Se você prestar atenção bem de perto, você pode ouvir: há uma nova exuberância nos sons de banjo na abertura, e uma batida a mais quando ela canta “Just say yes.” Mas a diferença entre a versão de 2008 de “Love Story” da Taylor Swift, que ajudou a lançar Taylor ao sucesso, e a versão de 2021 relançada da mesma música é bastante sutil. Chamada de “Versão da Taylor” (Taylor’s Version) nas plataformas de streaming, a nova versão vai ser seguida de várias regravações do catálogo de Taylor, começando com o restante das músicas do seu álbum “Fearless”, que chegará em 9 de Abril.
Em todas essas regravações, as letras e produção praticamente não mudaram: o que realmente sofreu mudanças foram os negócios de Swift. Agora com 31 anos, ela está totalmente no indie-pop – como mostrado no seu álbum “folklore” que recentemente ganhou um Grammy. Mas por trás dessas sonhadas paisagens sonoras há uma artista que está lutando há anos para gerir os meios, métodos de produção e distribuição dos seus trabalhos.
Swift assinou com a Big Machine Records em 2005, uma cantora nova em Nashville com um violão e um cabelo loiro comprido. O contrato expirou em 2018 mas não antes dela emplacar hits nas rádios como “I Knew You Were Trouble” e atravessar a estratosfera do pop com turnês em estádios esgotadas durante o percurso de elaborar 6 álbuns. Quando seu contrato acabou, ela trocou de gravadora e foi para a Republic Records, da Universal. A Big Machine era dona de seus masters, ou de suas gravações originais, dos seus seis primeiros álbuns, como é comum com vários contratos de gravadoras. No seu novo contrato, a cantora se certificou para garantir que seus futuros masters fossem de sua propriedade. Trocar de gravadora, conseguindo mais agência, atualizando termos do contrato – esses são os passos de um artista de sucesso. Pessoas mudam, assim como os contratos que os governam.
Mas os movimentos por trás das cortinas de Taylor foram parar na capa dos jornais quando a Big Machine vendeu os masters da cantora para um grupo chamado Ithaca Holdings, uma entidade do poderoso gerente de música Scooter Braun. Ele, depois, vendeu os masters para outra companhia, chamada Shamrock Holdings, por um valor de 300 milhões de dólares em 2019. Analisando pelo lado dos negócios, a jogada de Scooter foi esperta: os masters de Taylor geram lucro todas as vezes que as músicas dela são tocadas ou compradas. Já analisando pelo lado pessoal, isso pode ser questionável: Taylor afirma que Scooter, que gerencia artistas como Kanye West e Justin Bieber, repetidamente praticou bullying com ela, e por isso ela expôs toda a situação e prometeu regravar os seus 6 primeiros álbuns, só que dessa vez com os master sob o controle dela. Todos que ouvirem as versões antigas de Taylor ainda vão gerar lucros para a conta de Braun. Mas a esperança de Taylor, pelo que aparece, é que as versões novas sobreponham as antigas. “Artistas deveriam possuir o seu próprio trabalho por diversas razões,” ela escreveu em um post no Instagram em Março de 2021. “Mas a razão mais óbvia é que o artista é o único que realmente conhece aquele corpo de trabalho.”
Todo artista é como uma empresa, com capital limitado para distribuir entre gravadoras, editoras e acionistas. Um capital maior foi a consideração central de Taylor na mudança de gravadora — assim como uma certeza maior de que todos os que contribuíssem na criação da arte em si seriam recompensados pelo seu trabalho. “Houve uma condição no contrato que significou mais pra mim do que qualquer outra”, ela escreveu na época: garantir que os lucros referentes a futuros streamings no Spotify retornem para os artistas.
O fato desse detalhe financeiro ter sido o que mais animou Swift na negociação pode parecer contraditório com sua imagem de cantora / compositora que se apresenta em cenários com cabanas saídas de uma floresta de conto de fadas, mas essa persona mascara a expertise de Swift: há muito ela entendeu que artistas, até mesmo os que carregam uma marca tão poderosa quanto a dela, são vulneráveis à exploração. Depois de construir um império escrevendo músicas tão profundas e pessoais, deveríamos esperar que sua história viesse barata?
Matéria publicada pela TIME e traduzida pela equipe TSBR.
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