Faltam 9 dias para Taylor Swift lançar seu 11º álbum de estúdio no dia 19 de abril. Intitulado “The Tortured Poets Department” ou “O Departamento dos Poetas Torturados”, em tradução livre, o álbum terá 16 faixas em sua versão standard e quatro bônus para as mídias físicas.

É claro que não poderíamos deixar esse título requintado passar batido, então se você não costuma ler poemas ou não está familiarizado, esse post é para você! Aqui vão 11 poetisas – e algumas de suas obras – que você precisa conhecer antes de escutar o novo álbum de Taylor Swift.

  • Cecília Meireles

Considerada por muitos como a maior poetisa brasileira, Cecília nasceu no Rio de Janeiro em 1901 e fez história ao destacar-se na segunda fase do modernismo brasileiro, no grupo de poetas que consolidaram a “Poesia de 30”. Suas obras trazem reflexão sobre o mundo contemporâneo e trabalham temas como o amor, solidão, tempo, saudade, sofrimento, religião e morte.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

  • Maria Firmina dos Reis

Filha de uma escrava alforriada e de um pai negro, Maria Firmina dos Reis foi a primeira romancista negra do Brasil. Em 1859, publicou Úrsula, primeiro romance brasileiro anti-escravagista e primeiro escrito por uma mulher no Brasil, e, em 1871, lançou Cantos à beira-mar. Além do pioneirismo na literatura, Maria Firmina também desafiou os padrões no campo da educação. Ela foi primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão para o cargo de professora de primário.

Esquece-a

Amor é gozo ligeiro,
Mas é grato e lisonjeiro
Como o sorriso infantil;
Promessa doce, e mentida,
Alenta, destrói a vida;
É um delírio febril.
Muito te amei… minha lira,
Que triste agora suspira,
Nesta erma solidão,
Bem sabes ─ ricas de flores,
Cantava os ternos amores,
Do meu terno coração.
Minha afeição era pura.
Não era engano, cordura,
Não era afeto mentido;
Se ela assim te não cativa,
Esquece-a, que sou altiva,
Esquece-a, sim ─ fementido.

  • Emily Dickinson

Emily foi uma grande poetisa norte-americana que, infelizmente, não atingiu grande sucesso em vida. A maioria de suas obras foram publicadas após sua morte, por sua irmã, em 1890. Temas como imortalidade, amor, natureza e relacionamento humano estão presentes em seus poemas. Uma curiosidade que veio à tona recentemente é que Emily possui uma ligação de parentesco com Taylor Swift! Isso mesmo, elas são primas de sexto grau, três vezes afastadas. Que, com certeza, é bem distante para ser considerado família, mas é bem curioso.

Morrer por ti era pouco

Morrer por ti era pouco.
Qualquer grego o fizera.
Viver é mais difícil —
É esta a minha oferta —

Morrer é nada, nem
Mais. Porém viver importa
Morte múltipla — sem
O Alívio de estar morta.

  • Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus foi uma escritora mineira que ficou nacionalmente conhecida em 1960, com a publicação de seu livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, no qual relatou o seu dia a dia na favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Carolina é considerada a precursora da Literatura Periférica e constantemente usava a literatura como uma forma de sair da invisibilidade social, bem como expor as injustiças raciais que era inserida.

Muitas fugiam ao me ver…

Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

  • Sylvia Plath

Sylvia ficou conhecida mundialmente como uma das poetisas que moldaram o século XX após seu suicídio, em 1963. A autora, que não obteve muito reconhecimento em vida, foi diagnosticada com depressão ainda muito nova e, aos 30 anos, tirou sua vida. Seus diários, mantidos desde a infância e tornados públicos postumamente, narram sua vida de angústias e depressão.

Ariel

Êxtase no escuro,
E um fluir azul sem substância
De penhasco e distâncias.

Leoa de Deus,
Nos tornamos uma,
Eixo de calcanhares e joelhos! – O sulco

Fende e passa, irmã do
Arco castanho
Do pescoço que não posso abraçar,

Olhinegra
Bagas cospem escuras
Iscas –

Goles de sangue negro e doce,
Sombras. Algo mais
Me arrasta pelos ares –
Coxas, pelos;
Escamas de meus calcanhares.

Godiva
Branca, me descasco –
Mãos secas, secas asperezas.

E agora
Espumo com o trigo, reflexo de mares.
O grito da criança

Escorre pelo muro
E eu
Sou flecha,

Orvalho que avança,
Suicida, e de uma vez se lança
Contra o olho

  • Hilda Hilst

Paulista nata, a autora Hilda Hilst ficou conhecida por seus versos apaixonados ao mesmo tempo que polêmicos e ousados para sua época. Hilda faz parte da terceira geração modernista (ou Pós-Modernismo) e destacou-se ao apresentar obras com caráter erótico, intimista e irônico.

Tenta-me de novo

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

  • Emily Brontë

Com uma escrita extremamente melancólica, Emily Brontë ficou conhecida por um dos maiores clássicos da literatura mundial, “O Morro dos Ventos Uivantes”. Embora sua obra tenha permeado por gerações e até hoje possui inúmeros admiradores, Emily foi descrita como uma pessoa tímida e reclusa. Apesar de seu enorme sucesso, a autora possui apenas duas obras publicadas e nunca pôde ter dimensão da sua fama, devido ao seu falecimento aos 30 anos.

Últimas Palavras

Eu não podia saber como é duro e cruel
Pronunciar a palavra Adeus;
Hoje no entanto volto como suplicante,
Para juntar às orações do coração a voz dos lábios.

A colina deserta e o inverno matinal,
Bem como a árvore de séculos nodosos,
Podem despertar o desprezo da tua alma:
Acharei para eles um desdém semelhante.

Tenho o direito de esquecer teus olhos negros,
Suas sombras,
E o encanto fascinante de teus lábios pérfidos.
Não renegaste as promessas sagradas
Que outrora formularam os teus lábios de fé?

Se basta ordenar para forçar o teu amor,
Se ele se deixar deter pela razão das paredes,
Não saberei obrigar uma alma a se afligir
Com semelhantes traições e friezas desta espécie.

Pois sei que existe mais de um coração
Que, ligando-se ao meu,
Por uma longa prova assegurou este laço.
E sei de um olhar cujo brilho passageiro
Durante muito tempo dividiu comigo o seu calor bendito.

Estes olhos serão para mim o Tempo e a Luz.
Minha alma com seu auxílio enfim se evadirá,
Eles expulsarão de mim os sonhos insensatos,
E as sombrias litanias onde a memória se aconchega.

  • Conceição Evaristo

A mineira Conceição Evaristo veio de origem humilde e trabalhou grande parte de seus primeiros anos como empregada doméstica. Após se mudar para o Rio de Janeiro e se formar em Letras pela UFRJ, Conceição decidiu ingressar na carreira literária para publicar obras que fazem defesa a sua ancestralidade e afrobrasilidade.

Eu-Mulher

Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes – agora – o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.

  • Anna Akhmátova

Anna era uma poetisa russa conhecida por recitar seus poemas em eventos privados, entre amigos de sua confiança. A autora queimou todos os seus cadernos com anotações e, ao invés de publicar suas obras, memorizou-as. Isso porque, em 1938, seu filho Lev foi preso por causa de seus versos pouco convencionais. Como poeta, ela não podia salvar as vítimas do terror de Stálin, dos exílios e do cerco de São Petersburgo durante a Segunda Guerra Mundial, mas os versos que criava podiam preservar a memória e salvar essas vítimas de uma segunda morte: o esquecimento.

Fonte: Russia Beyond

O último brinde

Bebo à casa arruinada,
às dores de minha vida,
à solidão lado a lado
e à ti também eu bebo –

aos lábios que me mentiram,
ao frio mortal nos olhos,
ao mundo rude e brutal
e a Deus que não nos salvou.

  • Adélia Prado

Considerada por muitos a maior poetisa viva do Brasil, Adélia Prado nasceu em Minas Gerais no dia 13 de dezembro. Ligada ao movimento modernista brasileiro, sua obra trata de temas como a religião, condição feminina e amor. Com uma linguagem coloquial, seus poemas romperam barreiras e carregam principalmente referências a vida cotidiana de uma mulher na sociedade.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

  • Lila Ripoll

A autora gaúcha Lila Ripoll atuou no campo cultural do movimento do operariado do Rio Grande do Sul. Participou da Aliança Nacional Libertadora, em 1935, e intensificou sua atuação junto à Frente Intelectual do Partido Comunista, que reunia renomados escritores seguidores do ideário marxista. Lila denunciou as desigualdades sociais, suas mazelas e consequências através de suas obras e textos.

Poema VI

Hoje pensar me dói como ferida.
O próprio poema não é poema.
Tem qualquer coisa de trágico.
De pétalas descidas.
De véu cobrindo o retrato
de um morto.

Hoje pensar me dói como ferida.
Mas é uma imposição – pensar.

Não quero estado de graça,
nem aceito determinismo.
Só a morte é irreversível.

A opressão do azul
aumenta meu conflito,
e é cruel escutar as razões
da razão.

Quisera repartir-me
no cristal da manhã.

Ser um pouco daquela rosa
tocada de irrealidade;
da tênue luz ferindo
o espelho do rio;
daquela estátua pudica
que parece ter ressuscitado
a inocência.

Mas em vez disso,
aqui estou:
queimada em pensamentos,
quebrados os instrumentos
do sonho.





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