10 de dezembro de 25 Autor: Maria Eduarda Sonnesso
Investigação revela manipulação online nas acusações contra Taylor Swift.

Com o lançamento de The Life of a Showgirl, uma onda inesperada de acusações extremas tomou conta das redes sociais, sugerindo que Taylor Swift estaria usando símbolos nazistas ou flertando com ideologias conservadoras. Porém, uma nova investigação noticiada pela Rolling Stone revelou que tudo isso foi impulsionado por uma rede coordenada de contas inautênticas, responsáveis por semear e amplificar essas falsas narrativas até que elas ganhassem tração no debate público. O Taylor Swift Brasil traduziu a matéria da Rolling Stone na íntegra. A seguir:

O lançamento, no início de outubro, de The Life of a Showgirl, novo álbum de Taylor Swift, foi — como costuma acontecer com qualquer trabalho da superstar — um grande acontecimento. À medida que o disco subia nas paradas até se tornar o álbum de venda mais rápida da história, fãs e detratores o dissecaram faixa por faixa, quase como investigadores forenses — e foram muito além da análise das letras. Pessoas começaram a examinar também as diferentes capas do LP e do CD, além dos produtos oficiais lançados junto com esse tributo de Swift ao triunfo artístico e romântico, em busca dos famosos Easter eggs que ela adora espalhar em sua marca pessoal cuidadosamente construída.

Logo, porém, as discussões online sobre o álbum tomaram um rumo extremo que muitos consideraram desconcertante. Publicações nas redes sociais passaram a acusar Swift de apoiar implicitamente o movimento MAGA, de promover um ideal “trad-wife” (papéis de gênero conservadores) e até de flertar com a supremacia branca por meio de supostos códigos visuais. Embora setores da extrema direita já tenham tentado reivindicar a cantora como um símbolo de “grandeza ariana” — mesmo com seu histórico de apoio a democratas e pautas progressistas — e apesar de o próprio Donald Trump ter compartilhado, de forma leviana e enganosa, imagens geradas por IA que a mostravam como sua apoiadora, o que surgiu dessa vez era algo diferente: uma tentativa de “cancelar” Swift com base nessas associações inventadas.

Os ataques se concentravam em escolhas específicas de palavras — como o uso de “savage” na música Eldest Daughter, interpretado como racista por alguns — e em símbolos — como um colar vendido em seu site que gerou comparações com nazismo porque seus pingentes em formato de raio lembravam vagamente o símbolo usado pela SS.

Essas acusações absurdas levaram os Swifties a lamentar o clima político atual, criticando comentaristas progressistas por extrapolarem na busca por sinais de criptofascismo na obra de Swift. “É deprimente porque reações como essas fazem com que todos que realmente se importam com progresso social pareçam ridículos”, escreveu um fã no Reddit. “Quanto mais exagerado o discurso fica, mais ele alimenta a narrativa da direita de que liberais são histéricos, moralistas e incapazes de nuance.”

O que os defensores de Swift não perceberam, porém, é que, ao rebaterem as acusações, estavam respondendo a uma narrativa falsa que havia sido plantada e amplificada por uma pequena rede de contas inautênticas nas redes sociais. Pior: ao engajar sinceramente com essas alegações feitas de má-fé, acabaram ajudando a disseminá-las ainda mais.

É o que aponta uma nova pesquisa da GUDEA, uma startup de inteligência comportamental que monitora como afirmações capazes de prejudicar reputações surgem e se tornam virais na internet. Em um white paper que analisou mais de 24 mil publicações e 18 mil contas em 14 plataformas digitais diferentes, no período entre 4 e 18 de outubro (o dia seguinte ao lançamento de The Life of a Showgirl), e compartilhado primeiro com a Rolling Stone, a empresa concluiu que apenas 3,77% das contas foram responsáveis por 28% de toda a conversa sobre Swift e o álbum.

Esse grupo de contas — claramente coordenado — impulsionou o conteúdo mais inflamado envolvendo a artista, incluindo teorias da conspiração sobre supostas alusões nazistas, insinuações de que Swift teria laços com o movimento MAGA e posts que enquadravam seu relacionamento com Travis Kelce como algo inerentemente conservador ou “trad”, tudo isso apresentado como se fosse crítica de esquerda.

Depois que essas provocações foram inseridas no debate sobre Swift — muitas vezes surgindo primeiro em fóruns mais radicais como 4chan ou KiwiFarms antes de migrarem para redes sociais populares — elas passaram a ser sustentadas organicamente por usuários que as questionavam em plataformas maiores. Esse engajamento, por sua vez, reforçou a visibilidade do conteúdo nos algoritmos.

Os pesquisadores explicam: “A narrativa falsa de que Taylor Swift estava usando simbolismo nazista não permaneceu restrita aos cantos conspiratórios da internet; ela conseguiu atrair usuários comuns para comparações entre Swift e Kanye West. Isso demonstra como uma mentira estrategicamente plantada pode se transformar em um discurso autêntico amplamente difundido, remodelando a percepção pública mesmo quando a maioria das pessoas não acredita na alegação original.”

Um representante de Swift não respondeu imediatamente ao pedido de comentário.

“Eu sou uma garota da cultura pop”, diz Georgia Paul, chefe de sucesso do cliente na GUDEA. Foi ela quem sugeriu que a empresa analisasse a conversa em torno de Swift após sentir um “pressentimento” de que os comentários ideologicamente carregados sobre The Life of a Showgirl poderiam ter origem em atores manipuladores. Paul e sua equipe confirmaram essa suspeita ao identificar dois picos distintos de atividade enganosa relacionada à cantora.

O primeiro ocorreu nos dias 6 e 7 de outubro, quando aproximadamente 35% das publicações no conjunto de dados da GUDEA para esse período foram feitas por contas que se comportavam mais como bots do que como usuários reais. O segundo pico aconteceu entre 13 e 14 de outubro, após o lançamento de uma nova coleção de produtos de Swift — incluindo o polêmico colar de raios (referente à música “Opalite”). Nesse período, cerca de 40% das postagens vinham de contas inautênticas, e o conteúdo conspiratório representava 73,9% do volume total da conversa.

“A internet é falsa”, afirma Keith Presley, fundador e CEO da GUDEA, meio brincando. Ele observa que algo em torno de 50% da web hoje é composta por bots. “Isso é algo que temos visto crescer do lado corporativo — esse tipo de espionagem, ou de trabalho deliberado para prejudicar a reputação de alguém.”

Embora Presley e sua equipe não saibam a identidade de quem está por trás desse ataque, eles descobriram, segundo o relatório, “uma sobreposição significativa entre contas que promoviam a narrativa de que Swift era ‘nazista’ e aquelas envolvidas em uma campanha artificial separada atacando Blake Lively”. A atriz afirma, em um processo de assédio sexual ainda em andamento, que o ator e diretor Justin Baldoni teria organizado uma onda de difamações contra ela nas redes sociais enquanto ambos travavam uma disputa jurídica e de relações públicas relacionada aos problemas na produção do filme It Ends With Us, de 2024.

Os dados, escreveram os pesquisadores da GUDEA, “revelam uma rede de amplificação que atua em múltiplos eventos, influenciando de maneira desproporcional diversas controvérsias envolvendo celebridades e injetando desinformação em conversas que seriam, de outra forma, orgânicas”.

A intersecção dessas redes e a semelhança entre suas estratégias em temas distintos demonstram um grau de “sofisticação” crescente na indústria de ataques reputacionais nas redes sociais, afirma Presley. “Eles sabem exatamente o que estão fazendo”, completa.

A atividade mais recente focada em Swift pode indicar que o(s) operador(es) dessa rede está(ão) apenas “testando as águas” antes de usar essas ferramentas para outros objetivos no futuro. Afinal, embora Blake Lively alegue que Baldoni esteja tentando sabotar sua carreira com comentários impulsionados por bots, não está claro o que alguém realmente ganharia ao tentar retratar Swift como uma apoiadora secreta do MAGA.

“Quando colocamos nosso ‘chapéu do fim do mundo’, conseguimos enxergar essa possibilidade”, diz Paul sobre o cenário de teste. Ela especula que “pode haver outros atores mal-intencionados, não necessariamente baseados nos EUA, interessados em descobrir: ‘Se eu consigo mover a base de fãs da Taylor Swift — que é quase uma figura política por si só — será que consigo fazer isso em outros contextos?’”

Embora a verdadeira intenção da pessoa — ou das pessoas — por trás desse grupo de contas ainda seja um mistério, a mecânica da manipulação é relativamente clara: convencer usuários reais a zombar ou refutar alegações absurdas apenas amplia o alcance dessas narrativas dentro do ecossistema digital. “Isso faz parte do objetivo desse tipo de narrativa, para quem quer que esteja impulsionando isso”, explica Presley. “Especialmente quando se trata de algo inflamatório — o algoritmo vai recompensar. Você verá influenciadores entrando primeiro, porque isso vai gerar cliques.” A partir daí, seguidores anônimos começam a replicar e criar suas próprias versões do discurso.

E isso deveria fazer você pensar duas vezes na próxima vez que encontrar uma opinião que parece ter sido criada especificamente para te irritar. Não há dúvida de que Swift desperta reações fortes — positivas ou negativas — em grande parte do público. Mas não há motivo para assumir que alguém que distorce suas posições políticas para tecer teorias paranoicas sobre um suposto conservadorismo oculto esteja agindo de forma sincera.

No cenário atual das redes sociais, é seguro presumir uma coisa: a sua indignação é o objetivo.

O texto que você acabou de ler é uma tradução da matéria escrita por Miles Klee para a Rolling Stone US. A versão original está disponível aqui. Direitos autorais pertencem à Rolling Stone US.





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