A angústia fantasmagórica ao sentir falta de alguém antes que você o encontre é uma emoção digna como a própria palavra já diz. Esse sentimento de amor predestinado e a passagem do tempo é um tema recorrente no grande sucesso de Carly Rae Jepsen, “Call Me Maybe”, e no romance anti-social do The National, “Slow Show”; é também o tipo de coisa que Taylor Swift pode escrever. Uma das faixas mais adoráveis do folklore, o álbum surpresa que a cantora e compositora fez principalmente com o guitarrista do The National, Aaron Dessner, se destaca por um motivo muito semelhante: um fio que liga dois estranhos, que existe muito antes de eles perceberem que está lá. “E não é tão bonito pensar / Que o tempo todo houve / Uma corda invisível / Amarrando você a mim”, ela canta na deliciosa e atrevida “invisible string”, que também lembra versos famosos de Jane Eyre e The Sun Also Rises.

folklore será para sempre conhecido como o álbum “indie” de Taylor Swift, um disco sweater-weather fantasioso, lançado no calor azul deste verão solitário, cheio de canções de amor cinematográficas que soam como uma trilha sonora de filme. Há quem já não goste do folklore de primeira, assumindo que é outra tentativa calculada da carreira de Swift (como ela ousa?); Enquanto isso, os fãs consideram isso uma prova real de que sua ídola pode fazer praticamente qualquer coisa (em qualquer direção). Embora seja verdade que o folklore saia dos limites do som de Swift em uma particular, talvez inesperada, direção, seus pontos de referência parecem mais uma homenagem ao “indie” mainstream do que uma inovação, seguindo pistas do trabalho de seus colaboradores e de um pouco de nostalgia.

Em sua melhor parte, folklore afirma algo que é verdade desde o início da carreira de Swift: sua maior força é sua narrativa, seu elaborado e bem feito trabalho de composição, que encontra a fantasia vívida de sua imaginação; as músicas que trazem essas histórias estão sujeitas a mudanças, mas elas sempre trazem essas tradições. Pode-se dizer que é isso que leva a maneira que Swift molda suas músicas: colocando detalhes específicos em sequências curiosas, dobrando as linhas conforme sua vontade. É especialmente aparente no folklore, em que a produção – principalmente de Dessner, com a mistura ocasional do toque pop de Jack Antonoff – é menor do que ela costuma usar. Suas palavras se elevam acima dos pianos esparsos, das guitarras temperamentais e da orquestração arrebatadora, tão notáveis como sempre.

Depois de anos como a ensaísta em primeira pessoa mais segura do pop, Swift coloca seu estilo distinto no que são essencialmente obras de ficção e autoficção, encontrando protagonistas convincentes em uma herdeira rebelde e em um triângulo amoroso clássico da adolescência. Na faixa “the last great american dynasty”, ela conta a história da excêntrica Rebekah Harkness, que se casou com um membro da família Standard Oil e que já morou na mansão de Swift em Rhode Island, como uma maneira de celebrar as mulheres que “se divertem arruinando tudo”. Cheia de detalhes históricos e imagens americanas, você pode ver a música tocando em sua mente como um livro de histórias, mas que também efetivamente faz questão de falar sobre o tratamento que a sociedade dá para mulheres intensas. Swift inteligentemente traça uma linha entre Harkness e ela mesma no final, uma ideia que ela coloca em uma sequência mais pontual em “mad woman”. De todas as músicas do folklore, “the last great american dynasty” é a melhor, o clássico instantâneo. Soa como um mashup altual do The National com Taylor, que você nunca soube que precisava até então – textural e com um tremendo bom gosto, incluindo frases no estilo de Fitzgerald sobre encher a piscina com champanhe em vez de beber todo o vinho.

Com o trio adolescente do folklore, Swift trata do mesmo affair de diferentes visões. “Betty” é a história de James, de 17 anos, tentando reconquistar sua namorada depois de a trair, um crime conhecido como novo pelo genuíno arrependimento do narrador e pela crença de um amor recuperado. Ele tem a esperança jovem de uma música como “Wide Open Spaces”, mas a canção é notavelmente mais sábia (e mais queer) do que os romances de ensino médio que Swift escreveu na adolescência. O primeiro single “cardigan” é contado por Betty, cuja desilusão com James resulta em um som triste e sensual que lembra Lana Del Rey, desde o estilo vocal até a citação lírica casual de outra música pop. Mas os detalhes colocados na música e a forma de enquadramento central – de um cardigã esquecido e encontrado impulsivamente – são totalmente Swift. É uma memória instantânea que não é diferente do cachecol citado em “All Too Well”, no álbum Red. (O marketing fofo feito para “cardigan” também é muito Swiftian). E mesmo que “august” seja considerada “o terceiro” da trilogia, a história de amor açucarada mais delicada do álbum se desenrola durante “illicit affairs”. “Você me ensinou uma língua secreta que não posso falar com mais ninguém”, ela canta. “E você sabe muito bem que eu me arruinaria”. As cenas e perspectivas mostradas nessas músicas falam por si só a respeito da evolução de Swift como compositora.

O tema do folklore é uma maneira muito diferente de saber que as pessoas irão falar sobre, uma ideia que marcou Reputation (2017), trabalho com um tom de vilania e uma influência trap. Swift conhece sua própria mitologia como uma modelo conhece seus melhores ângulos, e isso é uma parte do que torna o folklore fascinante se você estiver de mente aberta: um tipo de projeto “mindie” de engenharia reversa, que sonoramente a coloca mais perto de Lana e do pop de câmera de Florence Welch, mas também pode ocasionalmente lembrá-lo da rádio Triple-A, de Sufjan Stevens, se ele tivesse matado suas tendências mais ambiciosas, ou até de Big Red Machine, a dupla de Dessner com Justin Vernon (como na escassa e comovente “peace”). O único dueto do álbum com Vernon, “exile”, soa um pouco como uma versão do Bon Iver de “Falling Slowly”, a faixa central do disco folk de 2007 Once: se arrasta desajeitadamente até que as nuvens se separam e permitem que algo bonito seja mostrado. Swift está num jogo longo aqui e, embora não haja erros, o álbum poderia ter alguns cortes (“seven”, “hoax”).

É importante ressaltar que folklore não é algo que destoa totalmente da discografia de Swift, nem mesmo de seu trabalho mais recente. As faixas com Antonoff se afastam do electro-pop dos anos 80 de 1989 para frente, mas elas tendem para o amor de Mazzy Star na faixa-título de Lover e para o fascínio contínuo de Swift por Imogen Heap e uma pontada de Cranberries. Há imagens interessantes, ganchos resistentes e sinais reais de maturidade. Na sonhadora “mirrorball”, Swift compara as conhecidas armadilhas de uma relação a uma bola de discoteca, cantando como se estivesse na ponta dos pés e se esforçando muito para fazê-la parecer sem esforço. “august” é um hino poderoso de verão de Swift, sobre o amor proibido, no qual o brilho de músicas íntimas como “Style” ou “Getaway Car” é trocado por reflexões melancólicas no retrovisor. Como todos nós, Taylor Swift sabe que já teve verões melhores antes e que terá verões melhores novamente. Pelo menos ela fez um uso cuidadoso deste.

Nota: 8.0

Resenha publicada pela Pitchfork e traduzida pela Equipe TSBR.





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