Estamos no que parece ser o dia 2.700 do ciclo de notícias sobre Taylor Swift, impulsionado pelo relançamento da versão expandida de seu quarto álbum de estúdio, “Red”, e potencializado pela estreia de um videoclipe dirigido por Blake Lively para a música “I Bet You Think About Me”. Entre tudo isso e a recente participação de taylor como convidada musical do Saturday Night Live na última semana, é impossível entrar no Twitter (pelo menos se sua timeline for parecida com a minha) sem ver praticamente todo mundo que você conhece — e muitos que você não conhece — investigando os significados secretos por trás das músicas de Swift.
Swift sempre se inspirou na sua própria vida para escrever canções, e “All Too Well” não é exceção; a balada (e o recente curta-metragem) sobre um homem mais velho que partiu seu coração levou muitos fãs a acreditarem que ela estava cantando sobre Jake Gyllenhaal, com quem Swift se envolveu em 2010 (quando tinha 20 anos e Gyllenhaal beirava os 30).
Eu realmente não estou disposta a dedicar nenhuma quantidade significativa de energia mental ao discurso sobre diferenças de idade nesse momento, apenas dizer que muitos fãs se agarraram à ideia de que Gyllenhaal é o vilão da vítima que é Swift; artigos publicados recentemente detalham como os fãs correram para praticar cyberbullying nos comentários de uma inofensiva foto de “throwback” postada por Gyllenhaal.
Para deixar claro, não há nada de errado em se identificar com o extremamente público coração partido de Taylor, ou se ressentir das pessoas — reais ou fictícias — que podem ou não tê-la magoado. Música existe para nos fazer sentir, e Swift não estaria fazendo seu trabalho se os fãs não fossem capazes de ver a si mesmos nas letras. Ainda assim, demonizar Gyllenhaal (ou qualquer um dos ex-namorados de Swift) parece ir contra o real objetivo da música de Taylor, que é finalmente ter o controle de sua própria história. Afinal de contas, só agora Swift está recuperando esse controle em suas músicas — depois do material ter sido vendido para a empresa de Scooter Braun; que tipo de mensagem estamos passando quando focamos totalmente nos homens de “Red” ao invés de apreciar o álbum pelo que ele é? Se a música de Swift pode ajudar fãs a processar seus próprios relacionamentos antigos que deram errado, ótimo, mas nós precisamos mesmo escolher lados num término de celebridades que aconteceu há mais de uma década?
Deixando “All Too Well” de lado, da única maneira em que isso é possível: aqui nesse texto, também foi projetado em Swift o debate “A Taylor é queer?” que, em 2020, levou a revista Vox a chamá-la de “ícone gay”. Como já pontuado num artigo da Bitch Media, Swift — que já se pronunciou a favor da comunidade LGBTQ+ em diversas ocasiões — parece sim se conectar com diversos ouvintes queer, mas é possível se sentir visto por Swift sem colocar nela uma identidade sexual que ela já negou diversas vezes. (Francamente, como uma fã lésbica, é frustrante ver essa narrativa ser constantemente reciclada quando existem diversos artistas queer — desde Haley Kiyoko à Shamir e Kehlani — que não recebem um terço dessa atenção midiática em seus trabalhos.
O desejo de alguns fãs de lutar guerras por Swift é totalmente compreensível — ela construiu uma carreira sendo honesta e relacionável — mas chega um ponto em que precisamos deixar a “ideia” de Taylor dar lugar à Taylor “pessoa”. Obviamente, a linha entre essas duas versões é confusa quando se trata de uma figura tão pública, mas resistir ao impulso de tratar Swift como a garota frágil de 20 anos retratada em “All Too Well” parece ser uma maneira melhor de se engajar com sua música e, consequentemente, com sua história.
Artigo publicado pela Vogue e traduzido pela equipe TSBR.
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