Quando Taylor Swift surgiu com seu violão verde esmeralda na primeira noite da Reputation Stadium Tour em 2018, ela conversou com o público lotado do Arizona em um dos seus três palcos elaborados.
“Tem uma música que vocês pedem mais do que qualquer outra, e ela nem foi um single”, Swift começou enquanto tocava alguns acordes. “Eu pensei que, desde que vocês fizeram dessa uma experiência tão incrível, eu deveria tocar essa música que vocês pedem tão mais do que as outras — e seria legal se vocês a cantassem o mais alto que puderem”. Swift lentamente começou a cantar o primeiro verso de “All Too Well”, de seu álbum de 2012 – Red, enquanto o público explodia e o estádio chovia confete.
Apesar de ser uma das faixas mais pedidas (e a que ganha mais ‘covers’ de fãs), “All Too Well” nunca foi um single. Depois de anunciar Red quase uma década atrás, Swift lançou “We Are Never Ever Getting Back Together”, uma música animada sobre um término com uma letra audaciosa e um refrão daqueles que se grita junto, como o lead-single oficial do álbum — que foi seguido nas rádios pelo dubstep explosivo de “I Knew You Were Trouble” e pelo pop sintético efervescente de “22”. “All Too Well”, por contraste, é uma balada introspectiva e pacientemente construída que leva a uma ponte explosiva e carregada de emoções. A história junta pedaços aparentemente mundanos e cotidianos de um relacionamento — como álbum de fotos, luzes vermelhas e até mesmo cachecóis velhos — que na época em que aconteceram tiveram pouco ou nenhum significado, mas significam tudo “depois de todos esses dias”.
A letra lembra também a trajetória da própria música — uma história profunda que nunca foi promovida por sua gravadora, mas acabou se tornando uma das grandes favoritas de Swift para o público e é frequentemente considerada um dos seus melhores trabalhos, tanto pela crítica quanto pelos fãs. (Na lista recente da Rolling Stone, em que a indústria elegeu as ‘500 Melhores Músicas de Todos os Tempos’, foi sua melhor colocação, figurando na posição 69). Nesta sexta, 12, Swift vai poder dar à canção o destaque que ela merece já que a aguardada versão de 10 minutos da faixa é a mais esperada do Red (Taylor’s Version) — uma regravação do trabalho de 2012.
Desde seu lançamento, quase uma década atrás, a própria Swift deu pistas de que a canção já tinha uma vida muito mais longa antes mesmo de ser escolhida para ser a quinta faixa de seu quarto álbum. Muito da catártica ponte da canção sobre o desfecho definitivo de um relacionamento (“Você me liga outra vez só para me quebrar como uma promessa / Tão casualmente cruel em nome de ser honesto”) foi escrita durante as passagens de som de Swift na Speak Now World Tour em 2011, quando ela começou a improvisar as letras e sua banda a acompanhou. Apesar do nome que inspirou a música nunca ter sido confirmado oficialmente, fãs teorizam que o cenário de outono narrado indica que se trata do romance extremamente público de de Swift com Jake Gyllenhaal em 2010.
Os rumores eram de que, originalmente, a canção tinha mais de 10 minutos — uma teoria que foi popularizada por seu dedicado fandom e, mais tarde, confirmada pela co-compositora Liz Rose. Ao ser perguntada por um fã sobre onde estaria essa versão, Swift brincou que estava “em uma gaveta em algum lugar”. A música teve seu próprio “folclore” de rumores e teorias questionando se a versão completa seria lançada em algum momento, com novos fãs mergulhando em cada uma delas enquanto descobriam sua discografia.
“A razão pela qual eu acho que a música chamou tanto a atenção de fãs e críticos é porque é a melhor do álbum”, diz Bruce Warren, gerente e assistente geral de programação de uma rádio na Filadélfia, cujos ouvintes ano passado ranquearam “All Too Well” como uma das melhores canções de todos os tempos. “A narrativa é muito madura, apesar da sua pouca idade. Baladas fortes são baladas fortes. Imediatamente elas meio que prendem você. É a estrutura da música, o jeito que ela é construída. Me lembra das ótimas e fortes baladas de soft rock, e considero essa uma delas”.
Mas apesar desse potencial de uma balada forte, a atenção das rádios para o ciclo do Red foi inicialmente voltada para “We Are Never Ever Getting Back Together” e “I Knew You Were Trouble” — dois singles que ajudaram a cimentar na percepção do público a intrigante persona de ‘pop star’ pela qual Swift era tão criticada na época. Em vez da vulnerabilidade e honestidade brutal de uma cantora e compositora que escreve baladas como “All Too Well”, Red foi promovido com músicas que talvez tenham contribuído com uma narrativa que Swift, mais tarde, tentaria se distanciar.
“Alguém em uma gravadora toma as decisões — eles decidem que determinadas músicas serão singles por uma série de razões”, diz Warren. “E alguém decidiu que ‘All Too Well’ não seria um. Mas se a internet já provou algo, se o sistema de streaming já provou algo, é que são os fãs que estão no controle [do que se torna popular], não uma gravadora”.
À medida em que os fãs ganham esse controle, eles são capazes de trazer de volta faixas antigas e conceder uma segunda vida em plataformas como Twitter e TikTok. A própria Swift tirou vantagem disso – depois que “Wildest Dreams” se tornou viral novamente no início deste ano, ela lançou “Wildest Dreams (Taylor’s Version)” para lucrar com a nova fama da música e ajudar a manter suas regravações no radar de todos. Mas “All Too Well” não precisou especificamente de um momento viral – em vez disso, sua popularidade aumentou gradualmente ao longo do tempo entre os fãs de Swift.
A canção inicialmente alcançou a posição 80 na Billboard Hot 100, após o lançamento do álbum no outono de 2012 – longe de ser uma reverência retumbante para os padrões de Swift, considerando que ela tem sete sucessos de primeiro lugar nos charts. A própria artista pareceu surpresa com o crescente apoio à música. “’All Too Well’ nunca foi single, e sempre me impressiona que é consistentemente uma das músicas mais altas que a multidão canta quando eu a toco”, Swift tuitou antes do lançamento do filme Reputation Stadium Tour na Netflix.
Mas talvez mais do que qualquer outra música em seu catálogo, “All Too Well” foi a música que provou para os céticos que poderiam ter descartado Swift como uma estrela pop frívola – em uma época em que esses artistas ainda não recebiam muito crédito ou atenção por parte dos críticos e fãs de música mais velhos como recebem agora – que ela era de fato uma cantora e compositora verdadeiramente formidável. (Os créditos técnicos da música também foram mais respeitados por um raro momento de destaque no Grammy de 2014, quando Swift executou uma dramática versão para piano de “All Too Well”, completa com headbanging, fazendo com que muitos reparassem nela pela primeira vez).
“’All Too Well’ é a música de Taylor que mostrei para qualquer pessoa que tivesse dúvidas sobre seu talento e habilidade como compositora”, diz Stevie Knipe, da banda pop indie Adult Mom – que cita Swift como uma de suas maiores inspirações musicais, e fez covers de músicas do Red no passado. Knipe acredita que a narrativa simples, mas fácil de se associar, da faixa é o que ajudou a construir sua dedicada base de fãs e também a alcançar esse status de culto, não apenas entre os fãs, mas também entre outros artistas e críticos.
“É uma música com uma apresentação narrativa perfeita que prende o ouvinte e lentamente se transforma em uma catarse antêmica”, dizem eles. “Sua história é específica e detalhada, embora permaneça compreensível – e suas melodias são gritáveis, choráveis e extremamente citáveis, todos os elementos que compõem um clássico de uma música”.
Ter uma faixa mais antiga, pouco comentada, que destaca suas proezas de composição se tornando uma de suas canções mais populares pode também ter servido como um catalisador que levou Swift para onde ela está agora. Ver o quão bem “All Too Well” foi recebida por fãs e críticos nos últimos anos pode ter sido o que ajudou Swift a se inclinar para aquele som mais calmo, mais íntimo que a faixa faz tão bem e está presente com seus dois últimos álbuns – os aclamados folklore e evermore, produzidos em colaboração com ícones independentes como Justin Vernon e Aaron Dessner.
“Em 2014 ou 2015, você não seria capaz de dizer, ‘[Taylor Swift] está trabalhando com Justin Vernon’, certo?” diz Warren. “Isso prenunciou o lugar em que ela está agora … ‘All Too Well’ mostrou o potencial de quão grande compositora ela seria e como ela evoluiria como compositora. E [folklore e evermore] a levaram para outro nível. ”
Ruston Kelly, um colega cantor country e grande fã de Swift, acha que a simplicidade e vulnerabilidade da faixa é o que ajudou os músicos a ganhar respeito por Taylor como compositora, além de seu estrelato pop .“Obviamente você não pode ir a qualquer lugar neste mundo sem encontrar algo relacionado com Taylor Swift”, diz Kelly, que gravou sua própria versão emocionalmente carregada de “All Too Well” em 2019, que Swift aprovou nas redes sociais. “Eu realmente apreciava a música dela, mas foi só depois que essa música foi lançada e eu mesmo estava passando por um término, que realmente fui afetado. Todas as peças meio que se encaixaram. Foi como, ‘OK,agora entendi’”.
“Virei amigo da [co-compostira] Liz Rose ao longo dos anos”, continua Kelly. “Eu pude perguntar a ela uma vez sobre ‘All Too Well’ … ela disse, ‘eu vou ser honesta com você, [a música] foi tudo a Taylor. Ela que trouxe, eu apenas a ajudei a juntar as peças.’ Será interessante saber se ela trouxe todos aqueles versos da versão de 10 minutos”.
Alguns fãs acreditam que a música vai além de uma faixa de separação e simboliza mais – um vínculo com seus fãs e a conexão com o público quando ela tocava ao vivo. Esse vínculo está muito presente no Twitter, no qual Swift tem uma massiva base de fãs (e altamente protetora). Zainub Amir, que administra uma das maiores contas de atualizações da Taylor Swift no Twitter, diz que o significado da música mudou ao longo do tempo, devido à resposta dos fãs, tornando-se menos sobre o coração partido e mais sobre a evolução do apoio de sua base de fãs.
“A quantidade de vezes que vi Taylor tocar essa música, costumava ser um momento muito triste”, lembra Amir. Ela acredita que a mudança aconteceu pós-reputation, quando Swift cantou a faixa em 2017 pela primeira vez em anos: “Você podia ver em seu rosto … ela realmente sorriu e visualmente se divertiu ouvindo os fãs cantarem as palavras com muita energia. É visível que ela está em um lugar completamente diferente e que o crescimento é muito poderoso – então agora é muito divertido ouvir essa música, porque nos lembramos de uma época em que não era divertido”.
Enquanto os fãs fazem a contagem regressiva para Red (Taylor’s Version), a versão estendida de “All Too Well” é a faixa mais aguardada – e com uma chegada muito anunciada, e agora um vídeo de 10 minutos que virá com um elenco de estrelas, é provável que ultrapasse seu pico anterior No. 80 na Billboard Hot 100 nas próximas semanas.
Não importa o sucesso comercial da faixa, porém, Swift está bem ciente de que tem tudo a ver com os fãs que pegaram a música de término e a transformaram em algo mais.
“Vocês transformaram essa música em uma colagem de memórias de vê-los gritarem as palavras dela, ou de fotos que vocês postam para mim escrevendo essa música em seu diário, ou vocês me mostrando seu pulso, com uma tatuagem da letra dessa música na sua pele”, Swift explicou à multidão naquela noite de abertura da turnê Reputation Stadium. “E foi assim que vocês mudaram a música ‘All Too Well’ para mim”.
Matéria publicada pela Billboard e traduzida pela Equipe TSBR.
Erro: nenhum feed encontrado.
Vá para a página de configurações do Instagram Feed para criar um feed.