de James. A carta, portanto, indica que, independentemente da maturidade e lascívia de Augusta/Augustine, o coração dele sempre pertencerá a Betty. Apesar de não vestir um cardigã, seu olhar gentil deixa claro que ela estará/estaria disposta a receber James após a traição, suspirando apenas um leve “I knew you’d miss me once the thrill expired”.
E, por último, temos James no meio. Veja que curioso: sua cabeça, com fantasias e devaneios, está voltada para Augusta/Augustine, enquanto o seu corpo, sua alma e seu coração estão indo em direção a Betty. Como foi dito antes, o conflito é essencial para o amadurecimento. E essa relação é precisamente sobre o que fala esta carta do Tarot! No fim das contas, James amadureceu ao ponto de ser capaz de pedir desculpas e reconquistar Betty. Além disso, admitir que você conhece pouco ou nada (“I’m Only seventeen, I don’t know anything”) é uma fase do amadurecimento e do autoconhecimento.
3 – a mitologia grega em ‘champagne problems‘
“your midas touch in the chevy door”
(Seu toque de Midas na porta do carro)
Essa referência é, provavelmente, a mais conhecida, dada a fama de Midas, rei da Frígia no mitos gregos. Ele teve um desejo concedido pelo deus Dioniso: tudo o que tocasse viraria ouro. À primeira vista, uma benção de grande fortuna, logo seu desejo se mostrou uma verdadeira maldição autoimposta: as flores que tocava tornavam-se ouro, portanto perdiam o perfume; os alimentos que ingeria tornavam-se ouro, portanto perdiam o sabor; por fim, até mesmo sua filha, que o abraçou, tornou-se uma estátua dourada sem vida (Figura 8).
Para mim, esta passagem da música é o que torna a faixa 2 do ‘evermore’ uma das mais tristes e fortes: o ouro e a cor dourada, normalmente associados a felicidade e triunfo nas letras da Taylor toma um viés triste e cruel, pois sugere que algo bom e promissor foi arruinado, transformado em uma memória triste e trágica. Isso vai ao encontro do que já sabemos sobre a estória da música: o encontro de dois jovens, em que um queria fazer o pedido de casamento, enquanto a outra queria acabar com o relacionamento.
“she’ll patch up your tapestry that I shred”
(Ela vai costurar a sua tapeçaria que eu rasguei)
Dando continuidade à estória de Champagne Problems, a narradora mostra a sua esperança de que uma nova mulher faça feliz o seu ex-amado, fazendo uma referência sutil ao mito de Penélope, esposa de Ulisses (Figura 9). Este foi um guerreiro vitorioso na Guerra de Troia: enquanto esteve fora de casa, sua esposa Penélope manteve-se firme e fiel, esperando muitos anos pelo retorno do seu marido.
Acontece que, enquanto Ulisses não chegava, Penélope foi instigada por seu pai a casar-se novamente. Para não o desagradar, e ainda assim manter-se fiel ao seu amado Ulisses, Penélope impôs a condição de que se casaria novamente assim que terminasse de tecer uma tapeçaria (tapestry). Assim, durante o dia Penélope tecia a tapeçaria, mas todas as noites, ela desfazia o trabalho do dia anterior, sempre ganhando tempo para esperar por Ulisses. O ato de “desfazer a tapeçaria”, portanto, dramatiza o quanto a narradora não queria casar-se com o seu ex-amado.
4 – “now you hang from my lips like the Gardens of Babylon”
Já sabemos que a faixa “Cowboy Like Me” do Evermore fala sobre dois artistas pobres em busca de um amante rico, mas que acabam se apaixonando. É curioso pensar que aquilo que trouxe felicidade aos dois artistas foi exatamente o que eles nunca buscaram (e talvez até evitaram!) – never wanted love, just a fancy car. Quando a narradora descreve o início do relacionamento dos dois com “agora você está suspenso em meus lábios como os Jardins (Suspensos) da Babilônia” (Figura 8), ela compara o seu amor com uma das 7 Maravilhas do Mundo Antigo, especificamente a única das sete cuja existência é duvidosa! O amor da narradora é algo grande, bonito, digno de lendas, mitos (e fofocas!) através dos anos, mas, ao mesmo tempo, é real? No âmago dos dois corações, o sentimento é verdadeiro? Acredito que Swift é tão aclamada por sua habilidade de escrever músicas exatamente por ser capaz de capturar em pequenas expressões as sutilezas de tantos sentimentos fortes e conflituosos, tênues e grandiosos ao mesmo tempo.
5 – ‘illicit affairs’ & ‘ivy‘
Tanto no Folklore quanto no Evermore, Taylor aborda o tema infidelidade, sob vários ângulos. Nas músicas “august”, “cardigan” e “betty”, esse tema é explorado dentro de um contexto escolar e juvenil, mas em “illicit affais” e “ivy” a infidelidade é tratada de forma mais madura, talvez com a seriedade que acompanha a vida adulta. Na verdade, em “illicit affairs”, o conflito não necessariamente advém de uma traição conjugal – pode referir-se a um relacionamento que não é socialmente aprovado por quaisquer motivos. Como era de se esperar, essa temática também aparece frequentemente na literatura mitológica, especialmente nos mitos gregos.
O deus grego do fogo e da forja, Hefesto, era apaixonado por Afrodite, mas sendo feio e manco, jamais caiu nas graças da deusa mais bela. Assim, Hefesto, traiçoeiro como o fogo, armou um ardil para que Afrodite lhe fosse presenteada por Zeus (detalhes do plano de Hefesto para tomar Afrodite estão fora do propósito deste texto). E assim Afrodite tornou-se sua mulher, completamente a contragosto. Quem realmente lhe cativava o desejo era o belo deus da guerra, Ares, com quem Afrodite teve um longo caso. De forma semelhante ao cenário retratado em “illicit affairs” e “ivy”, os dois sempre se encontravam enquanto Hefesto estava fora, trabalhando na forja.
“What would he do if he found us out?” – o que ele faria se nos descobrisse? Bom, quando o deus Hélios contou a Hefesto sobre a traição de sua esposa, este ficou furioso e preparou uma rede mágica para aprisionar os dois amantes. E assim o fez (Figura 11), fazendo questão de convidar todos os deuses para testemunharem a humilhação do casal. Apesar de proibidos de se encontrarem novamente, Afrodite e Ares nunca deixaram de se amar às escondidas. Talvez o caso ilícito entre os dois deuses seja, no fundo, um retrato da associação sórdida entre o amor e a guerra.
6 – o conto mitológico de Dorothea e ‘till this the damn season‘
As faixas 4 e 8 do Evermore falam sobre pontos de vista diferentes de uma mesma situação: uma mulher poderosa que vem visitar o seu amado durante as festas de fim de ano, somente para deixá-lo depois que essa época acaba. Aqui, a referência mais clara é ao mito do Rapto de Perséfone e ao nascimento das 4 estações (seasons) do ano. Como essa é uma das estórias gregas mais significativas e já estamos chegando ao fim dessa lista, vou tentar descrever o mito da forma mais sucinta possível.
Perséfone, deusa associada às flores, ervas e ao perfume dos campos, era filha de Deméter, deusa da fertilidade da terra, e Zeus, o deus supremo do Olimpo. Perséfone era uma bela jovem cuja beleza encantou até mesmo seu tio, Hades, o deus do mundo dos mortos. Eventualmente, ele raptou Perséfone enquanto esta colhia flores e a levou para os seus domínios infernais (Figura 12).
Longe de ser um vilão, Hades estava apenas apaixonado pela jovem deusa. No reino dos mortos, ele ofereceu a Perséfone uma romã, na intenção de tê-la para sempre ao seu lado – quem come qualquer fruto do reino dos mortos deve ficar lá pela eternidade. Assim ocorreu, e Perséfone juntou-se com Hades em uma das uniões mais felizes e tranquilas da mitologia grega. Ela não era mais uma jovem inocente, mas sim a própria Rainha do Submundo.
Entrementes, Deméter estava desolada por não saber onde Perséfone estava. A mãe caminhou por toda a Terra à procura da filha, mas nada encontrou. Quanto maior a sua tristeza pela perda da filha, mais a terra ficava seca, gelada e infértil. Eventualmente, Deméter soube que sua filha havia sido sequestrada por Hades, ficando revoltada e indo tirar satisfações com o próprio Zeus por ter permitido tal atrocidade.
Ao ser confrontado por Deméter, Zeus explicou que nada poderia fazer, pois Perséfone já havia provado o fruto do Submundo, então estaria eternamente ligada a ele. O que pôde ser feito foi um acordo entre Deméter e Hades: Perséfone passaria metade do ano com sua mãe, e a outra metade, com seu amado. Assim, nasceram as estações do ano – quando o verão acaba, e o outono começa, Perséfone encaminha-se para a morada infernal de Hades, levando embora consigo toda a beleza da terra e dos campos. Já quando o inverno acaba, e começa a primavera, ela volta para sua mãe Deméter, que se alegra, devolvendo a vida e a fertilidade da natureza.
As faixas 4 e 8 do Evermore lidam com o mesmo tipo de conflito: o prazer de voltar à sua terra natal e reencontrar um amor antigo (ou um parente muito querido) com quem você tem uma conexão forte e verdadeira, embora temporária, pois você sabe que em breve terá que voltar à rotina anterior, em outro lugar distante. O mito de Hades-Perséfone-Deméter alude ao ciclo da vida: a semente que precisa ir às trevas do subsolo para germinar, crescer, florescer, gerar frutos e novas sementes que irão continuar o ciclo ao longo das estações. É particularmente lindo ver a Taylor desenvolver músicas que fazem paralelo com essa narrativa mítica.
7. “one single thread of gold tied me to you”
Para finalizar a jornada mitológica através da era Folklore/Evermore, vamos falar de uma das músicas mais bonitas já escritas pela Taylor, cujo conceito ela empregou no videoclipe de “willow”: invisible string. No Long Pond Studio Sessions, TayTay explica que a inspiração para a faixa 11 (1 + 1 = 1——–1!) do Folklore foi o conceito de destino, e como cada passo que você dá te leva exatamente em direção ao lugar onde você deveria estar, apesar dos obstáculos e percalços no caminho.
Dificuldades no caminho são algo que Taylor entende bem – o diagnóstico de câncer da sua mãe no início da sua carreira, a constante pressão midiática sobre sua vida íntima e todo o caos que foi a era reputation, para citar apenas os principais. Apesar de todos os percalços, que com certeza a fizeram sentir-se perdida em muitos momentos, ela seguiu em frente cada vez mais forte – hell was the journey, but it brought me heaven. É impossível não associar essa jornada turbulenta a um labirinto – cheio de demônios, becos sem saída, wrong arms e caminhos sem fim. Coincidentemente, há um mito grego que fala exatamente sobre isso: o fio de Ariadne (Figura 13).
De forma sucinta, Teseu foi o heroi grego enviado à ilha de Creta para matar o Minotauro, monstro metade touro metade homem que vivia em um labirinto. Ariadne era a filha do rei Minos, portanto princesa de Creta. Ela apaixonou-se por Teseu e, para garantir o retorno de seu amado, lhe deu um novelo (dourado? rs) antes deste entrar no labirinto para procurar o Minotauro. Uma das pontas do fio ficou com Ariadne, na entrada, enquanto o restante do novelo foi levado por Teseu ao longo do labirinto, de forma que este só precisaria seguir o fio para voltar à sua amada. Após vencer o monstro, foi isso que Teseu fez, saindo do labirinto e partindo de Creta com sua amada Ariadne.
Até hoje, o mito do fio de Ariadne é usado como metáfora para simbolizar a lógica, o caminho correto, o racional através dos labirintos da vida. Novamente, independentemente de Taylor ter pensado nesse mito ou não para compor a música, a semelhança das duas estórias é emocionante. Depois de ter atravessado um longo labirinto cheio de inimigos e traições, Taylor encontrou a felicidade plena, e todos torcemos para que isso se mantenha assim.
Para mim, além de Artista da Década, Taylor Swift é uma inspiração. Essa quantidade de referências somente nos últimos dois álbuns – muitas delas provavelmente não-intencionais – só mostra que cada época tem os poetas e as lendas que merece, porque a sociedade humana precisa disso: os mitos são chaves emocionais para acessarmos conhecimentos e sabedoria ancestrais através de deuses ou herois. A Antiguidade Clássica teve Homero e Hesíodo para contar estórias inspiradoras e mágicas. Nós, igualmente sortudos, temos a nossa loirinha querida.
Texto por Artur Hermano
Contato: @artie_93 (instagram) / artur.hermano@hotmail.com (e-mail)
Campinas, 21 de janeiro de 2021
Referências: