Neste momento, no próximo ano, Taylor Swift pode soar um pouco diferente.

Se você está acompanhando o vai e vem entre Swift e os agora proprietários de seus seis primeiros álbuns (para quem voltaremos), você saberá duas coisas com certeza: ela não está feliz por não possuir os direitos registrados (masters) desses álbuns; e em novembro de 2020, ela terá permissão contratual de regravar seus maiores sucessos – algo que ela parece determinada a fazer.

Por uma questão de clareza, vale a pena recapitular rapidamente essa situação, focando no contexto da indústria que, sem dúvida, é deixado de fora da narrativa:

  • Nos últimos anos, começaram rumores de que a gravadora indie de Nashville, Big Machine Label Group, estaria à venda no círculo de negócios da música, com o Universal Music Group sendo o comprador mais provável. No entanto, em 30 de junho, foi anunciado que a Ithaca Holdings, liderada pelo gerente de Justin Bieber, Scooter Braun, e apoiada pela gigante de private equity (empresa de capital privado) Carlyle Group, havia de fato adquirido a Big Machine por cerca de US $ 300 milhões. A Universal, ao que parecia, havia sido contratada pelo gerente de alguns de seus maiores artistas;
  • Essa notícia veio sete meses depois que Swift esnobou a Big Machine ao recusar um novo contrato de gravação com a empresa. Em vez disso, ela assinou um contrato direto com o Universal Music Group (e a Republic Records) para seu material futuro, incluindo o álbum que agora conhecemos como Lover. Fundamentalmente, a UMG permitiu a Swift ter os direitos de suas futuras músicas – algo que não fazia parte de seu contrato anterior com a Big Machine;
  • Desde a compra da Big Machine pela Ithaca neste verão, Swift criticou publicamente Braun e o homem que a contratou aos 15 anos de idade para a Big Machine, Scott Borchetta. Os dois lados não concordam muito, mas parece haver algum consenso, pelo menos, em um único detalhe importante. Swift admite que Big Machine deu a ela a oportunidade de adquirir seus direitos, mas com uma condição – que ela assinasse um novo contrato com a BM (ou seja, recusar seu contrato com a Universal), que a faria “ganhar um álbum de volta para cada um que entregasse”.

Essa narrativa ajuda a entender as possíveis motivações (e agravações) lideradas pelos negócios de cada parte. A regravação rápida de seus hits criaria claramente outro ponto de discussão – mas parece provável que isso aconteça.

Em agosto, Swift indicou à CBS News que ela pretende regravar alguns, se não todos, seus LPs da Big Machine. “É algo que estou realmente empolgada em fazer, porque meu contrato diz que a partir de novembro de 2020 eu posso gravar álbuns de um a cinco novamente”, disse ela. Em um tweet de 14 de novembro, Swift reafirmou seu plano. Ela alegou que regravar seus sucessos no próximo ano era algo que “tenho permissão legal para fazer e estou ansiosa por isso”.

Aqui, três pessoas que trabalham no ramo da música e tem experiência pessoal como artistas que regravaram músicas dão sua opinião – e oferecem conselhos diretos a Swift.

Glenn Tilbrook, vocalista e co-compositor, Squeeze

Depois de ser formado no final dos anos 70, o grupo britânico Squeeze gravou uma série de hits, incluindo “Cool for Cats” e “Up the Junction”, alcançaram a segunda posição no Reino Unido em 1979. O maior sucesso do Squeeze nos charts dos EUA veio com o ‘Hourglass’ (1987), que chegou ao número 15 na Billboard Hot 100. Os oito primeiros álbuns da banda foram todos assinados com a A&M e, como resultado, pertencem ao Universal Music Group hoje.

Em 2010, Squeeze regravou uma série de sucessos no álbum ‘Spot the Difference’. O plano, segundo Glenn Tilbrook, foi motivado financeiramente. Geralmente, quando as músicas do Squeeze são “sincronizadas” com filmes, programas de TV ou anúncios, ele diz, o agente da publicidade paga a remuneração à Universal, que paga uma parte desse dinheiro ao Squeeze com base no histórico do contrato.

“Foi um pontapé econômico”, diz Tilbrook. “Nosso argumento era que [as empresas de mídia com intenção de sincronizar os hits do Squeeze] poderiam nos pagar metade do que pagavam à Universal – elas seriam mais baratas, mas nós receberíamos o dinheiro. Todo mundo ganha.

Ele acrescenta: “Sabíamos que não conseguiríamos as músicas mestre da Universal. Pensamos, então, que poderíamos criar reproduções fiéis de algumas das nossas músicas mais populares e oferecê-las como alternativa.

No entanto, Tilbrook disse: “10 anos depois, elas não tiveram nenhum reconhecimento.” Também pode-se observar que, ao procurar por Squeeze em serviços como o Spotify, as músicas regravadas não estão destacadas – você só as encontra se cavar a discografia da banda. Tilbrook acredita que a falta de sincronização e streaming de Spot the Difference seja devido ao poder de uma grande gravadora como a Universal, para garantir que suas próprias gravações sejam priorizadas?

“Absolutamente”, ele responde. “Eles, sem dúvidas, têm poder e claro que eles o usam de todas as maneiras possíveis para manter sua posição no mercado – é disso que se tratam os negócios”.

Ele acrescenta: “Meu conselho para Taylor Swift é: É necessário muito tempo, dinheiro e causará problemas regravar as canções fielmente, e eu questionaria qual seria o resultado esperado. Se ela fizer isso e sair ilesa, é claro, apoio 100% seu esforço.”

Allen Kovac, fundador da Better Noise Music

Allen Kovac tem uma perspectiva singular sobre o assunto das gravações mestres. Ele, entre outros, é o empresário da Mötley Crüe, que adquiriu seus mestres de volta da gravadora Elektra, em uma jogada sem precedentes no final dos anos noventa. Kovac também é empresário da Blondie – que lançou 11 regravações de seus maiores sucessos em 2014, incluídas como bônus no álbum de estúdio ‘Ghosts of Download’.

Embora Kovac se recuse a discutir sobre Blondie, ele tem uma visão estridente da situação atual de Swift: “[Swift] já tomou a decisão de seguir em frente [da Big Machine]. No minuto em que ela fez isso, ela perdeu seu poder…. Algo quebrou. Ela não recebeu o tipo de conselho que permitiria que todos saíssem ganhando.

Kovac diz que, no caso da Mötley Crüe, ele negociou com a então chefe da Elektra, Sylvia Rhone, estabelecendo um acordo não muito diferente da oferta que a Big Machine aparentemente fez à Swift. “Quando Sylvia Rhone decidiu não acreditar na banda, eu disse: ‘Bom, em vez de pagar a eles um adiantamento de oito dígitos [para gravações futuras], você fica com esse dinheiro – vamos levar US $ 2 milhões [ao invés], e vamos levar todos os mestres’”, diz Kovac. “Isso é um acordo; isso é uma transação.”

“Qual é a transação de Taylor Swift? Ela está dizendo: ‘Vou lhe dar mais seis álbuns, vamos dividir?’ Ou ela só queria seus mestres de volta porque ela é Taylor Swift? Por que alguém que investiu nela na adolescência precisa apenas dar a ela? Até os Beatles não são donos de seus mestres. ”

No que diz respeito às regravações, Kovac não está convencido. Ele estima que “a regravação faz uma média de 10% a 20% do que a música original faz” em termos de receita. Sua gravadora já teve uma JV com uma agência de publicidade, diz ele, onde aprendeu que sempre que uma regravação era feita para economizar dinheiro, “era recusada pela empresa que queria utilizá-la ou pelo departamento de criação.”

Ele acrescenta: “Quando você regrava, você captura a mesma atmosfera? Você tem a mesma banda? O mesmo estúdio? O que você está tentando fazer – dizer aos seus fãs, “Não escutem as músicas que vocês já amam’? Não conheço fãs assim… Se você pudesse me mostrar [um artista para quem] deu certo, diria que é uma ótima ideia e que todos deveriam fazer; mas não vi nenhuma evidência disso.”

Justin Kalifowitz, fundador e CEO da Downtown Music Holdings

A Downtown Music Holdings é proprietária da plataforma de distribuição digital CD Baby, além de uma das maiores editoras independentes de música do mundo, representando compositores vencedores do Grammy, incluindo Jason Isbell, Ryan Tedder (Adele, Beyoncé) e Jimmy Napes (Sam Smith, Stormzy).

Os editores de música estão no negócio de músicas, em vez de gravações; em geral, quanto mais gravações um artista deseja fazer, melhor para o mundo da publicação musical.

Discutindo a situação de Swift em relação à história das regravações, Kalifowitz diz: “Considere o fato de que uma única gravação mestre é apenas uma interpretação possível de um copyright de uma música, aberta para reinvenção infinita.

“Artistas regravando músicas para diferentes gravadoras é uma prática feita há décadas. Veja Frank Sinatra, que gravou diferentes arranjos de “I Concentrate On You” de Cole Porter para Columbia em 1947, Capitol em 1960 e, finalmente, para a gravadora que ele fundou, Reprise, em 1967.

“De fato, foi a versão Reprise exibida na inovadora colaboração da bossa nova Francis Albert Sinatra e Antonio Carlos Jobim, que teve, sem dúvidas, o maior impacto: o álbum foi indicado ao Grammy.”

Quando perguntado se ele acredita que Swift pode ter sucesso em regravar seus hits clássicos, Kalifowitz responde: “Claro. E considerando a força das composições de Taylor, as opções são infinitas.

“Desde que ela respeite os termos de seus contratos de gravação, como ou se ela optar por revisitar as músicas de seu catálogo, é uma decisão totalmente dela.”

Matéria publicada pela Rolling Stone e traduzida pela equipe TSBR






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