Oscar de la Renta. Versace. Alberta Ferretti. Roberto Cavali. Elie Saab. Christian Louboutin. Zuhar Murad. Ashish. A lista de designers que já fizeram roupas para a The Eras Tour, de Taylor Swift, que começou há apenas um mês no Arizona e terminará na Califórnia, em Agosto, antes de partir para datas internacionais, é como uma mini turnê de semanas da moda, repleta de brilhos, chiffon e uma camiseta com mensagem.
O resultado dessa extravagância tem recebido cumprimentos, não surpreendentemente, com um grande entusiasmo. Tantas roupas! Tanto brilho! Tanta diversão! Existem páginas online documentando de forma magnífica “Todos os Figurinos Que Taylor Swift Já Usou em sua Eras Tour” (como bem colocou a Elle Australia). E novos estilos continuam emergindo, possibilitando atualizações. Como se um guarda-roupas abundante fosse uma conquista em si.
E é possível que seja. A logística, por si só, é assustadora: como você se troca tanto, e de modo tão rápido, enquanto ainda está no meio de uma performance?
Certamente isso elevou o padrão para os artistas que entrarão em turnê em breve, já que estamos entrando no Verão das Divas: Madonna, que está embarcando em uma turnê retrospectiva (apenas imagine os looks que isso pode envolver), e Beyoncé, que já elevou o padrão em agosto quando lançou o trailer de “I’m That Girl”, que envolveu pelo menos sete looks compactados em apenas alguns minutos, desde uma deusa cyborg até uma cowgirl dominatrix, passando até pela Audrey Hepburn.
Mas também é possível ver em todas essas roupas de Swift, em todas as suas trocas de figurino, algo a mais. É possível que eles sejam, na verdade, não apenas uma volta pelas memórias, mas um pedaço mais destacado de um comentário sobre a expectativa que estrelas do pop (femininas) precisem descobrir novas versões de si mesmas para nosso prazer de espectador, elevando suas imagens antigas com novos figurinos infinitos. E é uma mensagem de que Swift está, talvez, dando um tempo nessa coisa toda.
A promessa de reinvenção é um valor intrínseco americano: a crença de que todo mundo tem o direito de um recomeço, que você é limitado apenas pela sua imaginação e pelas suas habilidades. Está intrinsicamente ligado à promessa de moda, algo que, da mesma maneira, oscila entre o apelo de um ‘novo você’; de te permitir tentar coisas diferentes, até que se estabeleça em algo que pareça ser o certo.
Ainda assim, isso é um tipo de prisão, bem como Swift, que tem o hábito de incorporar significados em suas escolhas de figurino, disse em seu documentário de 2020, “Miss Americana”.
“As artistas femininas que eu conheço já se reinventaram 20 vezes mais do que os artistas masculinos”, ela disse em uma mensagem no final do documentário, enquanto várias versões de si mesma apareciam: a Taylor adolescente, com seus cachinhos dourados, olhos azuis e vestidos de princesas; a Taylor de “1989”, com seu cabelo liso e roupas justas e brilhantes; a Taylor brava de “Reputation”, com cobras subindo por suas pernas e braços.
“Isso é necessário”, continua Swift, “porque, caso contrário, você fica sem emprego.”
Naquela época, ela estava falando sobre sua recém encontrada voz para a política, bem como seu novo álbum, “Lover”, (agora sobrepassado por três álbuns e pelo menos duas versões de Taylor: a versão conectada com a terra de “Folklore” e “Evermore”, e a sonhadora de “Midnights”). Mas, de várias formas, o que ela quer é ficar exposta (modo de dizer) em sua Eras Tour.
Cada era musical revisitada no show teve – e tem – seu próprio look. Vê-la passear por eles em sucessão é ver não somente roupas fabulosas usadas com um propósito, mas também a rodinha de hamster da constante reinvenção que tem sido modelo para artistas do pop contemporâneo desde que Madonna deu o exemplo em 1980.
É algo particularmente difícil, em comparação com outro ato musical que acontece agora em similar resposta e aclamação: Bruce Springsteen. O sr. Springsteen tem 73 anos, e seu estilo não mudou muito nos últimos 50. Ele ainda usa calças jeans surradas e camisas também jeans, pulseiras ao redor dos punhos, botas nos pés.
Para ser justa, existem homens estrelas do rock que fizeram um jogo de reinvenção: mais notavelmente podemos citar David Bowie, mas também, até certa extensão, Harry Styles (embora ele geralmente vista apenas uma roupa de destaque por noite). E existem mulheres – Lucinda Williams, Patti Smith – que gabaritaram essa tendência.
Mas também é verdade, disse Kathy Iandoli, uma professora na New York University Steinhardt School, e autora de “God Save the Queens: The Essential History of Women in Hip-Hop”, que a pressão para se vestir bem cai exponencialmente sobre os ombros das mulheres. “1,000 por cento”, disse Iandoli. “Existe um nível de figurinos que vem junto com o fato de ser uma pop star feminina, uma forma de gravadoras comercializarem criatividade. E se você é conhecida como uma artista evolucionária, você é sempre colocada como o padrão de ‘qual a próxima versão de você?'”.
Swift pegou essa pressão para si própria de forma muito astuta. Suas repaginadas, que coincidem com suas evoluções sônicas, não são iguais às repaginadas impostas em cima da personagem principal de Lady Gaga no filme “Nasce Uma Estrela”, onde os chefões dos estúdios forçam suas mais novas descobertas em seu cabelo, suas roupas e seus movimentos de dança – uma versão de si mesma que ela rejeita depois da morte de seu marido.
Contrastando, Swift (com seu estilista Joseph Cassell Falconer) tem sido a dona de seu próprio guarda-roupas, e seus fãs, vários dos quais aparecem vestidos como suas versões favoritas de Taylor, podem se relacionar.
Mas até mesmo Gaga, uma mestre em termos de repaginadas entre moda e música, aparentemente se rebelou contra esse imperativo no Oscar desse ano quando, ao invés de se trocar e colocar outro vestido estonteante para sua apresentação musical, subverteu todas as expectativas ao usar jeans rasgados e uma camiseta preta juntamente com seu rosto sem muita maquiagem, como se quisesse dizer ao mundo que a assistia: “já chega!”.
Fernando Garcia, diretor criativo da Oscar de la Renta, que fez um casaco lavanda, de pele falsa, com um vestido combinando e com uma camiseta bordada com cristais e um macacão azul meia-noite bordado com cristais para a turnê atual, disse que trabalhar com Swift na Eras Tour parecia “muito como um momento de círculo completo”. Se assim for, talvez seja também um sinal de que outra era está chegando ao fim.
Em um dado momento do show da Eras Tour, quando Swift está cantando “Look What You Made Me Do”, todas as antigas Taylors são incorporadas por diferentes dançarinos em diferentes figurinos em diferentes caixas de vidro – todas aquelas versões do passado, presas em seus próprios espaços limitados, em seus próprios figurinos, apenas para serem libertas.
No que diz respeito às metáforas da moda, é difícil perder.
Fonte: The New York Times.
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