19 de outubro de 12 Autor: Erika Barros
Taylor Swift: ‘Eu quero acreditar em mentirinhas’

Suas narrativas country/pop de amor e romance fizeram dela uma superestrela. Ela fala sobre seu novo álbum “Red”, a importância de contos do fadas – e o medo de que a mágica não irá durar

Quando Taylor Swift fala sobre amor e relacionamentos, ela inclui comprimentos e detalhes. “Minhas amigas e eu somos atormentadas pela ideia, olhando para trás, que [alguns garotos] nos mudaram,” ela reflete. “Você olha pra trás e pensa: Eu só usava preto naquele relacionamento. Ou comecei a falar diferente. Ou comecei a tentar agir como uma hipster. Eu parei de falar com meus amigos e minha família porque ele queria. É um problema desafortunado.”

Pode-se ter a impressão que Swift, que se descreve como uma “garota de garotas”, tem muitas dessas conversas: a maneira hábil com que sua música desembaraça as minúcias de sentimentos ganhou o coração de uma base de fãs dedicados a quem ela está em algum lugar entre uma melhor amiga e uma irmã mais velha – muito inspiradora, mas também indentificável. “Ela é – perfeita,” diz Mica, 18, uma em cerca de 30 fãs – a maioria garotas adolescentes – que se reuniram do lado de fora do Connaught Hotel em Londres, na esperança de conhecê-la. “É como se ela te conhecesse,” diz Megan, 16, cuja canção favorita de Swift é “Back to Decembe”r – um dos números mais bem-sucedidos em um catálogo profundo em riquezas de detalhes, narrativas ressonantes. “Existem muitas emoções que você sente, você pode se sufocar com elas se sentí-las todas de uma vez,” diz Swift. “O que tento fazer é pegar um momento – uma sensação simples, simples – e expandí-la em três minutos e meio.”

Seu dom para isso garantiu um aumento contínuo da estrelinha country para mega-estrela pop. Aos 14 anos, Swift começou a trabalhar no circuito de composição de Nashville; aos 22, MTV declarou que ela estava “mantendo a indústria [da música] à tona sozinha”, depois dela ter facilmente alcançado o topo dos “fazedores de dinheiro” da Billboard em 2011. Com as vendas, premiações e aplausos se alastrando, o mais perto que o encanto de Swift chegou de se dissipar foi a infame expressão de surpresa quando Kanye West invadiu o palco no 2009 MTV Music Video Awards para protestar contra Swift receber o prêmio de Best Female Video.

Como compositora, Swift utiliza referências familiares, até gastas, mas ela navega através dos clichês para trazer romancês à vida. A sutil mudança no tempo em “Back to December”, por exemplo, destacando a inutilidade de arrependimento obsessivo; ou o jeito com que “Begin Again” – a faixa que fecha seu último álbum, “Red” – conta duas histórias em fila, a sombra do passado implícita em cada linha atrás da esperança do presente. “Nesse momento agora, capture isso, lembre disso“, cantou Swift em Fearless, 2008 – um resumo perfeito de seu MO musical. “Eu sou muito intrigada com isso,” ela reflete. “Seja tirar uma foto ou fazer uma pintura com suas palavras que fazem uma música vívida como uma fotografia. Sempre senti que a música é a única maneira de dar a um momento instantâneo a sensação de câmera lenta. Para romanticizar e glorificá-lo, dar a ele um ritmo e uma trilha sonora.”

A tendência de Swift para o romance não passou sem ser criticada. Detratores a acusam de tudo, de pregar contos de fadas falsos para garotas jovens, à continuamente reclamar de ex-namorados. Ela descarta os comentários brevemente: “Quando estamos nos apaixonando ou terminando, é quando nós mais precisamos de uma canção que diga como nós nos sentimos. É, eu escrevo muitas músicas sobre garotos. E estou bem feliz com isso.” Mas o que é mais interessante sobre essa inclinação de Swift para o romance é o conflito que o sustenta desde que ela gentilmente, tristemente o bradou no primeiro verso de sua carreira “Ele disse que o jeito que meus olhos azuis brilhavam faziam aquelas estrelas de Georgia passar vergonha naquela noite. Eu disse, isso é uma mentira.” Swift pode comprar uma fantasia patriarcal em “Love Story”, mas ela a rejeita precisamente por ser uma fantasia em “White Horse”. E o contraponto ao amor de Swift à capturar momentos é a sua obsessão com a impermanência e a passagem do tempo.

“Eu acho que uma coisa da qual tenho muito medo é… que a mágica não dure,” ela diz. “Que as borboletas e devaneios e o amor, todas essas coisas às quais eu me prendo, irão ir embora algum dia. Eu passo muito tempo balançando entre fé e descrença.”

Ela acha que o jeito que contos de fadas são vendidos para garotas jovens pode causar danos?

“Um conto de fadas é um conceito interessante. Há um “felizes para sempre” no final, mas não é parte do nosso mundo. Tudo é um enredo em curso e você está sempre lutando com as complexidades da vida. Mas o que eu peguei dos contos de fadas, enquanto crescia, foi um lindo devaneio. Estou feliz que eu tive a imaginação mais louca e acreditei em todos os tipos de coisas que não existem.”

Swift, no entanto, reconhece sua propensão para sentimentalizar a infância. “Acho que há algo que nós temos enquanto crianças que vai embora às vezes. Eu não me importo em ter a aparência de jovem para sempre, mas me preocupo em parecer juvenil.” Hoje, Swift eventualmente vem para baixo no lado da esperança –  mas é a maneira vertiginosa em que o escapismo pode abater-se contra a realidade que é o verdadeiro marco de sua música. “Eu quero acreditar em mentirinhas”, ela sorri ironicamente. “Mas, infelizmente, isso pode levá-lo a escrever músicas como as do meu novo disco.”

Swift possui uma fé fervorosa no poder da canção pop: ela relembra as canções de Shania Twain de sua infância “que faziam você querer correr pelo quarteirão quatro vezes e devanear sobre tudo”; ano passado, ela escreveu o verso de Bruce Springsteen “Nós aprendemos mais em uma gravação de três minutos do que no colégio” em seu braço para um show ao vivo. Agora, ela é uma fã voraz de pop. Qualquer um familiar com seu cover improvisado de “Super Bass”, da Nicki Minaj do ano passado ou o cover do Eminem com o qual ela costumava abrir seu shows, não irá se supreender ao saber do seu amor pelo hip-hop (“Uma das coisas que as pessoas não reconhecem sobre as similaridades entre country e hip-hop é que eles são celebrações de orgulho de um estilo de vida”); recentemente, ela tem ensaiado Joni Mitchell em preparação para um ainda não confirmado papel em um filme. “Ela passou por muitos tons de si mesma,” diz Swift, admirada.

Tudo isso é mostrado em “Red”, que encontra Swift colocando o dedo em águas que, para ela, eram inexploradas até então: trabalhando com produtores pop de peso e escritores como Max Martin e experimentando com batidas lisas e eletrônicas. Há até um pingo de dubstep em “I Knew You Were Trouble”: notavelmente, acaba sendo muito bom. A linha de Swift é que, seguindo “Fearless”, de 2008 (escrito com um coeso grupo de colaboradores) e “Speak Now”, de 2010 (escrito inteiramente por ela mesma), trabalhar com nomes estabelecidos no “Red” é outro jeito de desafiar a si mesma –  em vez de uma tentativa deliberada de se abrir em um mercado internacional country.  Não obstante, há um traço de presunção quando declara: ” O que acabou aconteceu foi, nós acabamos usando as ideias que eu trouxe para o estúdio.” De fato, o brilho pop é limitado a um punhado de faixas espalhadas entre tarifas Swiftianas mais reconhecidas: varreduras, arranjos soft-rock, cenário despretensioso para narrativas com finais torcidos lançam a música inteira em uma luz diferente, como um espelho retrovisor sutilmente ajustado.

Swift mantém uma inegociável política de nunca explicitamente associar suas canções a algum de seus vários namoros famosos – apesar de fornecer febrilmente dicas analisadas em seus encartes. Ela vê a especulação com equanimidade, declarando aprovadamente: “Não me aborrece quando as pessoas tentam desconstruir minhas canções – porque ao menos elas estão olhando para a letra, e prestando atenção no jeito que a história é contada.” Mas um dos mais interessantes aspectos do “Red” é a sombra recorrente que Swift atira em indie hipsters: é justo assumir que se origina de uma experiência de primeira mão. Em seu atual single “We Are Never Ever Getting Back Together” ela oferece uma demissão sarcástica: “Se esconder e encontrar sua paz de espírito/ Com um CD indie muito melhor que o meu.”

“Aquele era o verso mais importante da música,” diz Swift. “Foi um relacionamento no qual eu me senti muito criticada. Ele ouvia o tipo de música de qua ninguém nunca ouviu falar – mas, assim que alguma outra pessoa se interessava pelas bandas, ele as largava. Eu sentia que aquele era um jeito estranho de ser um fã de música. E eu não entendia porque ele nunca dizia algo bom sobre as canções que eu escrevi ou a música que eu fiz.”

Em muitas maneiras, Swift – uma “romântica incurável”, sincera em uma falha – é o contrário de “cool”; a escritora Erika Villani astutamente apontou essa coisa “não-cool” como a base da maior parte dos argumentos de seus críticos. Já é assim há muito tempo: Swift recita suas citações favoritas de Meninas Malvadas, indiscutivelmente o filme teen da geração dela, com prazer, mas a única vez que seu encanto balançou um pouco hoje é quando ela fala sobre o primeiro carro que comprou com seus ganhos. Era um Lexus SC430 conversível – o mesmo de Regina George, uma das líderes das Plastics do bullying no filme – uma escolha estranha para uma boazinha como Swift?

“Todas as garotas que eram más comigo no ensino fundamental, tipo, idolizavam as Plastics,” ela explica. “Acho que escolhi aquele carro como uma rebelião contra aquele tipo de garota. Era tipo – vocês nunca me convidaram pra nadam vocês são obcecadas com aquele carro e com aquela garota e com o que as Plastics vestem e como elas falam e as citam todo dia, mas eu tenho trabalhado muito todos os dias.” Ela bate os punhos sobre os braços da cadeira em frustração. “E ao invés de ir a festas, eu estive escrevendo canções e fazendo shows e ganhando esses cheques de pagamentos realmente pequenos, que se acumularam, e agora eu posso comprar um carro – e advinha qual eu vou comprar? Aquele que a garota que você idoliza tem.”

É uma visão esclarecedora nos pontos de conexão que fazem Swift tão adorada por sua base de fãs – e também a vingança de alguém que acreditada em resoluções de narrativas, não necessariamente finais felizes, mas poéticos. Em Swift, as tradições de contar histórias e confessionalismo estão interligadas, unidas por um instinto para o universal. “Eu acho que tudo o que temos são as nossas memórias, e nossa esperança para as memórias futuras”, ela sorri, sua serenidade restaurada. “Eu só gostaria, esperançosamente, de dar às pessoas uma trilha sonora para essas coisas.”

Fonte: The Guardian
Tradução e Adaptação: Ana Luiza – Equipe TSBR





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