O verão de 2020 seria algo enorme para Taylor Swift – seus planos originais envolviam celebrar o Lover (2019) ao redor do mundo em festivais, incluindo o lendário Glastonbury, Festival da Inglaterra, e tocando em vários dias, com vários artistas em Massachusetts e na California. Mas a pandemia da COVID-19 e o isolamento fizeram com que todos esses planos fossem adiados, se não cancelados.

Algumas pessoas usaram o tempo livre da quarentena para tentar algo novo – escrever centenas de palavras por dias, consertar problemas em casa, transformar até suas receitas de pão num livro. Swift aceitou o desafio também: “Surpresa 🤗” ela postou nas redes sociais na manhã de quinta-feita. “Hoje às 00h estarei lançando meu 8º álbum de estúdio, folklore; um álbum novo inteiro de músicas sobre minhas fantasias, sonhos, medos e reflexões”. As imagens anexadas eram fortes, longe dos tons pastéis que coloriam a era Lover: em uma imagem, Swift está sozinha numa floresta nublada, enquanto em outra, o texto em serifa ofereceu mais detalhes sobre a criação do álbum pessoal.

Se as eras, de 1989 a Lover, foram, como Swift disse durante o anúncio do álbum de 2014, caracterizadas por ela lançar um “álbum pop oficial e documentado,” Folklore representa uma mudança – não totalmente fora do pop, mas talvez vizinha do pop. Faltam não apenas o single e o lançamento prolongado de seus álbuns anteriores, mas também encontramos Swift experimentando diferentes ideias – ou, como ela coloca na fervilhante e melancólica música de abertura do álbum “the 1”, “estou indo bem, estou fazendo umas novas merdas/ estou dizendo sim em vez de não”.

Swift explode as expectativas de qualquer um que esteja se preparando para chamar sua música de “diários”, escrevendo músicas de perspectivas diferentes enquanto ela amplia sua já conhecida história. É um reflexo de como o tempo gasto sozinho pode forçar a pessoa a não apenas olhar para dentro, mas a se cansar de tanto fazê-lo, encontrando outras histórias para se divertir. A exploração de Swift do mundo interior de outras pessoas – a exaustão em “Epiphany”, a reveladora que ‘o tempo dirá’ “Mad Woman”, o triângulo amoroso de adolescentes entrelaçados pelo amor no trio “Cardigan””August” e “Betty” – a permite interpretar novas vozes.

Folklore abandona a festa de esplendor do Lover, com músicas que revelam mais facetas se escutadas repetidamente. Swift escreveu e gravou suas partes para o Folklore em Los Angeles, enquanto os outros, o colaborador Jack Antonoff e Aaron Dessner do The National, trabalharam em suas contribuições, que incluíram composição, produção e instrumentação, em seus estúdios próprios.

As pessoas tendem a exagerar na importância de colaborações quando falam sobre a música de Swift, já que todo trabalho da cantora contém certos aspectos – linhas vocais, mudanças de melodia, estruturas na ponte – que são inegavelmente dela. Mas o irmão de Dessner – e membro do The National – Bryce, que também tem uma bagagem de compositor e em orquestração, deu uma grande energia para o estilo de escrita de Swift. 

Pegue “Seven”, no meio do álbum, que reflete sobre um jovem amigo problemático. A voz de Swift no refrão tem uma certa proximidade, fazendo com que as memórias retratadas da infância sejam ainda mais afiadas; os instrumentos de corda ficam ao redor do piano antes de chegarem à tona perto do fim da faixa, e o embaçamento causado adiciona uma angústia à letra sonhadora. O ambiente confiante de “Cardigan” – cuja letra um pouco amargurada vale a pena no final do álbum, com o contraste de “Betty” – tem seu aspecto perturbado pelas cordas distorcidas ao final. A história de “Mad Woman”, enquanto isso, recebe um medo extra pelos vocais agitados que ameaçam assumir a linha do piano, agindo como sua âncora.

Swift ainda continua uma pop star – até uma visita rápida em suas redes sociais pode te dizer isso – mas Folklore, em vez de ir na onda do que está no topo das paradas da Hot 100, usa o “pop” para introduzir personagens mais fortes e sombrios. Na superfície, “Mirrorball” lembra uma música de última dança, mas sua letra esconde um senso de eu dividido e que, externamente, anseia por equilíbrio. “This is Me Trying” esconde o narrador de Swift avaliando onde está sua vida – “Eu me desperdicei como todo o meu potencial”, observa ela em uma linha particularmente dilacerante – em guitarras reverberadas e onduladas. “Exile”, um dueto com Bon Iver, dói enquanto se expande e se contrai, com o canto baixo de Justin Vernon e a voz alta de veludo de Swift se engajando em uma guerra fria que chega na ponte da música, com as duas acusações ecoando uma na outra, sendo impossível parar. Nem tudo é ruim: “Invisible String” é toda a alegria em encontrar uma conexão com outro, com Swift detalhando suas feridas curadas e os gentis prazeres que abrem caminho para o crescimento e a felicidade. Condiz muito com a reflexão que ocorre quando paramos para sentar, pelo visto até mesmo nas casas mais bem-equipadas.

“Antes deste ano eu provavelmente pensaria demais quando lançar essas músicas no “momento perfeito”, Swift escreveu quando anunciou o Folklore, “mas o tempo em que estamos vivendo me lembra que nada é garantido.” A maturidade e confiança dessa declaração refletem no Folklore, um álbum cheio de contéudo de uma das maiores pop stars que deixa para trás os charts, abre caminhos e desafia seu público a ir junto nessa caminhada.

Resenha publicada pela EW e traduzida pela Equipe TSBR.





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