Taylor Swift chegou cedo no escritório do Paul McCartney em Londres em Outubro, “máscara no rosto, transbordando de emoção”. “Eu tenho trabalhado de casa nesses dias”, ela escreve sobre aquele dia, “e hoje eu me sinto como aquela rara excursão da escola que você realmente quer ir”.

Taylor apareceu sem sua equipe, com o cabelo e maquiagem feitos por ela mesma. Além de serem os dois compositores do pop mais famosos do mundo, Swift e McCartney passaram o último ano com jornadas similares. McCartney, isolado em casa em Londres, gravou McCartney III. Como em seu primeiro álbum solo, em 1970, ele tocou quase todos os instrumentos sozinhos, resultando em algumas de suas músicas mais ambiciosas por um bom período. Taylor também teve nova chances, escrevendo por e-mail com Aaron Dessner e gravando folklore, que abandona as arenas pop por completo em favor de valiosas músicas com personagens. É o álbum mais vendido de 2020.

Taylor ouviu o McCartney III enquanto ela se preparava para a conversa de hoje; McCartney mergulhou no folklore. Antes da sessão de fotos, Swift se juntou com as filhas de McCartney, Mary, que seria responsável por fotografar eles, e Stella, que desenhou as roupas de Taylor (as duas são amigas próximas). “Eu estive com Paul algumas vezes, a maioria em palcos em festas, mas vamos chegar nesse assunto depois”, Swift escreve. “Em breve ele chega com sua esposa, Nancy. Eles são um casal alegre e divertido, e imediatamente sinto que esse dia vai ser um bom dia. Durante a sessão de fotos, Paul dança e não leva quase nada muito a sério e canta junto com as músicas de Motown que está de trilha sonora. Algum tempo depois, Mary o repreende, “Paaai, tenta ficar parado!” e parece como uma janela com uma vista para uma linda e incrível dinâmica familiar. Entramos em seu escritório para conversar, e depois de eu fazer um pedido tensa, Paul é gentil o suficiente para escrever a mão uma parte de minha música preferida dele e assinar. Ele faz uma piada sobre eu vender, e eu dou risada porque é algo que eu vou prezar pelo resto da minha vida. E foi aí o momento que começamos a falar sobre música.

Taylor Swift: Eu acho que é importante lembrar que se esse ano tivesse acontecido como a gente achou que seria, eu e você teríamos tocado em Glastonbury mas, em vez disso nós dois criamos álbuns durante o isolamento social. 

Paul McCartney: É mesmo!

Swift: Eu lembro de pensar que teria sido muito divertido [tocar em Glastonbury com Paul] porque as vezes que eu encontrei com você, estão relacionadas com as melhores noites da minha vida. Eu estava em uma festa contigo e todo mundo comecou a tocar. O David Grohl estava tocando e você…. 

McCartney: Você estava tocando uma das músicas dele, não estava?

Swift: Sim, eu estava tocando a música dele que se chama “Best Of You”, mas eu estava tocando no piano e ele não reconheceu até que eu estivesse mais ou menos na metade. Eu lembro de pensar “Seria você a catálise dos momentos mais divertidos?” Será que é sua disponibilidade de levantar e tocar música que faz todo mundo sentir como se isso fosse algo possível de acontecer naquela noite? 

McCartney: Olha, acho que é um pouco de tudo, não é? Vou te contar quem estava… Reese Witherspoon estava tipo “você vai cantar?” e eu disse “Ah, não sei” e ela respondeu “você tem que cantar!” meio que mandando em mim, então eu disse “uau” e foi isso.

Swift: Eu amo esse tipo de pessoa, porque a festa não se torna musical sem essa pessoa.

McCartney: Verdade.

Swift: Se ninguém pergunta:  “vocês podem tocar?”, ninguém vai se convidar para subir no palco de qualquer festa em casa que está acontecendo.

McCartney: Eu lembro de ver o Woody Harrelson no piano, e ele começou a tocar “Let It Be” e eu pensava “eu posso fazer melhor que isso” então eu disse “Vai, dá espaço, Woody” e nós dois tocamos juntos. Foi bem legal… eu amo pessoas como Dan Aykroyd, que é cheio de energia e ama tanto a música dele, mas ele não é necessariamente um musicista e por isso ele anda pelo ambiente estimulando as pessoas dizendo “você tem que levantar e fazer alguma coisa”.

Swift: Eu escutei seu novo álbum. Eu amei muitas coisas sobre ele mas me pareceu muito escrever, produzir e tocar todos os instrumentos de todas as faixas. Para mim, isso é como flexionar um músculo dizendo “eu posso fazer isso tudo sozinho se for necessário”

McCartney: Bom, eu admito que não pensei assim. Eu só aprendi esses instrumentos ao longo dos anos. A gente tinha um piano em casa que meu pai tocava, então mexi um pouco com isso. Eu escrevi a melodia de “When I’m 64” quando eu era adolescente. 

Swift: Uau.

Paul McCartney e Taylor, fotografados em Londres no dia 6 de outubro de 2020

McCartney: Quando os Beatles foram tocar em Hamburgo, sempre tinha uns kits de bateria pra lá e pra cá, então quando eu ficava livre eu falava “Você se importa se eu tocar um pouco?” Então eu podia praticar, sabe, sem praticar. É por isso que toco com a mão direita. Guitarra foi o primeiro instrumento que toquei. Da guitarra foi pro baixo; que foi pro ukulele, mandolin. Então de repente foi “Uau!”, mas na verdade são só dois ou três instrumentos.

Swift: Bem, eu acho que você está se subestimando um pouco. Na minha cabeça, veio uma ideia de estar no interior, absorvendo a ideia de qualidade de faça-você-mesmo que tivemos que ter durante a quarentena e essa pandemia. Eu descobri que consegui adaptar a mentalidade de faça-você-mesmo para muitas coisas da minha carreira que eu terceirizava. Eu me pergunto como seria um dia de gravações pra você, durante a pandemia. 

McCartney: Bem, eu tenho sorte porque tem um estúdio a 20 minutos da minha casa. Nós estávamos reclusos em uma fazenda, uma fazenda de ovelhas, com minha filha Mary, seus quatro filhos e seu marido. Então eu estava com meus quatro netos, eu tinha a Mary, que é uma ótima cozinheira, então eu ia até o estúdio. E tinha outros dois caras que podiam vir e tivemos todo o cuidado com o distanciamento: meu engenheiro Steve, e meu técnico de instrumentos Keith.

Então nós três fizemos o álbum, e eu apenas comecei. Eu tinha que fazer um pouco de música para filme – eu tinha que fazer um instrumental para um filme – então eu fiz aquilo- e continuei fazendo, e se tornou a primeira faixa do álbum. Eu chegava e dizia “Ok, o que vamos fazer?” Então tinha alguma ideia e começava a trabalhar nela. Normalmente eu começo com o instrumento que usei para compor a música, piano ou violão, e então acrescentar um pouco de bateria e baixo até começar a soar como uma gravação, e então gradualmente adicionando as camadas. Foi divertido.

Swift: Isso é muito legal.

“Eu sempre pensava, ‘Isso nunca vai funcionar para as rádios pop,’ mas quando eu estava fazendo o ‘Folklore,’ eu pensei: ‘Nada mais faz sentido,” disse Taylor. “Se estamos no caos em todos os lugares, por que não usar a porcaria da palavra que eu quero na música?’”

McCartney: E o seu álbum? Você toca violão e piano no seu.

Swift: Sim, em algumas delas, mas muito foi feito pelo Aaron Dessner, que toca numa banda chamada The National que eu adoro. Eu o conheci em um show no ano passado e nós conversamos, perguntei como ele escrevia suas músicas. É minha coisa preferida de perguntar para as pessoas que sou fã. E eu tive uma resposta interessante. Ele disse: “Todos os membros da banda moram em partes diferentes do mundo. Então eu faço as melodias. Mando elas pra o nosso vocalista, Matt, e ele escreve a base da letra”. Eu me lembro de pensar: “Isso é muito eficiente na questão do tempo”. E armazenei aquela ideia na minha cabeça para um projeto futuro. Sabe? Quando você tem esse tipo de ideia… “Talvez no futuro eu faça isso também” Eu sempre tive na minha mente: “Talvez um dia no futuro eu trabalhe com o Aaron Dessner.” 

Então quando a quarentena chegou, eu estava em LA, e meio que ficamos presos lá. Não é um lugar horrível de ficar recluso. Ficamos por lá durante cerca de quarto meses e nesse período eu mandei um e-mail pro Aaron Dessner e disse “Você acha que gostaria de trabalhar nesse momento? Porque meu cérebro está muito confuso e eu preciso fazer algo, mesmo que façamos músicas sem saber o que vai ser depois.” 

McCartney:  Sim, foi bem isso. Você podia fazer coisas – sem a preocupação de que fosse se transformar em algo.

Swift: Sim, e acabou que ele estava fazendo faixas instrumentais para evitar que ficasse louco durante a pandemia também, então ele me mandou essa pasta com cerca de 30 instrumentais, e a primeira que eu abri acabou virando uma música chamada “Cardigan” e tudo aconteceu muito rápido. Ele me mandava uma faixa; fazia faixas novas, adicionava à pasta; eu compunha a letra de uma música, e ele não sabia sobre o que ela seria, qual seria o título, onde eu colocaria o refrão. Eu pensava “Talvez eu faça um álbum pro próximo ano, lançando em Janeiro ou algo assim, mas acabou sendo feito e lançamos em Julho. E eu pensei que não teriam mais regras, porque estava acostumada a ter parâmetros do tipo “Como essa música vai soar em um estádio?” “Como essa música vai soar numa rádio?” Se Você excluir todos os parâmetros, o que você tem? Eu acho que a resposta é o folklore. 

McCartney:  E é mais música para você mesmo do que o que você faz pra seu trabalho. Comigo foi parecido com isso. Depois de ter feito umas faixas para um filme, eu tinha muita coisa que estava trabalhando, mas disse: “Bem, eu estou indo pra casa agora” e isso ficaria pela metade. Então comecei a dizer “E isso? Eu nunca finalizei isso”. Juntamos tudo e pensamos que poderia fazer algo bom. E pelo fato de que não precisava se transformar em nada específico eu falava “Eu quero muito fazer camadas de som mais pesadas, e acrescentar aqui,  não me importo se combinam com essa música. Só estou tentando fazer coisas que gosto.

Eu não tinha ideia que ia acabar entrando em um álbum. Eu devo ter sido um pouco menos indulgente, mas se uma faixa acabava tendo oito minutos eu pensava: “Vou levá-la pra casa, a Mary vai cozinhar, todos os meus netos estarão lá correndo, e alguém, talvez o Simon, seu marido, vai dizer ‘O que você fez hoje?’ E eu vou mostrar a música do meu telefone pra eles”. Então isso virou o ritual  

Swift:Essa é a coisa mais reconfortante que eu já ouvi. 

McCartney:  Bem, tem cerca de oito minutos e pensei; “Eu odeio quando eu estou tocando algo pra alguém e aquilo acaba depois de três minutos”. Eu gosto quando tem continuação.

Swift: Você quer ficar no momento.

McCartney: E continuava acontecendo. Eu chegava em casa, “O que você fez hoje?” “Bem, eu fiz isso, estou trabalhando naquilo” ou “Nós finalizamos isso.”

Swift: Eu estava me perguntando sobre o elemento de numerologia no McCartney III. McCartney I, II, e III todos vieram em anos que terminam com zeros.

McCartney: Finais de décadas.

Swift: Isso foi importante? 

McCartney: Sim, isso estava sendo feito em 2020 mas eu não estava pensando muito. Acho que todo mundo esperava ótimas coisas de 2020. “Vai ser ótimo! Olha esse número! 2020! Propício!” E então a COVID veio e foi tipo “Isso vai ser propício, mas para as piores razões”. E então alguém me disse: “Você lançou o McCartney logo após a ruptura dos Beatles, em 1970, e depois o McCartney II em 1980”. E eu pensei: “Bem, vou lançar isso em 2020 só pelo que vocês dizem, a numerologia….”

Swift: A numerologia, o que parece ser, o simbolismo. Eu amo números. Números meio que dominam meu mundo. Os números 13 … 89 é um grande. Eu tenho mais alguns que eu acho…

McCartney: Treze é sorte para alguns.

Swift: Sim, pra mim ele é da sorte. É meu aniversário. Também muitas  boas coincidências aconteceram. Hoje em dia, quando vejo nos lugares eu interpreto como um sinal de que as coisas estão acontecendo como devem. Elas podem não ser boas no momento, podem ser dolorosas, mas estão encaminhadas. Não sei, amo numerologia. 

McCartney: Chega ser assustador, Taylor. Mas pera aí, de onde você tirou 89?

Swift: É quando eu nasci, e eu vejo em diferentes lugares então acho que é…

McCartney: Não, é bom. Eu gosto disso, quando você se prende a certas coisas e tem um sentimento bom em relação a elas. Acho ótimo.

Swift: Sim, um dos meus artistas preferidos, Bon Iver, ele tem uma relação com o número 22. Mas eu também estava me perguntando: Você sempre buscou fazer parte de uma banda ou um ambiente comunitário como os Beatles e Wings e então Egypt Station. Eu pensei que foi interessante quando percebi que você fez um álbum sem mais ninguém. Isso fez com que você se sentisse de forma natural? 

McCartney: É uma das coisas que eu fiz. Com o McCartney, com a ruptura dos Beatles, não tinha outra alternativa além de pegar uma bateria, uma guitarra, um amplificador, um baixo e fazer algo pra mim mesmo. Então, naquele álbum, que eu não esperava que fosse muito bem. Eu não acho que fui muito bem. Algumas pessoas dizem “eu gosto daquele álbum. Foi um álbum bem casual”. Ele não precisava significar nada. Então eu fiz aquilo, toquei todos os instrumentos sozinho. Aí descobri sintetizadores e coisas assim, e sequências. Tinha alguns deles em casa. Eu pensei que ia apenas tocar um pouco e gravar, então virou o McCartney II.

Quando você está trabalhando com alguém, você também tem que se preocupar com suas variabilidades. Quando é consigo mesmo, você sabe. É uma coisa que eu comecei a gostar. Quando você começa a fazer, se torna meio viciante. Eu já fiz alguns álbuns sob o nome The Fireman.

Swift: Eu amo pseudônimos.

McCartney: Simples diversão! Mas vamos ser sinceros, você clama pela fama e atenção quando você é jovem. E eu lembrei outro dia, eu era o cara nos Beatles e escrevi pra jornalistas e dizia [falando em tom formal]: “Nós somos uma banda de rock semiprofissional, e eu acho que você se interessaria pela gente.. Nós escrevemos mais de 100 músicas (o que era uma mentira), eu e meu amigo John. Se você mencionar a gente no jornal…” Sabe, eu estava sempre desejando atenção. 

Swift: A agitação! É muito bom.

McCartney: Bem, sim, você precisa disso.

Swift: Sim, eu acho que um pseudônimo aparece quando você ainda ama trabalhar mas você não quer que o trabalho fique deslocado por essa coisa que foi construída ao seu redor, baseada no que as pessoas sabem de você. É nestes momentos que é muito divertido criar nomes falsos e compor com eles.

McCartney: Você já fez isso?

Swift: Oh, sim.

McCartney: Oh, sim? Oh, bem, não sabíamos disso! Isso é um fato muito conhecido?

Swift: Acho que é agora, mas não era. Escrevi com o nome de Nils Sjöberg porque esses são dois dos nomes mais populares de homens suecos. Eu escrevi uma música chamada “This Is What You Came For” que Rihanna acabou cantando. E ninguém soube por um tempo. Lembro de sempre ouvir isso quando Prince escreveu “Manic Monday”, eles não revelaram isso por alguns meses.

McCartney: Sim, também prova que você pode fazer algo sem o rótulo da fama. Eu fiz algo para Peter e Gordon; o irmão da minha namorada e o amigo dele estavam em uma banda chamada Peter e Gordon. E eu costumava escrever com o nome de Bernard Webb.

Swift: [rindo] Isso é bom! Eu amo isso.

McCartney: Como os americanos chamam, Ber-nard Webb. Eu também fiz isso no The Fireman. Trabalhei com um produtor, um cara chamado Youth, que é um cara muito legal. Nós nos demos muito bem. Ele fez uma mixagem para mim no início, e ficamos amigos. Eu simplesmente entrava no estúdio e ele dizia: “Ei, que tal esse ritmo?” e ele me fazia interagir com a batida. Ele dizia: “Você deveria colocar um pouco de baixo nela. Coloque um pouco de bateria nela”. Eu apenas passaria o dia inteiro acrescentando coisas nela. E nós faríamos essas faixas, e ninguém soube quem era The Fireman por um tempo. Devemos ter vendido todas as 15 cópias.

Swift: Emocionante, absolutamente emocionante.

McCartney: E nós não nos importamos, sabe?

Swift: Eu acho tão legal que você faz projetos que são apenas para você. Fui ver um show seu com a minha família em 2010 ou 2011 e o que me marcou do seu show é que foi a setlist mais altruísta que eu já vi. Era completamente pensado no que a gente ia adorar ouvir. Tinha as coisas novas, mas tinham todos os hits que queríamos ouvir, todas as músicas que já choramos ouvindo, as músicas que as pessoas tocam nos casamentos ou que ouviram enquanto estavam na sofrência. E eu lembro pensar “preciso lembrar disso”, que você tem que fazer a setlist para os fãs.

McCartney: E você faz isso?

Swift: Agora faço. Acho que aprender isso de você me ensinou durante um estágio muito importante na minha carreira que se as pessoas querem escutar “Love Story” e “Shake it Off”, e eu já as toquei 300 milhões de vezes, eu vou tocar pela  trecentésima milésima primeira vez. Acho que tem momentos da carreira para ser egoista, momentos para ser altruísta e as vezes isso se alinha.

McCartney: Eu lembro de ir em show quando era criança, muito antes dos Beatles, e eu torcia muito para tocarem as que eu amava. Se eles não tocassem, era meio decepcionante. Eu não tinha dinheiro e a família também não era rica. Então ir a shows era algo muito grande pra mim, tinha que guardar dinheiro por meses para conseguir pagar o ingresso.

Swift Sim, parece uma conexão. Parece que a pessoa no palco te deu algo, e isso faz com que você como público queira dar mais ainda em retorno, em termos de aplauso, dedicação. Eu me recordo de sentir aquela conexão no público e pensar; “Ele está lá tocando essas músicas dos Beatles, meu pai está chorando, minha mãe está tentando descobrir como fazer o telefone dela funcionar porque suas mãos estão tremendo muito”. Porque ver a animação correr não apenas por mim, mas pela minha família e da audiência em Nashville foi muito especial. Eu amo aprender lições e não tê-las que aprender da forma mais difícil. Aprender lições que eu realmente valorizo. 

“Constantemente eu sinto como se estivesse compondo para alguém que não está muito bem” McCartney explica. “Não de forma extremamente repensada, mas eu tento compor músicas que possam servir de ajuda. Eu acho que é esse o ângulo que eu quero, servir de inspiração”. 

McCartney: Bem, isso é ótimo, fico feliz que isso tenha a levado por esse caminho. Eu entendo pessoas que não querem fazer isso, “Ah, é um show de jukebox”. Eu entendo o que eles dizem. Mas fico achando que é um pouco de enganação, porque as pessoas que vem a nossos shows gastaram muito dinheiro. Nós podemos bancar ir a alguns shows, mas pro público geral é um grande evento na vida deles, então eu tento entregar. Eu também, como você disse, tento dar uma endoidada no palco. 

Swift: Essa é a melhor parte. Eu quero ouvir coisas atuais também, me atualizar sobre onde o artista está. Eu estava me perguntando sobre as letras, e onde você estava liricamente quando estava fazendo esse álbum. Porque quando eu estava fazendo o folklore, eu fui totalmente em uma direção de escapismo e romantismo lírico. E eu escrevi essas músicas imaginando que eu era uma mulher pioneira em um caso amoroso proibido [risadas]. Eu estava completamente…

McCartney: Foi sobre isso o trecho ‘Quero te dar uma criança’? Esse é um dos trechos?

Swift: Oh, essa é uma música chamada “Peace.”

McCartney: “Peace”, eu gosto dessa.

Swift: “Peace” na verdade é mais voltada para minha vida pessoal. Eu sei que você fez um trabalho realmente excelente na sua [vida pessoal] em termos de construir uma vida humana dentro da vida pública, e como pode ser assustador quando você se apaixona e encontra alguém, especialmente quando esse alguém leva a vida de um jeito tão normal. Muitas vezes eu, com minhas ansiedades, posso controlar como sou como pessoa e quão normalmente eu ajo e racionalizo as coisas, mas não posso controlar o fato de que tem 20 fotógrafos do lado de fora, nos arbustos, o que eles fazem e se vão seguir nosso carro e interromper nossas vidas. Eu não posso controlar se vai ou não haver uma manchete falsa e estranha sobre nós entre as notícias de amanhã.

McCartney: E aí o que acontece? Seu parceiro compreende isso? Tenta entender?

Swift: Ah, com certeza.

McCartney: Eles precisam entender, não é?

Swift: Mas eu acho que conhecendo ele e estando no relacionamento que eu estou agora, eu definitivamente sei que tomei decisões que tornaram minha vida mais real e menos como uma história a ser comentada em tablóides. Seja em relação a decidir onde viver, com quem sair, quando não tirar uma foto — a ideia de privacidade parece tão estranha para tentar explicar, mas é realmente sobre tentar encontrar pequenos pedaços de normalidade. É sobre isso que a música “Peace” fala. Tipo, seria suficiente se eu nunca conseguisse atingir completamente a normalidade que nós dois desejamos? Stella sempre me diz que ela teve uma infância tão normal quanto poderia esperar, dadas as circunstâncias.

McCartney: Sim, era muito importante pra nós tentar manter os pés deles no chão em meio a tanta loucura. 

Swift: Ela foi para uma escola comum…

McCartney: Sim, ela foi.

Swift: E você saía com eles no Halloween para pedir doces, disfarçados usando máscaras.

McCartney: Sim, todos eles foram. Era importante, mas funcionou muito bem, porque quando eles crescessem iriam conhecer outras crianças que poderiam ter ido para escolas particulares e serem um pouco menos ‘pés no chão’. E aí eles poderiam ser um exemplo pra essas crianças. Eu me lembro que Mary tinha um amigo, Orlando. Não o Bloom. Ela costumava dar conselhos de verdade pra ele. E é porque ela já tinha passado por aquilo. Obviamente, eles foram ‘zoados’, meus filhos. Eles entravam na sala e alguém cantava “Na na na na”, sabe, uma das músicas. E eles tiveram que lidar com aquilo, enfrentar.

Swift: Isso te causou ansiedade quando você teve filhos, quando você sentiu, tipo, ‘toda essa pressão em cima de mim está respingando neles, e eles nem tem culpa disso’? Isso foi difícil pra você?

McCartney: Sim, um pouco. Mas não era como é hoje. Sabe, nós estávamos apenas vivendo uma vida meio semi-hippie em que nos afastamos de muitas coisas. As crianças estavam fazendo coisas comuns, seus amigos de escola apareciam e eles faziam festas, então era ótimo. Eu me lembro de uma noite adorável de aniversário da Stella, ela trouxe várias crianças da escola. E sabe, eles só me ignoravam. Acontecia muito rápido. No início eles ficavam “Ah, sim, ele é um cara famoso”, e aí depois era tipo “???”. Eu gosto disso. Eu entro em outra sala e de repente escuto uma música. Uma das crianças, seu nome era Luke, estava dançando o break.

Swift: Ohhh!

McCartney: Ele era um ótimo dançarino de break, então todas as crianças estavam só curtindo ali. Isso os permitiu ser meio que normais com eles. E outra coisa: eu não vivo com luxos. Não mesmo. Às vezes é até um pouco constrangedor, se vem alguém me visitar, ou alguém que eu sei que…

Swift: Se importa com essas coisas?

McCartney: Que tem uma casa chique, grande, sabe? Quincy Jones veio me ver uma vez e eu estava fazendo um hambúrguer vegano pra ele ou algo assim. Eu estava cozinhando. Foi depois que eu perdi a Linda, nesse meio tempo. Mas o fato é, enquanto cozinhava eu estava conscientemente pensando, “Meu Deus, Quincy deve estar pensando, ‘O que esse cara está passando? Ele não deve estar fazendo nada de importante ultimamente. Essa definitivamente não é uma casa chique. E nós estamos comendo na cozinha! Ele não tem nem uma sala de jantar”, sabe?

Swift: Isso descreve um dia perfeito.

McCartney: Mas eu sou assim, estranho. É meu jeito. Talvez eu devesse ter uma casa grande e imponente. Talvez eu devesse ter uma grande equipe. Mas acho que não poderia fazer. Eu me sentiria tão envergonhado. Eu gostaria de andar pela casa vestido como eu quisesse, ou pelado, se quisesse.

Swift: Isso não pode acontecer em Downton Abbey.

McCartney: [Rindo] Exato.

Swift: Lembrei do que eu queria saber, que são as letras. Tipo, quando você está nesse estranho momento inigualável e está fazendo um álbum, a letra vem primeiro? Ou ela vem quando você já tem uma pequena ideia da melodia?

McCartney: Um pouco dos dois. Como sempre acontece comigo. Não há um jeito fixo. As pessoas costumavam perguntar para mim e para o John: “Bem, quem escreve a letra, quem faz a música?” Eu costumava dizer: “Nós dois fazemos as duas coisas”. Costumávamos dizer que não temos uma fórmula e não queremos uma. Porque no minuto em que conseguirmos uma fórmula, devemos jogá-la no lixo. Às vezes, como fiz com algumas músicas desse álbum, irei sentar no piano e começar a criar, e terei uma pequena ideia e começarei a desenvolver isso. Então, a letra – para mim, é seguir uma trilha. Vou começar [canta “Find My Way”, uma música de “McCartney III”]: “I can find my way. I know my left from right, da da da”. E eu vou apenas desenvolver isso. Tipo, nós conhecemos essa música, e estou tentando lembrar a letra. Às vezes, fico inspirado por algo. Eu tinha um pequeno livro sobre as constelações, as estrelas e as órbitas de Vênus e …

Swift: Oh, eu conheço essa música – “The Kiss of Venus”?

“Eu não vivo com luxos”, disse McCartney. “Não mesmo. Às vezes é até um pouco constrangedor, se vem alguém me visitar, ou alguém que eu sei que tem uma casa grande e legal”.

McCartney: Sim, “The Kiss of Venus”. E eu só pensei: “Essa é uma frase legal.” Então, na verdade, eu estava apenas pegando frases do livro, sons harmônicos. E o livro fala sobre a matemática do universo e como as coisas orbitam em torno das outras, e se você traça todo esse modelo, isso se torna tipo uma flor de lótus.

Swift: Uau

McCartney: É muito mágico.

Swift: Isso é mágico. Eu definitivamente me identifico com a necessidade de encontrar coisas mágicas nesta época nada mágica, a necessidade de ler mais livros e aprender a costurar e assistir a filmes que se passam há centenas de anos. Numa época em que, se você olhar as notícias, você só quer ter um ataque de pânico – eu realmente me identifico com a ideia de que você está pensando em estrelas e constelações.

McCartney: Você fez isso no Folklore?

Swift: Sim. Eu estava lendo muito mais do que antes e assistindo a muitos  filmes.

McCartney: O que você estava lendo?

Swift: Eu estava lendo, você sabe, livros como Rebecca, de Daphne du Maurier, que recomendo fortemente, e livros que falavam de tempos passados, de um mundo que não existe mais. Eu também estava usando palavras que sempre quis usar – tipo maiores, mais elaboradas, palavras mais bonitas, como “epifania”, nas músicas. Eu sempre pensei: “Bem, isso nunca vai funcionar para rádios pop”, mas quando eu estava fazendo esse álbum, pensei: “O que funciona? Nada mais faz sentido. Se há caos em toda parte, por que não uso a porcaria da palavra que quero usar na música?”

McCartney: Exatamente. Então você veria a palavra em um livro e pensaria: “Eu amo essa palavra”?

Swift: Sim, tenho palavras favoritas, como “elegies” (elegias) e “epiphany” (epifania) e “divorcée” (divorciado), apenas palavras que acho que soam lindas, e tenho listas e listas delas.

McCartney: Que tal “marzipan” (maçapão)?

Swift: Amo “maçapão”

McCartney: Outro dia, eu estava me lembrando de quando escrevemos “Lucy in the sky with diamonds”: “kaleidoscope” (caleidoscópio).

Swift: Caleidoscópio é uma das minhas [palavras] favoritas! Eu tenho uma música no 1989, uma música chamada “Welcome to New York,” que eu coloquei a palavra “caleidoscópio” apenas porque sou obcecada por essa palavra.

McCartney: Acho que o amor pelas palavras é uma ótima coisa, principalmente se você vai tentar escrever uma letra e, para mim, é tipo “o que isso vai dizer para aquela pessoa?” Muitas vezes sinto que estou escrevendo para alguém que não está indo muito bem. Então, estou tentando escrever músicas que podem ajudar. Não de uma forma certinha, tentando ser o salvador da pátria, mas apenas pensando que em muitos momentos na minha vida eu ouvi uma música e me senti muito melhor. Eu acho que é o ângulo que eu quero, aquela coisa inspiradora.

Lembro de uma vez, com um amigo meu de Liverpool, éramos adolescentes e íamos a uma feira. Ele era colega de escola e tínhamos essas jaquetas que tinham um pouquinho de manchinhas no material, o que era legal na época.

Swift: Devíamos ter jaquetas combinando para esta sessão de fotos.

McCartney: Encontre uma jaqueta, estou dentro. Mas fomos à feira e eu apenas me lembro – isso é o que acontece com as músicas – e havia uma garota na feira. Era apenas uma pequena feira de Liverpool – foi em um lugar chamado Sefton Park – e havia uma garota, que era tão bonita. Ela não era uma estrela. Ela era tão linda. Todo mundo estava seguindo ela, e foi tipo, “Uau”. É como uma cena mágica, sabe? Mas tudo isso me deu dor de cabeça, então acabei voltando para a casa dele – normalmente eu não tinha dores de cabeça. E pensamos: “O que podemos fazer?” Então colocamos a música de Elvis “All Shook Up”. No final daquela música, minha dor de cabeça havia passado. Eu pensei, você sabe, “Isso é poderoso.”

Swift: Isso é realmente poderoso.

McCartney: Eu amo isso, quando as pessoas me param na rua e dizem: “Oh, eu estava passando por uma doença e ouvi muitas das suas coisas e estou melhor agora e isso me ajudou” ou crianças dizendo: “Me ajudou a passar nas provas”. Você sabe, eles estão estudando, eles estão enlouquecendo, mas colocam sua música para tocar. Tenho certeza que acontece com muitos de seus fãs. Isso os inspira, sabe?

Swift: Sim, definitivamente penso nisso como um objetivo. Há tanto estresse em todos os lugares que você vai que eu meio que queria fazer um álbum que fosse como um abraço, ou como seu suéter favorito que faz você sentir vontade de colocá-lo.

McCartney: Tipo, “cardigan”?

Swift: Como um bom cardigã, um bom cardigã usado. Ou algo que faça você relembrar sua infância. Acho que a tristeza pode ser aconchegante. Obviamente pode ser traumática e estressante também, mas eu meio que estava tentando me apoiar na tristeza que parece envolver de uma forma não tão assustadora – como nostalgia e fantasia incorporados a um sentimento de que você não está bem. Porque eu não acho que ninguém estava realmente se sentindo como se estivesse no auge esse ano. O isolamento pode significar fugir para a sua imaginação de uma forma que seja meio legal.

Paul McCartney e Taylor Swift, fotografados em Londres no dia 6 de Outubro, 2020. Fotografados por Mary McCartney para Rolling Stone. A blusa de Taylor é de Stella McCartney.

McCartney: Eu acho que muitas pessoas encontraram isso. Eu diria às pessoas, “Eu me sinto um pouco culpado em dizer que eu estou gostando dessa coisa de quarentena,” e as pessoas diriam, “Sim, eu sei, não diga isso a ninguém.” Muitas pessoas realmente estão sofrendo.

Swift: Porque há muitas coisas na vida que são arbitrárias. Completamente e totalmente arbitrárias. E a quarentena realmente está destacando isso, e também muitas coisas que terceirizamos que na verdade podemos fazer nós mesmos.

McCartney: Eu amo isso. É por isso que digo que vivo com simplicidade. Isso está, tipo, no centro. Com tantas coisas, e às vezes as coisas dão errado e você pensa “Oh, vou chamar alguém para consertar isso.” E logo em seguida você: “Não, deixa eu dar uma olhada nisso….”

Swift: Pegue um martelo e um prego.

McCartney: “Talvez eu consiga colocar esse quadro”. Não é uma ciência de foguetes. O período depois dos Beatles, quando fomos morar na Escócia em uma fazenda bem pequenininha. Eu quero dizer, eu vejo fotos de lá agora e eu não fico envergonhado, mas eu quase fico. Porque é tipo assim, “Deus, ninguém está limpo aqui.” Mas foi como um alívio. Porque quando estava com os Beatles, nós formaríamos Apple Records, e se eu quisesse uma árvore de Natal, alguém apenas ia lá e comprava. E depois de um tempo eu pensei, “Não, quer saber? Eu realmente quero ir e comprar nossa árvore de Natal. Porque isso é o que todo mundo faz.” Então você vai até lá – “Vou levar essa aqui” – e a carrega para casa. Eu quero dizer, isso é pequeno, mas ao mesmo tempo é gigante. Eu precisava de uma mesa na Escócia e eu estava olhando um catálogo e pensei, “Eu posso fazer uma. Eu fiz aula de trabalho com madeira na escola, então eu sabia o que um encaixe nas quinas das madeiras eram. “Então eu percebi. Eu estava apenas sentado na cozinha, e estava cortando essa madeira quando fiz esse encaixe. Eu disse, “não vai encaixar,” mas um dia, eu peguei minha cola de madeira e pensei, “não há como voltar para trás.” Porém se tornou uma mesa bem legal e que eu estava super orgulhoso. Era o sentimento de conquista.

A parte estranha foi que Stella foi a Escócia recentemente e eu perguntei “não está aí?” e ela disse que não. De qualquer modo, eu procurei por ela. Ninguém nem lembrava. Alguém disse, “bem, tem uma pilha de madeira na esquina fora dos celeiros, talvez seja isso. Talvez usaram como lenha da fogueira.” E eu disse “não, não é lenha.” Enfim, nós achamos, e você não sabe o quanto isso me deixou feliz, eu estava “Você achou minha mesa?!”. Alguém provavelmente irá dizer que isso é um pouco chato.

Swift: Não, é legal!

McCartney: Mas meio que foi uma ótima coisa para mim me sentir capaz de fazer as coisas sozinho. Você estava falando de costurar. Geralmente, na sua posição, você teria um monte de alfaiates a sua disposição.

Swift: Bem, está um boom de bebês recentemente, a maioria das minhas amigas ficaram grávidas.

McCartney: Oh, sim, você está na idade.

Swift: E eu estava pensando, “Eu realmente quero gastar meu tempo com as minhas mãos, fazendo algo para os filhos delas”. Então eu fiz esse esquilo voador de pelúcia e o enviei para uma de minhas amigas. Eu enviei um ursinho de pelúcia para outra, e comecei a fazer esses pequenos cobertores de seda com bordados para bebês. Eles ficaram bem chiques. E tenho pintado muito ultimamente.

McCartney: O que você pinta? Aquarelas?

Swift: Acrílica ou óleo. Toda vez que faço aquarelas, tudo que pinto são flores. Quando tenho óleo, eu gosto de fazer paisagens. Eu meio que sempre volto a pintar uma casinha solitária numa montanha.

McCartney: É meio que um sonho romântico. E eu concordo com você, eu acho que você precisa de sonhos, particularmente neste ano. Você tem que ter algo como escape. Quando você diz “escapismo”, parece como uma palavra ruim, mas esse ano com certeza não parece. E nos livros que você está lendo, você entra naquele mundo. Isso, eu acho, que é uma ótima coisa. E depois você volta para a realidade. Eu normalmente leio livros antes de ir para a cama. Então eu os leio e depois vou dormir, então eu acho que é bem legal ter sonhos com fantasias e coisas que queremos alcançar.

Swift: Você está criando personagens. Esse foi o primeiro álbum que eu criei personagens, ou escrevi sobre a vida de alguém de verdade. Tem uma música chamada “The Last Great American Dynasty” que é sobre a vida real de uma herdeira que viveu de uma forma caótica, agitada…

McCartney: Ela é um personagem fictício?

Swift: Ela é uma pessoa real. Que viveu na casa que eu morei.

McCartney: Ela é uma pessoa real? Eu ouvi a música e pensei, “quem é essa?”

Swift: Seu nome era Rebekah Harkness. E ela morou na casa que eu acabei comprando em Rhode Island. Foi assim que aprendi sobre ela. Mas ela era uma mulher que as pessoas falavam muito, muito sobre ela, e tudo que ela fez foi escandaloso. Eu senti uma conexão com isso. Mas eu também estava pensando em como você escreve “Eleanor Rigby” e vai a fundo em toda a história sobre como todas essas pessoas nessa cidade estão se saindo e como as vidas delas se cruzam, e eu não fazia exatamente isso com minha música há muito tempo. Sempre foi sempre focado em uma pessoas só.

McCartney: Sim, porque você estava escrevendo músicas sobre términos de relacionamento como se elas estivessem saindo de moda.

Swift: Eu estava, antes da minha sorte mudar [risadas]. Eu ainda escrevo sobre músicas de términos. Eu amo uma boa música de término. Porque em algum lugar do mundo, eu sempre tenho um amigo passando por um término, e isso me fará escrever uma música.

McCartney: Sim, isso volta a aquela coisa de mim e John: Quando você tem uma fórmula, quebre-a. Eu não tenho uma fórmula. É a vibe que estou. Então eu amo a ideia de escrever um personagem. E, você sabe, tentando pensar “No que estou baseando isso?” Então “Eleanor Rigby” foi baseado em senhoras idosas que eu conheci quando criança. Por alguma razão ou outra, eu tive ótimos relacionamentos com algumas idosas locais. Eu estava pensando outro dia, eu não sei como as conheci, não era como se elas fossem da família. Eu apenas fui na direção delas, e fiz as compras para elas.

Swift: Isso é incrível.

McCartney: Apenas me senti bem. Eu me sentaria e conversaria com elas, e elas teriam histórias incríveis. Isso era o que eu gostava. Elas teriam histórias do período da guerra – porque eu nasci exatamente na guerra – e essas senhoras, elas estavam participando da guerra. Uma das senhoras que eu costumava passar tempo tinha um rádio de cristal que eu achava muito máfico. Na guerra, um monte de pessoas fizeram seus próprios rádios – você os faria de cristais [canta a música tema de “The Twilight Zone]

Swift: Como eu não sabia disso? Isso me parece com algo que eu teria tentado aprender sobre.

McCartney: É interessante, porque há vários paralelos com os vírus e lockdowns e períodos de guerra. Aconteceu com todo mundo. Tipo, isso não é HIV, ou SARS, ou a gripe aviária, que aconteceu com outros, geralmente. Isso tem acontecido com todos, por todo o mundo. Isso é a coisa particular desse vírus. E você sabe, meus pais… isso aconteceu com todo mundo na Grã-Bretanha, incluindo a rainha. A guerra aconteceu. Então eles faziam parte disso, e todos tiveram que descobrir uma saída. E você descobriu Folklore. Eu descobri McCartney III.

Swift: E um monte de pessoas tem assado pães de massa fermentada. Não importa pelo que você passe.

McCartney: Algumas pessoas costumavam fazer rádios. E eles pegariam um cristal – deveríamos pesquisar sobre isso, mas na verdade é um cristal. Eu pensei “Oh não, eles apenas o chamaram de rádio de cristal,” mas na verdade são apenas cristais como conhecemos e amamos.

Swift: Wow.

McCartney: E de alguma maneira eles consegue ondas de rádio – o cristal as atrai – eles sintonizam, e era assim que eles conseguiam receber notícias. Voltando a “Eleonor Rigby”, então eu pensaria nela e no que ela estava fazendo e tentava chegar em uma composição, apenas tentar trazer poesia nisso, palavras que você ame, apenas tente pegar imagens como “pega o arroz nas igrejas onde um casamento aconteceu,” e Father McKenzie “está costurando suas meias a noite”. Você sabe, ele é um homem religioso, então eu poderia dizer que ele está “preparando sua bíblia”, o que seria bem mais óbvio. Mas “costurando suas meias” meio que diz mais sobre ele. E então você está dentro dessa amável fantasia. E essa é a mágica das músicas. É como um buraco negro, e aí você começa a fazer o processo, e de repente aí está essa linda flor que você acabou de fazer. Então é bem parecido com bordado, fazer alguma coisa.

Swift: Fazendo uma mesa.

McCartney: Fazendo uma mesa.

Swift: Wow, seria tão legal tocarmos juntos no aniversário de 50 anos do Glastonbury.

McCartney: Seria incrível, não seria? Eu estava pronto para te perguntar se você queria tocar comigo.

Swift: Você ia me convidar? Eu estava esperando que você fosse mesmo. Eu ia te perguntar.

McCartney: Eu teria escolhido “Shake It Off”.

Swift: Oh meu Deus, isso teria sido incrível.

McCartney: Eu sei disso, está em dó! (tom da música – C)

Swift: Uma coisa que eu acho muito legal sobre você é que você realmente parece ter a alegria disso tudo, ainda, não importa o que aconteça. Você parece ter o mais puro senso de alegria de tocar um instrumento e fazer música, e eu acho isso o melhor de tudo.

McCartney: Bem, nós somos muito sortudos, não somos?

Swift: Nós realmente somos sortudos.

McCartney: Eu não sei como acontece como você, mas comigo é assim “oh, meu Deus, eu acabei sendo um músico.”

Swift: Sim, eu não consigo acreditar que é meu trabalho.

McCartney: Eu tenho que te contar uma história que contei para Mary outro dia, que é uma das minha histórias dos Beatles favoritas. Nós estávamos em uma terrível e grande nevasca, indo de Londres para Liverpool, percurso que sempre fazíamos. Nós íamos a trabalho para Londres e depois voltamos dirigindo na nossa van, apenas os quatro com uma pessoa da nossa equipe, que dirigia para nós. E tinha essa nevasca. Você não conseguia ver a estrada. Em certo ponto, ele escorreu e caiu em uma ribanceira. Então foi aquela gritaria. Nós paramos no fundo. Não capotou, por sorte, mas ali estávamos nós, e então começaram “oh, como nós vamos voltar para lá? Estamos numa van, está nevando e não há saída.” Estamos todos parados em um pequeno círculo e pensando “O que nós vamos fazer?” E um de nós disse, “Bem, alguma coisa irá acontecer.” E eu pensei que isso era a melhor resposta. Eu amo isso, é uma filosofia.

Swift: “Algo vai acontecer.”

McCartney: E aconteceu. Nós meio que subimos a ribanceira, pegamos um elevador, pedimos ao motorista do caminhão para nos levar, e Mal, nosso roadie (pessoa que trabalha com artistas em turnês) , arrumou a van e tudo mais. Então essa foi a nossa carreira. E suponho que foi assim que acabei me tornando um músico e compositor: “Algo vai acontecer”.

Swift: Isso é o melhor.

McCartney: É tão estúpido que é brilhante. É ótimo se você já teve esse tipo de ataque de pânico: “Oh, meu Deus” ou “Ahhh, o que eu vou fazer?”

Swift: “Algo vai acontecer.”

McCartney: Tudo bem então, obrigado por fazer isso, e isso foi, você sabe, muito divertido.

Swift: Você é o melhor. Isso foi tão incrível. Essas foram algumas histórias de qualidade!

Matéria publicada pela Rolling Stone e traduzida pela Equipe TSBR.





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