20 de dezembro de 21 Autor: Taylor Swift Brasil
Como Taylor Swift recuperou 2012 para ganhar 2021

Em 2012, antes do streaming superar os downloads e mídias físicas como o formato dominante de música na indústria, os dois álbuns mais vendidos do ano foram o “21”, de Adele, e o “Red”, de Taylor Swift. Enquanto 2021 caminha para seus momentos finais quase uma década depois, os mais vendidos deste ano – aqueles álbuns que inspiraram os fãs a comprar um CD, um disco de vinil ou encontrar algum lugar onde eles podiam pagar para baixar ao invés de dar stream – são quase que com certeza o mais recente de Adele, “30”, e o… “Red”, de Taylor Swift.

A essa altura você já deve saber como o “Red” retornou à cena: Indignada com a venda de sua antiga gravadora Big Machine em 2019 – que incluía os masters de gravação de seus seis primeiros álbuns – Swift traçou um plano para regravar seus antigos trabalhos como uma forma de desvalorizar os masters vendidos, substituindo-os no mercado por trabalhos que ela possui. (O comprador da Big Machine foi Scooter Braun, um executivo da indústria musical que é conhecido, entre outras coisas, por já ter gerenciado a carreira de Kanye West, grande inimigo de Swift; Braun vendeu a gravadora ano passado pelo valor estimado de $300 milhões.)

A promessa parecia improvável, para dizer o mínimo, quando ela anunciou. Mas ainda assim, Swift – que escreveu e gravou dois álbuns de canções inéditas em 2020 – começou a cumprir a ambiciosa promessa esse ano, lançando regravações de “Fearless” (2008) em abril – chamando-o de “Fearless (Taylor’s Version)” – e mais tarde, o “Red (Taylor’s Version)” em novembro. Ambos meticulosamente reproduziram o som das versões originais com a ajuda dos colaboradores de Swift da época; ambos fascinaram os fãs com faixas completamente novas, anteriormente descartadas e guardadas no que Swift chamou de cofre.

E ambos foram extraordinários triunfos comerciais: O debut de “Red (Taylor’s Version)” no topo da Billboard 200 deu à Swift seu quarto álbum #1 em 16 meses – o período mais rápido em que qualquer artista conquistou essa quantidade de entradas no topo dos charts, de acordo com a publicação. “Fearless (Taylor’s Version)” provavelmente vai terminar 2021 como o quarto álbum mais vendido do ano, atrás apenas do “30”, do “Red (Taylor’s Version)” e do segundo dos trabalhos de Swift feitos em quarentena, o “evermore”, que está concorrendo como Álbum do Ano no Grammy de janeiro. (“folklore”, o primeiro deles, levou esse prêmio para casa na edição mais recente do Grammys, que aconteceu em março). Até mesmo o IHeartMedia, a maior rede de rádios do país, declarou que iria substituir as músicas de Swift pelas “Taylor ‘s Version”, uma vez que estivessem disponíveis.

Os resultados da cantora – nomes como Def Leppard e Electric Light Orchestra já regravaram hits, mas nunca em tamanha escala – refletem a mistura singular de determinação e recursos que ela possui, isso sem contar no tempo livre longe da estrada que ela teve durante a pandemia; além disso, o fato de que as regravações obtiveram um sucesso sem precedentes é uma indicação da devoção única de seus fãs. Ainda mais impressionante, no entanto, foi a energia criativa que a artista de 32 anos extraiu dessa tarefa tão ostensivamente voltada para questões de negócios – o quão vivo ela fez o passado parecer enquanto o segurava em suas mãos.

No reformulado “Fearless”, ela sutilmente remodelou suas antigas canções “Fifteen” e “The Best Day”, ambas as quais ela escreveu como uma adolescente esperta porém ainda inocente, para carregar algumas das decepções que ela enfrentou nos anos que vieram depois que elas foram lançadas; as músicas ainda são sobre amor jovem e devoção parental, mas agora os vocais mais amadurecidos de Swift também falam sobre masculinidade tóxica e sobre a batalha de sua mãe contra o câncer.

“Mr. Perfectly Fine”, uma das músicas do cofre de “Fearless”, trouxe o antigo relacionamento de Swift com Joe Jonas (!) de volta aos holofotes, o que não foi nada comparado ao burburinho frenético que Swift causou com a versão de 10 minutos de “All Too Well” que ela incluiu no “Red (Taylor’s Version)” – e que recentemente cantou no “Saturday Night Live” em uma performance corajosa que pulsou com a satisfação duramente conquistada de finalmente poder dizer exatamente a coisa certa para um ex insensível. (Atualmente, Swift está romanticamente envolvida com o ator britânico Joe Alwyn, sobre quem ela fala publicamente o mínimo possível.)

Outros artistas encontraram material para seus próprios trabalhos esse ano no catálogo altamente influenciável de Swift, entre eles cantores e compositores da Geração Z como Holly Humberstone e Gracie Abrams, para quem a estrutura das canções e os detalhes emocionais de Swift fazem dela uma uma espécie de fada madrinha, uma figura similar à de Carole King. Mais notavelmente, Olivia Rodrigo, de 18 anos, deu créditos de co-composição à super estrela em seu estrondoso álbum de estreia “Sour” – não porque elas colocaram papel na caneta juntas, mas porque Rodrigo pegou emprestados alguns aspectos das canções “New Years’s Day” e “Cruel Summer”, de Swift.

Swift e seus herdeiros, porém, não foram os únicos artistas a buscar inspiração em suas histórias para criar material novo em 2021. Pense em Lucy Dacus, do indie rock, que vasculhou seus diários da adolescência para compor seu aclamado álbum “Home Video”. Pense no diretor Peter Jackson, trabalhando em horas e horas de filmagens dos Beatles no fim dos anos 60 para construir a épica série documental “Get Back”. Pense em Adele, usando gravações de voz de conversas com seu filho para pontuar uma melodia em “30”, onde ela se preocupa sobre como seu divórcio afetará a vida dele.

Avanços tecnológicos e a cultura da internet de registrar tudo o tempo todo tornaram a recuperação de artefatos mais fácil do que nunca; os desafios de 2020 e 2021 talvez também tenham tornado essa tarefa mais irresistível. Ainda assim, o projeto de Swift é muito interessante porque vai além de mera nostalgia ou recriação.

A melhor faixa do cofre de “Red” é “Nothing New”, um dueto melancólico com Phoebe Bridgers (para citar mais uma Swiftie confessa) que atinge um tipo de dupla consciência. É sobre uma jovem mulher que está se perguntando como um namorado – ou talvez a indústria da música – vai tratá-la quando ela crescer e envelhecer, e é claro que você assume que Swift estava pensando em si mesma quando escreveu a canção em meados dos anos 2010, justo quando ela estava começando a ultrapassar sua fase da ingenuidade.

Hoje, porém, é praticamente impossível ouvir “Nothing New” e não pensar em Rodrigo, especialmente quando a narradora se imagina encontrando  uma outra mulher, mais jovem e empolgada, na ponte da música: “Sei que um dia vou encontrá-la”, Swift canta, “Ela vai saber o caminho e dizer que conseguiu o mapa comigo”. Ela acrescenta, “Eu vou dizer que estou feliz por ela e depois chorar até dormir”, mas não há ressentimento em sua entrega. Ela é empática, embora sem nenhuma surpresa – como alguém que sempre soube que olharia para trás um dia e veria tudo isso acontecer.

Artigo publicado pelo LA Times e traduzido pela equipe TSBR.





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