Eu tinha odiado a nova música de Taylor Swift. Agora eu acho meio genial.

Andy Hermann, LA Weekly

Como a maior parte da internet, minha primeira reação ao novo single de Taylor Swift, “Look What You Made Me Do”, foi uma mistura de confusão, repulsa e decepção. Ela realmente estava trocando farpas com Kanye outra vez? Ela realmente estava cantando por cima da batida de “I’m Too Sexy”, do Right Said Fred? Ela realmente tinha se isolado tanto que não tinha sobrado ninguém em sua equipe pra cortar ideias idiotas como a parte em que ela fala “Desculpe, a velha Taylor não pode atender ao telefone agora… porque ela está morta”?

E aí saiu o vídeo, em toda sua glória de alto orçamento, coreografia e brilho, e eu fui puxado para dentro da ira da internet outra vez. Pera aí, a Taylor estava usando o assalto que Kim Kardashian sofreu em Paris? Ela estava zoando tanto “Formation” quanto “Thriller”? Ela é um gênio subversivo ou o pior exemplo de privilégio branco depois do pedaço de Cheetos que nos governa? Milhares de tweets e artigos imploram por respostas.

Finalmente recuperei a razão por dois motivos: primeiro, se você der uma chance, “Look What You Made Me Do” é na verdade uma ótima música (eu sei que você ainda não acredita em mim, mas espere um pouco), e segundo, como uma amiga minha apontou recentemente no Facebook (obrigado, Leslie!), nós enquanto sociedade sempre impusemos e sempre vamos impor a Taylor Swift alguns padrões muito escrotos que não impomos a nenhuma outra estrela de sua geração. Talvez tenha sido pelo fato de ela ter começado como uma cantora country ingênua que praticamente só cantava sobre garotos, ou porque ela é bonita, loira e magra, ou porque ela mesma cultivou uma persona autodepreciativa e tímida no começo da carreira, mas parecemos determinados a relegar Taylor Swift ao papel de Queridinha da América — e sempre achar seu comportamento indigno de alguém que esteja nessa posição. Não podemos nem escrever sobre a decisão de chefona que ela tomou ao tirar suas músicas do Spotify sem a colocar na posição de namorada petulante (“Taylor Swift termina relacionamento com o Spotify”, diziam milhares de manchetes). Mesmo quando ela não está sendo petulante, nada que ela faz é bom o suficiente. Ou ela está fingindo modéstia ou fingindo ser feminista ou bancando a vítima ou fingindo ser malvada ou sendo pop demais ou não sendo pop o suficiente. Ah, e ela provavelmente é racista. Se Swift realmente é a Queridinha da América há 10 anos, é um relacionamento bem abusivo.

Então “Look What You Made Me Do” é o som de Swift finalmente, de uma vez por todas, mandando todo mundo à puta que pariu — e quando você analisa a faixa nesses termos, é tão esperta, bem-feita e emocionalmente satisfatória quanto o resto de seu catálogo. Enquanto “Shake It Off” se contentava em ser uma conversa animadora de “não deixa os haters te colocarem pra baixo”, “Look What You Made Me Do” vai na ofensiva. Os versos de abertura parecem se referir claramente a Kanye West, mas o verso sobre o “palco inclinado” pode se referir tanto ao palco da Saint Pablo Tour quanto ao campo injusto no qual ela sempre se encontra, tendo que seguir os padrões impossíveis de “boa garota” que a nossa cultura tende a impor à maior parte das popstars femininas — apesar de raramente com o mesmo zelo que impomos a Swift. “Eu não gosto (…) do papel que você me faz fazer”, ela canta, antes de entrar naquela batida do Right Said Fred (ou seria emprestada da música do Peaches que toca em Meninas Malvadas?) e desfilar pelo refrão com a independência da diva disco de salto agulha que ela agora é.

Mas — e é aqui que “Look What You Made Me Do” fica bem interessante — o refrão que dá nome à música não é o canto de uma mulher recentemente independente. Swift não faz nada tão óbvio assim. Em vez disso, ela se coloca, como normalmente faz, em oposição a uma ameaça sem nome. Não é “olha o que eu estou fazendo”, é “olha o que você me fez fazer”. Ela está negando sua própria agência nesse papel novo — um que é, de certa forma, um clichê, como o vídeo deixa bem claro. Literalmente se banhando em diamantes e sensualizando em frente a uma formação de dançarinos, Swift está ao mesmo tempo encarnando e chamando atenção para o estereótipo da popstar feminina exemplificado por suas várias rivais: Katy Perry, Lady Gaga, Rihanna, Beyoncé. Ela está ao mesmo tempo as desafiando no próprio jogo delas e comentando maliciosamente sobre como esse jogo é jogado — perguntando se os clichês de empoderamento feminino que estamos acostumados a ver no pop são mesmo tão empoderadores assim (na metáfora visual mais pesada do vídeo, Swift aparece empoleirada em uma gaiola gigante). E ela também está comentando sobre ela mesma e sua própria tendência a bancar a vítima — no passado, a amante traída, mas agora, a diva pop desafortunada que passou por todos os papéis esperados dela, papéis que discutem entre eles na hilária cena final do vídeo. (“Eu gostaria muito de ser excluída desta narrativa”, protesta em vão a Taylor antiga, segurando seu troféu do VMA. “Cala a boca!”, rebatem todas as outras encarnações dela.)

Muitos já acharam o vídeo de “Look What You Made Me Do”, cheio de contradições como ele é, problemático — mas eu acho que é brilhante, e brilhante precisamente em quão problemático ele é. Era uma vez um tempo em que esperávamos que nossos popstars nos desafiassem e surpreendessem, e Swift claramente entende isso — não é em vão que ela começa o vídeo com uma homenagem óbvia ao “Thriller” de Michael Jackson, um vídeo que quebrou barreiras em seu tempo. Ela não está interessada em resolver suas próprias contradições nem em satisfazer nossas expectativas do som e visual que um single de Taylor Swift deve ter. Mesmo a imitação de “Formation” é claramente uma provocação, não importa quanto o diretor do vídeo dela negue qualquer conexão. Fazendo isso, ela está se submetendo às acusações de apropriação cultural, mas meu palpite é que ela pensou nisso também e decidiu fazer mesmo assim, sabendo que só aumentaria o fogo da revolta na internet que acompanha todo movimento que Swift faz fora de seu padrão.

Se você ainda acha que “Look What You Made Me Do” e seu vídeo são terríveis, tudo bem — música pop, especialmente quando é construída justamente em torno dela mesma, não é pra todo mundo. (Pera aí, eu não tinha prometido antes que ia convencer vocês dos méritos da música? Sim, mas eu menti. Sou pior que a Taylor!) Mas não dá pra negar que é efetivo, porque, uma semana depois, ainda estamos aqui falando sobre ele. Já esquecemos completamente do VMA, onde Swift estreou o vídeo, mas artigos sobre “Look What You Made Me Do” continuam saindo regularmente, várias vezes forçando formas cada vez mais ridículas de descrever os supostos crimes de Swift. (Meu favorito, do Huffington Post, se refere a ela como alguém que está “transformando sua posição de mulher branca em arma”.) Velhos amigos que eu tenho certeza que não ouvem uma nota de Swift desde os dias do violão brilhante se sentem obrigados a ir ao Facebook expressar suas opiniões sobre ela — não apenas em relação à música, mas a ela como ser humano, como se ela tivesse os traído pessoalmente de alguma forma. Nenhum outro artista, nem mesmo Kanye ou Beyoncé, é tão bom em provocar respostas e nos atingir.

É possível, eu imagino, que eu esteja dando crédito demais a Swift, e que o que eu estou interpretando como várias camadas de significado em “Look What You Made Me Do” e a mina de ouro de memes que é aquele vídeo sejam apenas ambiguidades não-intencionais em uma música pop que sem isso é monótona. É possível que Swift não tenha pensado nas consequências de escrever outra música sob a perspectiva de vítima, ou de copiar popstars negros para algumas de suas imagens mais poderosas (mas vale a pena notar que o vídeo ainda tem possíveis referências a Madonna, Katy Perry e Kylie Minogue também — o negócio todo é uma coletânea de cultura pop, como a maioria dos vídeos de Swift). Mas a explicação mais provável é que Swift sabe exatamente o que está fazendo, porque ela geralmente sabe. Meu palpite é que, quando o álbum Reputation sair completo no fim deste ano, vamos falar sobre ele — e ouvi-lo — por muito, muito tempo.





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