Jack Antonoff sempre foi sério, alguém que evita apertos de mão e limpa assentos [antes de sentar] no avião, mas o ano passado não o abalou muito. “Eu estava bem”, diz ele, “porque estava me preparando para isso”. Em vez de enlouquecer, o compositor-produtor passou o ano com seus pais em Nova Jersey e fazendo música com sua equipe usual de mulheres incrivelmente famosas e talentosas – Taylor Swift, St. Vincent, Lana Del Rey e Lorde, entre outras – sem mencionar o término do terceiro álbum de sua própria banda, Bleachers, “Take the Sadness Out of Saturday Night”.

“Se você realmente prestar atenção no trabalho que eu faço”, ele argumenta, “não é tanto quanto você pensa. Estou apenas me dedicando de verdade a algumas coisas”. Mas seu trabalho é, indiscutivelmente, onipresente; com a ascensão de Olivia Rodrigo, uma artista que até soa como se trabalhasse com ele sem realmente fazer isso (a menos que você conte sua interpolação do piano da faixa “New Year’s Day” de Swift-Antonoff). As assinaturas de uma produção da Antonoff são mais difíceis de definir do que podem parecer. Ele é conhecido pelos sintetizadores no estilo dos anos 80, aos quais ainda não consegue resistir, mas recentemente mudou, junto com seus colaboradores, de volta ao som de instrumentos orgânicos tocados ao vivo. (Ele ri do rótulo de “maximalista”, que dificilmente se aplica a “Liability” de Lorde ou “The Archer” de Swift).

Teve um momento, como mostra em um vídeo, que você e Taylor Swift escreveram a ponte de “Getaway Car” em cerca de 30 segundos. Quão comuns são esses momentos?
É aquela única vez na vida que um momento relâmpago fica registrado, um momento puro e louco de composição, e foi filmado. É raro você simplesmente criar uma música inteira [de uma vez só]. Mas existem peças, como aquela ponte, onde estamos apenas indo e voltando e gritando coisas. É tipo, “Uau! Oh, meu Deus, o que aconteceu? Pode ser isso?” É quando parece um filme.

Quem está no seu grupo de feedback?
Os melhores discos são feitos com um pequeno grupo de pessoas que realmente acreditam em alguma coisa. Meu grupo é tipo, eu, meu empresário, meu A&R que nem trabalha mais na minha gravadora – ele é apenas uma pessoa muito próxima de mim. Depois minha família e alguns artistas como Lana. Sempre toco um pouco para Ella [Lorde]. Taylor, é claro.

Bruce [Springsteen] está com certeza no grupo. Eu toquei para ele o meu disco novo inteiro outro dia. Demos uma volta de carro e ouvimos. Se eu estivesse tentando fazer um álbum que todo mundo deveria gostar, eu pediria [o feedback] de todos no mundo, mas estou tentando fazer um álbum que seja para ‘o meu povo’. Então, eu toco para ‘o meu povo’.

Que tipo de feedback eles dão a você?
Diversos. Eu não tinha certeza sobre “91” abrir o álbum. Bruce disse: “Não, é isso aí”.  

Taylor me deu um grande empurrão para lançar “I Wanna Get Better” quando eu estava enviando a ela as músicas do primeiro álbum do Bleachers. Achei que talvez “Rollercoaster” devesse ser o primeiro single, o que teria sido uma ideia muito ruim, muito segura.

“I Wanna Get Better” é a porra de uma história de vida em três minutos. E eu escutei [Taylor], porque a respeito muito. Mas todos nesse grupo de feedback têm meio que a mesma importância. A opinião da minha mãe é igualmente válida.

Parece que sua produção, tanto para você quanto para seus colaboradores, ficou mais orgânica recentemente.
Sim, com certeza. São apenas fases diferentes, coisas diferentes. Cinco anos atrás eu adorava nada mais do que cortar samples e reproduzi-los no meu MPC. Essa coisa (MPC) está no armário há dois anos. Acho que uma das razões pelas quais há um grupo de pessoas com quem posso fazer um bom trabalho é porque todos nós estamos sentindo algo semelhante.

Quando você faz algo, tem muito mais valor se for algo que esteja disponível e você não está encontrando. E o que não está lá fora é esse tipo de som de bandas de Nova Jersey misturados com a maneira como eu escrevo.

Eu me senti assim. Lana se sentia assim. Taylor se sentia assim. E o disco da Lana e o Folklore são tipos muito diferentes de orgânico do que as gravações do Bleachers. Mas é algo semelhante, “Vamos começar a fazer algo que nem todos podem fazer. Vamos tocar em uma sala de estar”.

Até Taylor deixar você produzir, te diziam que você nunca poderia ser um produtor, certo? Era como um roteirista querendo ser diretor.
Literalmente, fizemos “Out of the Woods” e eu coloquei meu coração e alma nessa coisa. Exatamente no momento em que eu esperava que alguém de mais peso chegasse e fizesse [a parte] da produção, ela disse: “Mal posso esperar para que isso seja lançado!” E eu disse, “É isso?” Ela disse: “Sim, perfeito”.

Da noite para o dia, eu tive a permissão para produzir discos, e isso me encheu de alegria e ressentimento, porque é um lembrete de por que me mantenho extremamente separado da indústria. É um lembrete de que todos esses babacas procuram apenas hits. Cadê as orelhas, cara? Aconteceu uma vez após outra, cada álbum que fiz que se tornou um grande álbum realmente importante. Quero dizer, as histórias que posso contar sobre o que esses babacas disseram sobre o que ouviram pela primeira vez. . . corte para todos dando um high-five.

O Melodrama da Lorde foi a primeira vez que você fez um álbum inteiro com uma artista. O que você tirou dessa experiência?
Foi a primeira vez que fiz um álbum com alguém em que eu estava presente… onde era meu. E é o que faço de melhor. Há toda uma história recente de pessoas que me permitem ser o meu melhor. Seja Taylor ou Ella, são pessoas que me deram um voto de confiança, porque não havia um histórico [meu] comprovado.

Estávamos ‘nos encontrando’ ao mesmo tempo no Melodrama. Ela estava em um lugar incrivelmente fascinante. O segundo álbum é um monstro e o segundo álbum é uma montanha. Ela tinha todas essas pressões adicionais do que havia acontecido no primeiro álbum, mas tinha uma visão muito clara do que queria. Eu estava me descobrindo como um produtor e sentia que trazíamos o melhor um do outro. Acho que minha vida teria sido muito diferente sem isso.

Você ficou surpreso com o sucesso do Folklore?
Eu fiquei um pouco surpreso com o nível. Eu achei lindo. Eu amei o trabalho que ela estava fazendo com o Aaron [Dessner], eu amei o trabalho que eu e ela fizemos.

Eu achava que “o pessoal dela” ia se identificar mas não sabia que se tornaria tão grande. O processo foi basicamente ela se retraindo e dizendo ”vamos tentar umas paradas”. E foi nesse algoritmo que eu foquei, em que tipo “se você criar coisas que ama muito, vai encontrar público em algum lugar”. Essa é a minha experiência com os Bleachers. Eu não estou tentando cativar todos os seres da Terra. Tem 10,000 ou 1 milhão em cada cidade? Não sei. É sobre encontrar o seu pessoal. Caso contrário, você poderia ser gigante e não encontrar ninguém que realmente se importe. Lembra como a FUN. era gigante? Você não está me perguntando sobre isso agora porque no fim do dia a banda veio e foi. Isso porque a conversa não foi longa o suficiente para construir algo que fosse duradouro em você.

Reputation foi a primeira vez que você compôs no mesmo ambiente com a Taylor; antes, você só enviava as faixas. O que você aprendeu com isso?
Eu fiquei tipo, “puta merda, nós podemos fazer isso também”. Meu relacionamento criativo com ela parece sem barreiras. Eu não trabalho com uma lista grande de pessoas. Então, essas são relações criativas muito especiais. E essa é obviamente uma bem importante.

O Reputation é ótimo; é um álbum realmente subestimado, ou pelo menos era inicialmente.
Mais uma vez, a diferença entre as pessoas que são o público alvo e as que estão simplesmente passando e têm comentários a fazer. Tanta coisa estava acontecendo culturalmente que era fácil fazer um comentário aqui ou ali. Mas eu amo. Eu voltei a ouvir recentemente e adorei.

Já perguntaram muitas vezes por que você costuma trabalhar com mulheres. Você tem alguma ideia do motivo?
Nunca passa pela minha cabeça quando eu não estou sendo entrevistado.

(…)

E como você faz para colocar o seu ego de performer de lado pra se tornar um colaborador tão eficaz? Para aceitar que aquilo não é sobre você?
Se você está sendo um compositor da maneira certa, é até difícil de imaginar que você sinta que aquilo é sobre você. Mas acho que é um equívoco comum. Vem de anos e anos em que os artistas estão tão exaustos de não saber quando a próxima canção vai chegar que eles substituem isso por ego. Nenhum de nós está no controle. Ser compositor é acordar todos os dias e rezar pra que você seja atingido pela inspiração. Às vezes você sente que ela está chegando mas não consegue fazer nada. É enlouquecedor. E às vezes você consegue e trabalha naquilo por muito e muito tempo. É como aquele quebra-cabeças difícil que você não consegue montar mas passa um ano tentando.

E aí um dia você está almoçando com um amigo e tem uma ideia num piscar de olhos que é melhor que o seu trabalho do ano inteiro. Mas a maneira como me sinto, tanto fazendo os meus trabalhos quanto os de outras pessoas, é a mesma. Uma mistura insana que é tipo “Eu sei como fazer isso, e é uma parte do meu ser” com um pouco de curiosidade brilhante. Se você consegue encontrar essas duas coisas em algo, então você deve persegui-lo até que desapareça.

Entrevista publicada pela Rolling Stone e traduzida/adaptada pela equipe TSBR.





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