GLENDALE, Arizona— Mais ou menos na metade do show de Taylor Swift no estádio da University of Phoenix na noite de terça, enquanto ela fazia uma performance de “Shake It Off” em um dos palcos menores próximos ao centro do campo, um par de cobras infláveis gigantes se ergueu do chão. Enquanto ela cantava rejeições ácidas, elas se balançavam de forma nem um pouco ameaçadora.
Havia, ao longo da noite -a abertura da Reputation Stadium Tour-, um bocado de cobras. Durante a estranhamente melancólica “King of My Heart”, elas estavam no telão, entrelaçadas. No começo do show, elas envolviam uma plataforma no centro do palco. Um dos meios de transporte que ela usou para se mover de um lado a outro do estádio era em forma de cobra. Ela cantou a animada “Look What You Made Me Do” segurando um microfone com detalhe de cobra. Nas lojas de produtos da turnê, camisetas verde-oliva com cobras nos bolsos da frente custavam 50 dólares.
Desde o lançamento do Reputation, em novembro, a cobra se tornou o espírito animal de Swift, e também o símbolo que ficou no caminho de seu espírito. Ela a tomou para si depois de Kim Kardashian usar contra ela em 2016, no auge das tensões entre Swift e o marido de Kardashian, Kanye West. Kardashian disse que Swift não era confiável, e pegou.
Na cabeça de Swift, no caso. Seu comprometimento com a história é intenso, e parece coisa de Dom Quixote. Mais tarde no show, ela falou sobre as cobras, contando ao público que a briga tinha causado “alguns momentos bem difíceis” mas que ela tinha saído disso mais forte que antes.
Foi essa a versão de si mesma que ela apresentou aqui -resiliente, feroz, fria. Mas para Swift, de 28 anos, que ao longo da última década ou mais esteve entre as mais calorosas superestrelas do pop, interpretar uma rainha do gelo, princesa da dor, guerreira de aço, não parece muito natural.
Então este show foi de certa forma -mas não completamente- um cabo-de-guerra entre a Nova Taylor e a Velha Taylor. Se o objetivo de Kardashian era redefinir a narrativa pública sobre Swift, Swift terminou o serviço, sufocando seu velho eu em busca de algo mais à prova de balas.
Ao longo de mais de duas horas, sua performance teve um tipo de intensidade industrial e sobretons góticos. Músicas como “…Ready For It?”, “Don’t Blame Me” e “End Game” quase machucaram. As roupas eram escuras, brilhantes e imperiais. Às vezes ela quebrava o momento com um sorrisinho rápido, mas na maior parte do tempo continuou firme.
Isso acabou formando um show cheio de drama, mas nem sempre dramático, e em geral desprovido das coisas que Swift faz melhor. Ela é mais expressiva com o rosto, sendo intimista com apenas alguns gestos. Numa escala assim, pode ser um desafio. Ela não é uma dançarina muito confortável, mas essa performance sempre pedia movimento.
Houve momentos em que se apoiar na amargura dos últimos anos se provou eficaz. Em “Look What You Made Me Do”, as farpas estavam apontadas para Kanye West com o “palco torto” (de sua Saint Pablo Tour), os dançarinos entrelaçados com uma plataforma média que balançava de lado a lado. O “I’m sorry, the old Taylor can’t come to the phone right now” da música foi entregue em vídeo por Tiffany Haddish.
Apesar de o clima predominante da apresentação ser agressivo e duro -até mesmo os dançarinos estavam geralmente vestidos para guerra-, o clima predominante da música era mais suave (especialmente no começo da noite, quando Swift misturou várias músicas sonhadoras: “Gorgeous”, “Style”, “Love Story” e “You Belong With Me”).
É uma tensão similar à do próprio Reputation -um grande álbum, mas talvez não um grande álbum de Taylor Swift. Ele marca a adoção completa da estética do pop contemporâneo depois de uma marcha lenta e deliberada do estrelato do country adolescente. Foi certificado como platina tripla, mas é seu álbum menos bem-sucedido comercialmente, e o álbum com menos sucessos duradouros. Os encantos de Swift são micro, e às vezes são ocultados pela estética macro do álbum.
Reputation é sobre atacar seus antagonistas, é claro, mas também é sobre procurar, e talvez encontrar, amor no meio de uma severa falta de autoconfiança. Nos momentos em que ela se doou a esse sentimento -como “New Year’s Day”, que cantou no piano, e “Delicate”, que entregou sozinha no palco enquanto a batida etérea ressoava-, ela brilhou. E quando ela revisitou a melancólica “All Too Well”, de seu álbum Red, de 2012, ela estava animada, mas calma. (“Long Live”, do Speak Now, de 2010, foi muito menos bem-sucedida.)
Então foi confuso que Swift escolheu um terceiro caminho para concluir o show: petulância. Primeiro veio “We Are Never Ever Getting Back Together”, sucesso exuberante do Red que mostra ela em seu melhor, balançando o dedo e levando a melhor emocionalmente. Mas aquela música colidiu com “This Is Why We Can’t Have Nice Things”, uma das mais atrevidas do Reputation, em que a balançada de dedos (direcionada a West) vem com uma ostentação de superioridade moral (apesar de ela parecer bem oca considerando as últimas semanas de West). Em certo ponto, todo mundo no palco estava dando risinhos conspiratórios. Alguns dos dançarinos -e Swift também- tinham se molhado em uma fonte que tinha em cima do palco. Foi malvado, feliz e vago. Depois de uma performance com uma armadura tão pesada, talvez isso indique que ela finalmente estava pronta para se livrar daquela maldita casca grossa.
Fonte: The New York Times
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