Há uma cena, mais ou menos nos 30 minutos de “Miss Americana”, o novo documentário de Taylor Swift na Netflix, em que a estrela sai de seu apartamento em Tribeca, aparece para a multidão de fãs e paparazzis, entra no banco de trás de um carro que a esperava e diz: “Eu aprendi ao longo dos anos que não é bom para mim ver fotos minhas todos os dias”.

A partir daí, começa uma conversa franca sobre como sua vida sob os holofotes fez com que ela desenvolvesse dismorfia corporal e, eventualmente, um distúrbio alimentar, com Swift revelando que uma única foto tirada de um ângulo indesejável poderia fazer com que ela “morresse de comer”.

“Não acho que você saiba o que está fazendo quando está parando de comer de forma gradual”, acrescenta.

Para mim, uma super fã de Swift de longa data, isso me atingiu mais do que qualquer letra de música que ela já escreveu.

Obviamente, minha ídola e eu levamos uma vida muito diferente. Para começar, não tenho 10 Grammys e centenas de milhões de seguidores nas redes sociais e como escritora e editora, estou mais acostumada a ver meu nome em subtítulos do que em manchetes. Mas, naquele momento, tudo o que pude ver foi uma colega perfeccionista e que quer agradar as pessoas, compartilhando a destrutiva desvantagem de estar conectada na internet.

Eu nunca escrevi sobre minha própria batalha contra a anorexia, que dominou e destruiu meia década da minha vida. Eu mal falei sobre isso com amigos e familiares; até discutir isso na terapia me deixa desconfortável. Mas depois de assistir minha artista favorita se abrir sobre sua própria experiência para um público de milhões de pessoas, eu sabia que era hora de pegar emprestada uma das letras de Swift e “falar agora”.

Meu distúrbio alimentar começou quando eu estava fora de casa e tinha entrado na faculdade, foi desencadeado por um semestre particularmente isolada de todos e sendo alimentada pela profunda necessidade de ser considerada “suficiente”, uma dependência de aprovação externa que Taylor e eu compartilhamos. Tudo começou inocentemente, como acontece com muitos, comigo simplesmente diminuindo o tamanho das minhas refeições e aumentando minha frequência de exercícios. Mas não parou por aí.

“Meu relacionamento com a comida era exatamente a mesma psicologia que eu aplicava a todo o resto da minha vida”, disse Swift recentemente à Variety.

“Se me deram um tapinha na cabeça em algum momento, meu cérebro registrou isso como algo bom. Se eu recebi uma punição, registrou isso como ruim.”

De fato, como eu continuava a comer menos e a me exercitar mais, as gorduras iam embora – e os elogios apareciam. Certamente, não ajudou o fato de eu trabalhar na indústria da moda, onde corpos magros não são historicamente apenas normalizados, mas glamourizados. Como estagiária de uma revista, pude entrar nos mínimos tamanhos de amostras de vestidos com facilidade; durante meu período de assistência a um estilista, meu chefe costumava colocar seus vestidos diretamente no meu corpo, pois minhas medidas refletiam as de muitas modelos de passarela. Nos dois casos, fui recebida com elogios e não com preocupação.

Elana Fishman (autora do post)

Em pouco tempo, contar calorias consumiu minha vida. Passei meus dias no piloto automático, mentalmente e fisicamente esgotada para fazer outras coisas além de dormir, (mal) comer e ir à academia. Em “Miss Americana”, Swift lembra como a falta de comida afetou sua energia durante os shows. “Eu pensei que eu iria desmaiar no final de um show, ou no meio dele”, explica ela. Da mesma forma, foi incrivelmente fácil para mim aceitar meu estado constante de exaustão como normal; mesmo quando eu tive que parar e me deitar no meio de um monte de roupa amassada porque não tinha sustento, não parecia ser uma bandeira vermelha.

Foi necessário uma intervenção familiar, combinada com alguns problemas de saúde complicados – incluindo palpitações cardíacas, desmaios e mais de três anos sem menstruar – para eu finalmente reconhecer que meu estilo de vida poderia me matar.

E, como sabe qualquer pessoa que sofre ou sofreu com um distúrbio alimentar, a recuperação é uma estrada longa e árdua. Aprender a treinar seu cérebro – parar de achar que passar fome e ter ossos salientes é algo “bom” e achar que não ir um dia na academia ou ter que comprar jeans de um tamanho maior é algo “ruim” – é um processo difícil, que para mim exigia a ajuda da terapia, medicação e um parceiro que me apoiou extremamente.

Aliás, isso me levou a me apaixonar pelas músicas de Swift; enquanto eu gradualmente tirei do meu armário minhas roupas antigas de “anoréxica” e reintroduzi novos alimentos que eu havia banido da minha dieta anteriormente, como pizza e macarrão, suas músicas de rejeição e hinos pop animadores serviram como trilha sonora para mim.  Eu nunca mais voltaria a ter anorexia, dizia a mim mesma.  Me estressar por uma refeição particularmente decadente? Eu só tinha que me livrar disso.

Hoje, tenho orgulho de dizer que estou recuperada. Mas para aqueles que ainda lutam, a decisão de Swift de se abrir sobre sua história de distúrbio alimentar pode muito bem salvar vidas. Pergunte a qualquer fã porque eles adoram a musicista, e a maioria mencionará suas habilidades de contar histórias e letras ricas e fáceis de se identificar. Se outros Swifties são capazes de se identificar com as lutas de imagem corporal da estrela da mesma maneira que fazem com suas músicas, essa cena em “Miss Americana” pode ser apenas a motivação que eles precisam para procurar ajuda e começarem a se curar.

Isso não é pouca coisa quando se considera que 30 milhões de pessoas sofrem de distúrbios alimentares apenas nos EUA, de acordo com a Associação Nacional de Anorexia Nervosa e Distúrbios Associados.  É a doença mental com a maior taxa de mortalidade.

Conforme documentado em “Miss Americana”, Swift usou sua enorme plataforma para chamar a atenção para tudo, desde agressão sexual à importância de votar nas eleições de meio de mandato, hotlines para crises e registro de eleitores no processo. Simplificando, quando Swift se mostra real, milhões escutam. E, ao compartilhar sua experiência em superar seus problemas alimentares, ela está mandando uma poderosa mensagem de que a recuperação é possível – e o outro lado disso brilha ainda mais.

A grande maioria das pessoas neste mundo não é constantemente fotografada ou sujeita ao escrutínio da mídia como a vencedora do Grammy é. Mas nesta era digital, comentários tóxicos relacionados ao corpo – para não mencionar fotos de modelos e influenciadores impossivelmente bonitos e magros, geralmente retocados digitalmente com perfeição – estão sempre a um toque de distância.

Entre o cancelamento do Victoria’s Secret Fashion Show e a ascensão de defensores da positividade do corpo como Lizzo, Jameela Jamil e Ashley Graham, fizemos grandes avanços ao abraçar e incentivar padrões de beleza mais realistas e saudáveis nos últimos anos. Ainda assim, apesar disso, os distúrbios alimentares – que afetam pessoas de todas as idades, tamanhos, gêneros e origens socioeconômicas – ainda estão envoltos em estigma e estereótipos que podem fazer com que os indivíduos sintam que estão sofrendo sozinhos.

E mesmo para aqueles que não estão nas mídias sociais ou conectados à cultura pop, desencadear críticas e elogios é inevitável. Como a diretora de Miss Americana, Lana Wilson, disse à Variety: “É incessante, e posso dizer isso como mulher: é incrível para mim como as pessoas ficam constantemente dizendo coisas como ‘Você emagreceu’ ou ‘Você ganhou peso’. Pessoas que você mal conhece dizem isso pra você. E é horrível, e você não pode vencer de qualquer maneira.”

De vez em quando, ainda me pego criticando a aparência da minha barriga ou das minhas pernas em uma foto, ou o jeito que determinado par de calças se encaixa em mim. A partir de agora, sempre que isso acontecer, repetirei uma frase que Swift diz no filme: “Nós não fazemos mais isso, porque é melhor pensar que você está gorda do que doente.”

Talvez essa seja minha nova música favorita.

Matéria publicada pelo Ny Post e traduzida pela Equipe TSBR.





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