Depois de adquirir os direitos dos primeiros seis álbuns de Taylor Swift em 2019, Scooter Braun recentemente os vendeu para uma empresa de capital privado chamada Shamrock Capital, fechando um negócio que, além de arrecadar US $ 300 milhões, provavelmente fará com que ele siga lucrando com o trabalho de Swift. Em resposta, a cantora pop está cumprindo sua ameaça de regravar seu catálogo anterior, já que ela pode lançar novas versões de cada álbum que lançou em sua antiga gravadora, Big Machine Records. Swift tem falado publicamente sobre esse plano há mais de um ano, mesmo sem nenhuma música para mostrar, mas na semana passada, ela compartilhou um trecho de sua versão regravada de “Love Story” e prometeu que o resto de suas regravações será lançada “em breve”.

O que Swift está fazendo pode parecer mais uma tentativa de vencer sua longa batalha contra Braun do que um movimento calculado de negócios. Mas de acordo com vários veteranos da indústria que falaram com a VICE, se Swift conseguir fazer isso, ela ganhará uma quantia imensa de dinheiro – e diminuirá muito o valor de suas gravações antigas no processo.

Você deve estar pensando que o contrato de Swift com a Big Machine poderia impedi-la de regravar suas músicas antigas, mas ela pode fazer isso legalmente por dois motivos, de acordo com Dina LaPolt, uma advogada de entretenimento que representa artistas como Steven Tyler, 21 Savage, e vários outros artistas importantes. Em primeiro lugar, enquanto Shamrock Capital possui os masters dos primeiros seis álbuns de Swift – ou em outras palavras, as gravações desses álbuns – Swift possui os direitos de publicação. (Como ela escreveu suas próprias canções, ela tem os direitos sobre as letras, melodias e composições e não precisa pedir permissão ou pagar a ninguém para usá-las como ela preferir). Em segundo lugar, a “restrição de regravação” em seu contrato com a Big Machine – uma parte padrão de qualquer contrato de gravação, que proibia Taylor de gravar novas versões das músicas que lançou por meio da gravadora – teria expirado. Quando Swift lançar as novas versões de suas canções antigas, ela possuirá os masters e seus direitos de publicação, ganhando cada centavo e tendo o controle total de como as músicas serão usadas.

Ela vai inevitavelmente ter o poder de licenciar suas músicas para agências de publicidade e estúdios de cinema e TV, de acordo com Guillermo Page, um ex-executivo de gravadora que trabalhou para  a BMG, EMI, Sony e Universal, e que agora leciona na University of Miami. Para licenciar uma música, você precisa da permissão da gravadora que a possui e do compositor que a escreveu. Swift sempre disse não às ofertas de licenciamento, tendo em vista de que Braun iria lucrar- mas agora que ela o excluiu da equação, ela pode fechar os negócios sozinha e levar para casa 100% dos lucros obtidos.

“Ela está em vantagem e tem todo o controle”, disse Page. “Mesmo que os atuais donos do catálogo antigo queiram fazer algum tipo de acordo de licenciamento, sem a aprovação dela como compositora, eles não conseguirão. Ao gravar ela mesma os masters, isso abre portas para que ela faça esses negócios diretamente”. 

Levando em consideração essa probabilidade, a colaboração de Swift com o Match.com, que usou sua versão regravada de “Love Story” em sua última campanha publicitária, não vai ser a única; foi o primeiro de inúmeros acordos de licenciamento que Swift fará com sua música regravada. De acordo com LaPolt, Swift será facilmente capaz de convencer as empresas a procurá-la quando quiserem licenciar seus masters ao invés de pagar a Shamrock Capital por eles.

“Tenho alguns clientes que regravaram seus grandes sucessos”, disse LaPolt. “Temos empresas de gestão que são muito, muito experientes nessa área, e eles procuraram todos os supervisores musicais em todas as empresas de cinema e TV. Todas essas empresas sabem que devem procurar o [novo distribuidor] e licenciar as regravações , porque vai ser bem mais barato, e o artista quer isso”. 

As agências de publicidade e os estúdios de cinema interessados nas músicas de Taylor terão que procurar a ela para comprar o licenciamento de suas músicas: Por irem direto até ela, eles podem garantir tanto a licença de publicação e os direitos de uso dos masters de suas músicas de uma vez só, diferente do procedimento que teriam que enfrentar para pegar o licenciamento com Taylor e depois o direito dos masters com a Shamrock Holdings. Além disso, de acordo com Tonya Butler, ex-executiva de uma gravadora e atual chefe do programa musical da Berklee, Taylor provavelmente fará um acordo com seus licenciados.

“Se ela souber quanto as gravadoras estão cobrando, ela vai barrá-los em todas as oportunidades”, disse Butler. “As gravadoras são notoriamente muito mais caras do que as editoras. É muito mais fácil – e mais barato – licenciar uma única parte que controla os dois lados.”

Butler levantou a possibilidade da Shamrock tentar virar o jogo contra Swift: ao invés de permitir que ela os rebaixasse, eles poderiam optar por licenciar suas canções a preço de custo, tornando mais barato adquiri-las. Mas, como Taylor controla seus direitos de publicação, ela poderia revogar ostensivamente a autorização de uma empresa que tente usar suas músicas se essa empresa tentasse trabalhar com a Shamrock. Na batalha por um acordo, Taylor parece ter certeza de como sair por cima. Mas Butler alertou que a Shamrock pode já ter uma estratégia para isso.

“Só porque não sabemos qual a carta na manga da Shamrock, não significa que eles não estão planejando nada”, disse Butler. “Nós sabemos que Taylor queria regravar suas músicas desde 2019. [Se você é a Shamrock Capital], você não gastaria tanto dinheiro sem ter algum tipo de plano.”

Taylor deve arrecadar centenas de milhares (senão milhões) de dólares por meio de acordos de licenciamento – mas quando se trata de receitas de streaming, a Shamrock pode ter a vantagem. Quando o ouvinte comum quer ouvir uma música da Taylor Swift, ele geralmente opta pela versão antiga ao invés da nova, especialmente se as regravações de Swift soarem significativamente diferentes de seus masters originais, de acordo com Page. (É importante notar que Swift disse recentemente que suas regravações terão “muitas surpresas”.)

“Uma das coisas que você percebe quando os artistas regravam suas músicas é que eles querem mudar algumas coisas”, disse Page. “Quando eles fazem isso, não percebem que estão mudando uma obra-prima – eles estão mudando uma música que já é conhecida de uma certa maneira. No momento em que você muda, não é mais a mesma música. E esse é um risco que ela está correndo.”

Mesmo que Taylor tente replicar suas gravações antigas nota por nota, ela não seria capaz de fazer isso perfeitamente, disse Page. Ela tinha 16 anos quando seu álbum de estreia autointitulado saiu; aos 30, sua voz não soa mais a mesma daquela época. Além disso, os produtores mudaram a maneira como gravam música e a tecnologia que usam evoluiu.

“Ela pode tentar estimular o consumo ao avisar os fãs de que as novas versões estão lá mas, apenas os ‘maiores’ fãs vão ser atingidos.” Page diz. “A realidade é que ela estará competindo contra si mesma em todas as plataformas. Será bem difícil, porque as outras músicas já estão lá por um tempo, alocadas em milhares de playlists, em todas as plataformas e serviços.” 

Existe uma chance que Swift pode tentar convencer ou forçar com que serviços como Spotify e Apple Music priorizem nas plataformas suas músicas regravadas. Imagine, por exemplo, que Swift queira que o Spotify remova as gravações originais de uma das músicas dela de uma playlist popular, e substituam pela nova versão. Ela poderia ameaçar não colocar nenhuma das regravações na plataforma- junto com todos os seus lançamentos futuros- se eles não cooperarem. Mas de acordo com Butler, um streaming como Spotify não aceitaria essa barganha.

“Não consigo ver o Spotify substituindo as músicas”, Butler disse. “Shamrock poderia processa-la. Se eu tenho uma licença com você e foi acordado que por x anos você vai distribuir minha música na sua plataforma, e então alguém vem e você substitui minha música pela dessa pessoa, você quebrou seu acordo comigo. Seria uma bagunça enorme” 

Assumindo que serviços como Spotify fiquem fora da briga, a probabilidade é de que a maioria dos ouvintes vão continuar escutando as músicas originais ao invés das novas. Apesar que, a fanbase dela é extremamente leal; existe a possibilidade que as regravações acabem diminuindo as versões antigas. No fim das contas, não importa. Porque ela ainda recebe royalties sobre suas antigas gravações, ou seja, está ganhando dinheiro de qualquer maneira. Ela não tem como perder. 

Considerando quão infalível, lucrativo, e quão simples o plano de Swift para ser dona de seus masters parece ser, você tem que se perguntar se outros artistas podem tentar copiar. Tantos musicistas já falaram sobre a frustração que é não ser dono de seus próprios masters, e tem brigado-quase sempre sem sucesso- para conseguir de volta. Se tudo o que é necessário para ganhar a luta é voltar para o estúdio e fazer novas versões de suas antigas músicas, por que todos os artistas não podem fazer isso? 

A resposta é: eles não são Taylor Swift. 

Você tem que ter o que Taylor Swift tem, que é uma enorme audiência e uma enorme marca”, disse Butler. “Está funcionando para ela porque ela tem todas as peças do quebra-cabeça. Se você não tem a mesma voz nas mídias, se você não tem essa marca, se você não tem o dinheiro que ela tem, se você não tem tudo o que ela tem, pode não funcionar pra você.”

Butler disse que não tem dúvidas de que outros artistas tentarão seguir os passos de Swift e que poderão encontrar algo no caminho também. Se eles não escreverem suas próprias canções – ou mesmo se escreverem uma pequena parte, mas não tudo – eles não terão o direito legal de regravá-las. Se não forem ricos o suficiente, não serão capazes de cobrir o alto custo de gravação, especialmente de uma forma que possa servir de “backup” para músicas antigas. Se eles não cultivarem uma base de fãs fervorosamente devotada, eles não serão capazes de convencer as pessoas a ouvirem suas regravações ao invés das versões originais. Ainda assim, disse Butler, muitos artistas vão tentar replicar o que Swift está fazendo – e as gravadoras sabem disso.

“A primeira coisa que vai acontecer é que os contratos das gravadoras vão mudar”, disse Butler. “As gravadoras vão tentar alterar os contratos para que nenhum caso chegue ao patamar do caso de Taylor.”

A maneira como as grandes gravadoras farão isso, de acordo com LaPolt, seria tornando as restrições de regravações mais rígidas. Da maneira que os contratos são hoje, um artista é normalmente proibido de regravar as músicas que lança dentro de uma gravadora por três a sete anos após seu lançamento. No futuro, as gravadoras poderão tentar esticar o prazo dessa restrição para 20 ou 30 anos, se não, para sempre. É quase certo que eles vão tentar, disse LaPolt.

“Toda vez que um artista faz algo para se livrar de um contrato ou obter seu IP de volta, [as gravadoras] aparecem com alguma coisa covarde e feia para garantir que isso não aconteça novamente”, disse LaPolt . “A indústria lutaria com unhas e dentes contra isso.”

De certa forma, o que Swift está fazendo parece um ponto de partida para a indústria da música, que poderá inspirar um número incontável de artistas a assumirem o controle de seus direitos autorais e reformularem irrevogavelmente a forma como os contratos de gravação são feitos. É possível que consideremos esse momento como um marco muito importante. O que é mais provável, no entanto, é que isso provará ser nada mais do que mais um movimento astuto de uma estrela pop que alcançou o topo da fama, criando para si mesma oportunidades que nenhum de seus colegas ricos, bem-sucedidos ou astutos, conseguirão. 

“Eu não acho que a maioria dos artistas será capaz de fazer isso na medida que Taylor Swift conseguiu.” contou Butler.

Matéria publicada pela VICE e traduzida pela Equipe TSBR.





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