Com o novo documentário de Taylor Swift, Miss Americana, da Netflix, ela faz algo quase inédito para uma estrela pop: ela para de tentar controlar todos os aspectos de sua narrativa. Embora a maioria das celebridades esteja obcecada com a difícil tarefa de influenciar a maneira como o público as vê, chegou um momento na vida de Swift, não muito tempo atrás, em que ela percebeu que agradar e impressionar a todos – sendo chamada de “boa menina” – não era só simplesmente impossível, mas também tóxico.

Coincidentemente, essa percepção ocorreu na época em que a diretora Lana Wilson – uma documentarista cujo primeiro filme, After Tiller, seguiu os realizadores de aborto mais procurados dos EUA, e o segundo, The Departure, conta a história de um punk que se tornou padre budista e trabalha para impedir o suicídio no Japão – estava filmando a vida de Swift no palco e por trás das cortinas para um documentário. Portanto, é conveniente que para Miss Americana, Swift abra mão – ela não é a produtora executiva de seu próprio documentário, mudando ângulos de câmera e exigindo cortes. Em vez disso, ela escolheu uma cineasta cujo trabalho ela respeitava e lhe permitiu compartilhar uma nova perspectiva sobre sua evolução pessoal e artística ainda em andamento.

Com Miss Americana e sua música “Only the Young”, a Billboard conversou com a diretora Lana Wilson sobre tudo, desde a captura do ‘despertar’ político de Swift até a decisão de quanto o público precisava ver dos animais de estimação de Swift.

O documentário é bastante esclarecedor, especialmente se comparado como os documentários de pop stars são normalmente.Como você e a equipe dela abordaram o assunto de ‘aprovação final’?

Quando eu conheci Taylor, ela deixou bem claro que queria minha perspectiva como diretora e queria que eu entrasse para encontrar a história que eu queria contar – o que é sempre bom ouvir para qualquer artista. Ela realmente queria uma perspectiva de alguém de fora sobre o que ela estava passando. Filmamos e editamos o filme, mostramos alguns cortes a Taylor e ela deu um ótimo feedback. Ela nunca falou, “Não, eu não quero mostrar isso” – nada disso. Você sempre mostra cortes ainda não finalizados do seu filme a outros documentaristas e recebe feedback de outro contador de histórias, e suas opiniões eram como se eu estivesse fazendo isso. Foi outro excelente conjunto de reações ao filme. Ela adorou desde o primeiro corte, ela estava de acordo.

Ela mesma é uma contadora de histórias.

Sim, isso é algo que ajudou a nos conectarmos desde o início, somos ambas contadoras de histórias. Foi incrível que ela quis me dar a liberdade de encontrar e contar a história e, em seguida, ficou tão animada com isso.

Como contadora de histórias, você começou a visualizar a narrativa no meio dela, ou surgiu depois?

Um pouco dos dois. Entro com curiosidade e perguntas e uma mente aberta. É assim que você conhece alguém e vê o que surge. Quando conheci Taylor, eu, obviamente, me perguntei como seria ser uma artista feminina extraordinariamente bem-sucedida e poderosa em uma indústria dominada por homens. Alguém que por 15 anos teve essa carreira incrível, mas também enfrentou todas essas pressões dos olhos do público e recebeu tanto feedback não apenas sobre sua música, mas sobre ela como pessoa. Então eu trouxe muitas perguntas sobre tudo isso.

Sua decisão de se manifestar politicamente foi esse incrível momento de amadurecimento com o qual pensei que muitas pessoas seriam capazes de se conectar. Todos temos momentos em nossa vida em que discordamos das pessoas que mais nos amam e dizemos: “Eu amo você, mas tenho que fazer as coisas do meu jeito desta vez”. Isso foi tudo que aconteceu ao longo das filmagens. E, ao montar o filme, eu não queria fazer uma página da Wikipedia sobre sua vida e mostrar um resumo exaustivo de sua carreira. Eu queria contar essa história realmente específica e poderosa de alguém que é uma boa garota e que decide falar. Então a pergunta foi: quais momentos no início da carreira dela foram importantes para dar profundidade, embasamento e contexto para a decisão?

Eu gosto do fato deste não ser um olhar super exaustivo para cada parte da vida dela.

Todos nós já vimos aqueles filmes onde você está se arrastando ao longo dos anos e isso pode parecer uma obrigação. E eu também queria que isso fosse algo com o qual as pessoas pudessem se conectar, mesmo que não fossem fãs da música de Taylor. Eu queria que todos tirassem algo disso como um ser humano.

Um momento muito relacionável mostra ela discutindo com o pai sobre se manifestar politicamente: ele está preocupado que ela influencie os fãs e até coloque em risco sua vida. É uma filmagem íntima – você ficou tipo “não acredito que estamos filmando isso”?

Isso era algo – nós já estávamos filmando antes e Taylor me disse que estava pensando em se manifestar politicamente dessa maneira. E eu fiquei tipo: “Tudo bem, se surgir algo de última hora que você acha que possa ser importante para o que está acontecendo, por favor, se eu não estiver lá, filme de alguma maneira. Use um celular. Convide alguém para segurar uma câmera”. Na verdade, foi alguém de sua equipe que tinha uma pequena câmera DSLR filmando. E então eu peguei a filmagem imediatamente depois e fiquei surpresa quando a vi.

Eu pensei que era algo incrivelmente poderoso e comovente. As pessoas de sua equipe a amam mais do que tudo, elas a apoiaram por toda a sua carreira e seus sentimentos são totalmente compreensíveis. Ela se preocupa muito com seus fãs – é claro que eles não querem alienar nenhum deles. E as preocupações de seu pai sobre sua segurança são completamente compreensíveis. Foi uma coisa incrível de se ver.

Em termos de tempo, quantas filmagens você conseguiu com ela e a equipe?

Muito tempo. Comecei a filmar durante a Reputation Tour e depois durante o processo de criação do Lover. Taylor tem uma agenda louca, mas o tanto quanto possível. E era importante para mim não filmar apenas os grandes momentos, as performances e o álbum lançado, mas os momentos mais mundanos da vida cotidiana. Foi tão divertido ver como as pessoas estão amando a cena em que ela come um burrito. [Risos]. É a cena favorita das pessoas. Pode ser contra-intuitivo, mas esses são alguns dos momentos mais difíceis para se chegar em qualquer documentário. “Ah, sério, você quer me filmar almoçando? Mas isso é muito chato!” Na verdade, não é chato, porque esses são os momentos humanos aos quais todos podem se conectar.

Eu amo esse contraste entre o comum e o extraordinário na vida de Taylor. Essa foi uma das coisas pelas quais me senti tão atraída desde o início. Adoro poder filmá-la no palco na frente de 60.000 pessoas e, em seguida, cortar com ela sozinha em seu carro voltando para o quarto de hotel depois de uma longa noite. Quando filmo momentos como esse, esses são os momentos em que senti uma intimidade especial e sabia que isso se traduziria para o público assistindo em casa.

Você estava filmando durante o Lover e capturando a criação de sua nova música “Only the Young”. Isso foi uma coisa pré determinada, tipo, “vamos guardar uma dessas músicas para lançar com o filme?”

Não, não foi assim. Nós filmamos, montamos uma parte do filme, eu mostrei para Taylor essa parte e foi tipo “Wow”. Eu acho que ela viu a música no contexto do filme e é quase como se a música significasse mais ainda se você a ouvisse nesse contexto. Essa foi a razão para lançar a música com o filme.

Você recebeu um acesso enorme. Há alguma coisa que você viu ou aprendeu que o público pode não saber?

Minha coisa favorita foi vê-la escrevendo suas músicas. Como você sabe ela esteve compondo suas músicas desde que ela tinha 12 anos, mas eu não acho que a maioria das pessoas saibam disso — ou eles não sabem como isso funciona. Eu acho que algumas pessoas imaginam que existe uma máquina gigante do pop e toneladas e toneladas de pessoas contribuindo em cada música, mas foi muito legal para mim ver que era só a Taylor e mais uma pessoa em um cômodo fazendo essas músicas do começo ao fim.

Para cada pessoa criativa, há muitas coisas para aprender assistindo seus processos. Há uma mistura de uma ética incrível de trabalho, mas você também tem que desenvolver a habilidade de pegar as ideias como elas vêm – porque se você perde uma ideia, ela pode não voltar mais. Foi ótimo assistí-la criando uma melodia, ou um trecho da música, ou gravando algo em seu celular. Há algumas ferramentas que ela desenvolveu para capturar esses momentos de inspiração, e aí fazer o necessário para desenvolver e tornar isso uma música.

Foi muito impressionante assisti-lá cuspir a letra de “The Man”, quando a vemos descobrir como terminar uma parte da música inacabada. Foi muito rápido!

Sim, aquela em especial foi muito legal de assistir porque você vê as coisas que estão acontecendo na vida dela, e nas coisas que ela anda pensando, e isso é canalizado diretamente para o estúdio. Há outra camada de reflexão. Com “The Man”, eu sinto que era algo que ela pensava há muito tempo, e finalmente teve a chance de se expressar. Foi como assistir alguém que tem essas ideias e pensamentos há anos e finalmente teve a chance de colocar essas letras na música.

Uma das narrativas, como você mencionou, é dessa pessoa perceber que ser uma “boa garota” que agrada a todos não é sustentável. Isso apareceu em conversas anteriores com ela sobre o filme?

Eu diria que isso se desenvolveu. Nós falamos mais sobre documentários. Ela respondeu ao meu trabalho porque eu faço filmes sobre pessoas vivendo em extraordinárias circustâncias e geralmente elas são assuntos citados em manchetes e que fazem barulho, e eu tento dar uma certa complexidade e apronfudamento a eles. Eu gosto de focar na área cinza em vez de fazer coisas preto e branco. Eu acho que ela correspondeu com isso e eu lembro dela dizendo que não gosta de documentários que parecem propaganda, e eu disse, “eu também.”

Se você sente que um ponto de vista está sendo empurrado em você, você empurra de volta. Mesmo como uma pessoa da audiência ou conversando com alguém, você se sente mais respeitado e capaz de pensar nas coisas quando você tem espaço para suas próprias reações e sugestões. Então nós conversamos um monte sobre isso quando nos conhecemos. Mas a maioria dos temas surgiram durante as gravações.

Finalmente, eu gostaria de dizer que eu amei a cena do gato na mochila.

Quando meu editor colocou essa cena eu estava tipo, “Isso é incrível, mas será que não é muito tempo para se passar com o gato na mochila?” E ele me olhou e disse: “Não. Definitivamente não”. E eu então disse, “Você está certo”.

Entrevista publicada pela Billboard e traduzida pela Equipe TSBR.





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