15 de fevereiro de 16 Autor: Airton Vieira
Como Taylor Swift reverteu a opinião feminina a seu respeito

Há algumas semanas atrás, a repórter britânica Ellie Woodward, do BuzzFeed, fez um artigo especial intitulado “Como Taylor Swift reverteu a opinião feminina e se tornou a popstar mais famosa do mundo”, mostrando como Taylor conseguiu cativar mais ainda seu público dos últimos dois anos pra cá.

Como a própria cantora já comentou, os anos de 2012 e 2013 foram difíceis para ela por ataques da mídia a respeito de sua vida amorosa, principalmente, e em como ela se posicionava em relação a outras mulheres, porém Taylor conseguiu, quase que literalmente, construir um castelo com todas as pedras que foram atiradas contra ela neste período (como a própria letra de “New Romantics” diz), criando o que viria a ser o “1989”, um álbum diferente de seus trabalhos anteriores, tanto na sonoridade, em sua narrativa e em seu posicionamento como mulher, dando origem a hits satíricos sobre si mesma como “Shake It Off” e “Blank Space”, cativando uma parcela do público feminino que estava cada vez mais tendo uma visão negativa ao seu respeito, e se tornando ainda mais acessível.

Leia abaixo o artigo completo:

Em 2013, Swift era figurinha carimbada em listas das “celebridades mais odiadas”. Então surgiu um retorno estratégico em 2014 – e, com ele, uma transformação na opinião pública além de todo o reconhecimento.

Depois que o relacionamento de Taylor Swift com Harry Styles acabou em 2013, ela recebeu tanto abuso diariamente que ficou offline por um ano. Na mídia, ela foi rotulada de namoradeira em série, uma “canibal” que era louca e desesperada por um namorado. No final do ano, ela ficou em 18º lugar na lista da Star de “Celebridades Mais Odiadas do Ano”.

Posts em blogs com títulos como “Por que nós amamos odiar Taylor Swift” e “Taylor Swift é um pesadelo feminista” dominaram a internet. Ironicamente, porém, ninguém queria ler sobre ela. As pessoas não clicavam nos artigos online que falavam sobre ela, e em bancas de jornal ela foi consistentemente uma das estrelas de capa com pior performance – sua aparição na capa de natal da Cosmopolitan foi a edição menos vendida daquele ano.

Ela foi zombada sem piedade quando se soltou e dançou em premiações, suas composições foram criticadas como falsas e clichês, e sua personalidade foi chamada de hipócrita.

Muitas dessas críticas vieram de outras mulheres. Isso é algo que Swift disse depois que Tina Fey e Amy Poehler brincaram sobre sua vida amorosa no Globo de Ouro de 2013, avisando-a para “ficar longe” de homens solteiros e passar um tempo sozinha. Mas, como foi provado pelas baixas vendas de revistas, até mesmo essas mulheres que não estavam comentando sobre essa antipatia a boicotaram efetivamente.

Então Swift desapareceu do olhar público por seis meses. Ficou claro que, quando ela voltasse em 2014, as coisas teriam que ser diferentes. Se ela quisesse atingir um sucesso em uma escala em massa, sua imagem pública precisava de uma transformação.

E a parte mais importante de tudo foi reverter a opinião feminina.

A crítica que ela tinha recebido no passado foi, em parte, por causa de sua própria interpretação de outras mulheres em suas músicas e vídeos. Em seus primeiros trabalhos, ela escrevia a partir de uma perspectiva de mulher “inocente” desejando um homem angelical que era seduzido por “outras mulheres” super sexualizadas.

Os críticos a acusaram de alimentar os estereótipos de gênero e vilanizar a sexualidade de outras mulheres. Como dizia [uma de] suas letras: “Ela é uma atriz / Mas é mais conhecida pelas coisas que faz no colchão”. E no vídeo de “You Belong With Me”, Swift, vestida de branco, usando seu cabelo cacheado em curvas leves, é contraposta com a “amante rival” em um vestido vermelho, batom vermelho, e uma longa peruca preta. Em seus primeiros quatro álbuns, Swift usou a tropa de rival em oito músicas e em mais da metade de seus vídeos.

Sua transformação começou com uma mudança no campo da composição. Embora os antecessores de 1989 tenham focado em relacionamentos entre Swift, seu interesse amoroso e em uma garota rival, todas as faixas do 1989 foram sobre seu relacionamento com ex-namorados e, mais importante, sobre si mesma. Não pode ser uma coincidência que o álbum termine com “Clean”, uma ode a superar o relacionamento que não deu certo e seguir em frente – solteira e contente.

E seu retorno ao olhar público foi como essa mulher solteira e contente que falou bastante sobre o quão feliz ela estava longe de relacionamentos. Isso, bem como o fato de que ela permaneceu solteira durante todo o período promocional do 1989, percorreu um longo caminho em direção à legitimação tanto de seus comentários sobre estar feliz longe de um namoro como também sobre suas negações prévias de ser uma namoradeira em série.

Além disso, seu relacionamento com Calvin Harris só se tornou oficial em agosto de 2015, um ano inteiro depois de seu retorno.

Como resultado, seu novo relacionamento foi muito bem recebido. Na verdade, uma fotografia de Swift com Harris se tornou a terceira foto mais curtida no Instagram em 2015. E em contraste com seus relacionamentos anteriores, Swift permaneceu quieta sobre o assunto Harris. Ao subverter tudo o que o público acreditava ser verdade, ela ganhou a confiança deles.

Isso foi poderosamente alcançado em “Blank Space”, uma música satírica escrita a partir da perspectiva de uma instável namoradeira em série que a mídia e o público acreditavam que ela fosse. Ao escrevê-la, ela implementou o mecanismo de defesa testado e aprovado: fazer piada de si mesma antes que outra pessoa o faça. Nesse caso, reconhecer e satirizar sua imagem de uma “canibal” desesperada assegurou que ela tinha recuperado o poder que a mídia e o público empunharam por tanto tempo. E ao tomar conta dessa piada, Swift encerrou toda a narrativa sobre sua vida amorosa.

Na verdade, ela se tornou tão não-incomodada com essa criatura de namoradeira em série que também não deu a mínima de que a sátira pudesse ser mal interpretada. Ela recentemente disse à revista GQ: “Eu sabia que algumas pessoas ouviriam ‘Blank Space’ e diriam, ‘Viu, estávamos certos sobre ela .’ Mas se você não entende a piada, você não merece entender a piada.”

Mais interessantemente, até mesmo aqueles que perderam a sátira ainda se identificaram com a canção. Revisoras de música começaram a dizer que conseguiam se relacionar com o fato de serem chamadas de “loucas” e que até o momento a recusa de Swift de se identificar como tal tinha a feito ser “menos relacionável”. Outros levaram isso como uma mensagem de solidariedade para todas as jovens mulheres por aí.

Não foi só “Blank Space” que funcionou para transformar sua reputação. “Shake It Off”, com esse refrão sobre ignorar os haters, foi outro exemplo de como travar a negatividade destinada a ela. Se ela não fosse afetada pela crítica o suficiente para fazê-la fazer qualquer coisa além de se livrar das críticas, então essa crítica foi redundante. E ela, com sucesso, recuperou o controle da piada sobre sua dança esquisita no clipe da canção, no qual ela zoa de si mesma ao falhar na tentativa de acompanhar os profissionais.

Um lento senso de realização começou a pairar em seus críticos: E se essa exibição ostensiva de danças esquisitas significasse que Swift era, na verdade, extremamente ciente de si mesma? E se ela não só estivesse reconhecendo a piada, mas também provando que ela esteve dentro dela o tempo todo?

Isso questionou a maior crítica que ela recebia a partir de outras mulheres: de que ela “forçava demais”. Nós queremos que nossas celebridades possuam humor, inteligência, beleza e personalidade – tudo expressado de forma natural. Aqueles que “forçam demais” conseguir qualquer uma dessas coisas veem a simpatia desabar. Mas em apenas quatro minutos, o vídeo de “Shake It Off” desarmou essa narrativa. Talvez ela nunca tivesse “tentado”. Talvez essa pessoa esquisita e desastrada fosse realmente apenas ela mesma.

Como resultado, quando ela se soltou no AMAs em Novembro de 2014, longe de zombarem dela, o público e a mídia acharam esse ato cativante. Ela, com sucesso, se rebatizou e foi de alguém desesperada e hipócrita a alguém amavelmente não-descolada, sua melhor amiga desastrada.

E isso coincidiu com outra grande mudança: ela passou de escrever músicas sobre ser zoada por garotas e não ter amigos para alguém conhecida por suas amizades com outras mulheres. Porque atualmente ela é a líder do seu “Esquadrão” – um grupo de amigas celebridades. Tenha sido isso uma estratégia cuidadosamente pensada para a manutenção de sua imagem ou não, serviu para transformá-la em uma garota das garotas.

Na verdade, o único homem com quem Taylor se liga socialmente é Ed Sheeran, cuja base de fãs é predominantemente feminina. Porém significativamente, a essência de seu esquadrão consiste em mulheres atrativas, legais e inspiradoras. Essas amigas apareceram durante vídeos-montagens em sua turnê mundial do 1989, dando testemunhos sobre Swift e falando sobre a importância de encorajar outras mulheres.

Swift também colocou isso em prática ao convidar artistas para seu palco, várias das quais foram mulheres cuidadosamente selecionadas, em uma demonstração pública de poder feminino.

Mas sua amizade com Lena Dunham também teve outra função. Em 2012, Swift publicamente rejeitou o feminismo, dizendo: “Eu realmente não penso nas coisas como sendo garotos versus garotas. Eu fui criada por pais que me faziam pensar que se você trabalha tão duro quanto os garotos, você pode ir longe na vida.”

Mas quando ela fez seu retorno no ano passado, ela disse que Lena foi um catalisador em sua mudança de posicionamento. “Eu não entendia que dizer que você é uma feminista é apenas dizer que você espera que homens e mulheres tenham direitos iguais”, disse Swift. “Ficar amiga de Lena me fez perceber que eu sempre tomava posicionamento feminista sem dizer isso.”

Claro, Swift tem sido criticada por ser pulverizadora do “feminismo branco”, e isso foi enfatizado por sua resposta aos tweets de Nicki Minaj sobre as indicações ao VMA da MTV no começo do ano. Depois de Minaj ter comentado sobre a falta de reconhecimento na indústria da música para com os artistas de cor, Swift se intrometeu para defender o que ela viu como um ataque pessoal. Ao priorizar-se no centro de uma luta encarada por mulheres de cor, ela pareceu ignorar e colocar de lado essas lutas.

O vídeo de “Shake It Off” também teve problemas raciais. A cena onde ela engatinha entre as pernas de mulheres negras enquanto olha para cima para vê-las rebolar, foi acusada de brincar com a fetichização histórica do corpo negro feminino.

Não é surpresa, então, que ela tenha cuidadosamente construído um tweet de pedido de desculpas para Minaj comentando sobre essa falta de compreensão. Mas ao apoiar o feminismo e admitir que ainda está aprendendo sobre interseccionalidade em um momento onde a causa nunca esteve em tanto destaque na mídia, Swift assegurou que está, no mínimo, se posicionando do mesmo lado dessas outras mulheres ao invés de ir contra elas.

Consequentemente, ela conseguiu alcançar a característica que todas as mulheres de sucesso fenomenal possuem, a falta daquilo que estava prendendo-a: ser o tipo de mulher que outras mulheres gostam. As estrelas femininas mais bem sucedidas do mundo, desde Beyoncé até Jennifer Lawrence e Emma Watson, são todas altamente reverenciadas por outras mulheres. Ao reverter sua opinião sobre o feminismo, cercar-se de mulheres, e cimentar sua identidade como a garota que você gostaria de ter como amiga ao invés daquela com quem você brigaria, Swift se juntou à elite.

Como resultado, o público agora gosta de Swift de um modo que simplesmente não gostavam antes. Esse ano ela não só experimentou o maior crescimento de qualquer celebridade no Instagram (um aumento de 73% em relação ao último ano), como também se tornou a celebridade mais seguida do mundo. As pessoas estão lendo artigos sobre ela e assistindo seus vídeos em milhões, e apenas cinco meses depois de seu lançamento, o álbum 1989 vendeu cinco milhões de cópias – mais do que seus álbuns anteriores em dois anos e meio.

Então veio o maior impacto cultural – sua amizade com celebridades fora da indústria da música, um nome de Brooklyn 99, Ryan Adams, lançando um álbum de covers do 1989, e uma carta aberta à Apple que fez a empresa rever seu servido de streaming. Mas talvez a coisa mais efetiva de todas em reforçar sua identidade positiva tenha sido o relacionamento que ela cultivou com seus fãs. A conexão em suas redes sociais, lançada antes do lançamento de 1989, foi sem precedentes e engenhosa.

Sua decisão de seguir fãs no Tumblr, convidá-los para sua casa e pessoalmente selecionar presentes de natal para eles foi muito bem documentado. Mas foram os momentos menores, aconselhando fãs durante términos e sobre bullying, que deixou claro que ela entende dos problemas encarados por jovens mulheres.

Ela sabia o quão disseminado seu alcance poderia ser. Ela admitiu fazer certas expressões faciais durante aparições na TV para que seus fãs possam fazer GIFs, e é ciente de que esses discursos são espalhados pela internet da mesma forma. Swift usou as mídias sociais como um veículo de comunicação com seus fãs; cimentando sua imagem pública como a de uma modelo agradável.

Ao ser tão aberta com mulheres tanto online quanto na vida real, Swift permitiu que seus fãs e o público em geral tivessem acesso a sua personalidade – o que é muito mais complexo do que apenas ser uma maníaca por homens e alguém controladora. E embora seus fãs tenham sempre a apoiado, ultimamente o mesmo público que a zombava e a questionava também gosta do que vê.

Fonte: BuzzFeed.com





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