A última vez que Taylor Swift foi parar nas manchetes de Denver ela estava desbravando um processo na justiça contra o DJ de meia idade, David Miller, que a apalpou em seu meet & greet no show de 2013 no Pepsi Center.

No tribunal, ela arriscou sua reputação ao encarar o nojento, quebrando o silêncio para falar em como homens poderosos, resguardados pela regra social de que as mulheres deveriam se calar e aceitar, envenenam a nossa cultura diariamente. O júri ficou ao lado de Swift: ela ganhou o processo e um dólar inteirinho. Apesar de sua vitória, Mueller encontrou sucesso em uma estação de rádio de Mississippi, um resultado que apoia a maior verdade do patriarcado: estupradores, abusadores e assediadores sobrevivem.

O caso de Swift veio alguns meses antes de Alyssa Milano twittar “#MeToo” enquanto mulheres apresentavam acusações de estupro contra o magnata do cinema, Harvey Weinstein. O movimento contra abuso sexual logo dominou o noticiário e se transformou no Time’s Up. O caso de Swift também precedeu a condenação de Bill Cosby por estupo, e veio antes de dúzias de homens, desde Charlie Rose até Louis C.K., verem suas carreiras serem ameaçadas pela sua má conduta sexual.

Na sexta-feira, 25 de maio, no mesmo dia que Weinstein, enfrentando acusações de estupro e criminais, se entregou para a polícia de New York, Swift voltou a Denver para a sua décima quarta apresentação.

Ela mencionaria o caso do DJ, agradecendo seus fãs pelo apoio no decorrer de toda penosa provação? Ela reconheceria a mais nova vitória do movimento Time’s Up: Weinstein em custória — ao menos por algumas horas, até que ele pagasse a fiança de $1 milhão de dólares? Ela diria ao seu exército de fãs parar quebrar o silêncio, lutar e destruir abusadores e estupradores que transformam o mundo em um lugar terrível para as mulheres?

Não em tantas palavras.

O que ela fez foi alquimia: Ela transformou merda em ouro. Ela fez mágica — e não que nem a da Bruxa Boa de O Mágico de Oz. Suas letras e cenografia abraçaram o fogo e as cobras, alinhando Swift com bruxas que queimaram na fogueira.

A parada em Denver na reputation Tour foi aberta com uma metralhadora de imagens e sons que ilustravam a morte da reputação de queridinha bonitinha que os americanos amavam tanto em Swift, uma reputação desgastada por amadurecer dentro dos holofotes, o mito da garota boazinha que fica malvada (vamos ser reais: não tão má).

A apresentação de reputation e o álbum do mesmo nome que ela está promovendo raramente fogem do tema. Ela tem muito a dizer sobre isso. E por que não?

O reputation de Swift já apanhou: mais de um crítico de música, sem esconder seu deleite na desgraça dos outros, publicaram análises de que ele é “um desastre”.

Coloque junto a isso, uma legião de haters que enchem suas redes sociais com #TaylorSwiftIsaSnake.

Misture as vozes da fã base que está se dissolvendo rapidamente daquele que não-está-exatamente-nas-graças-do-público-reclamão-do-Twitter-amante-do-Trump-marido-de-Kim-Kardashian-provavelmente-ainda-talentoso Kanye West. Quase uma década atrás ele detonou Swift em um MTV Music Awards em uma defesa justificada mas vergonhosa de Beyonce, então consertou seu relacionamento com Swift uns anos atrás e acabou com ela de novo com sua frase repugnantemente sucinta na música “Famous”: “Acho que Taylor Swift e eu ainda vamos transar. Por quê? Eu fiz a vadia famosa”. (Estrume de porco, foi o que ele fez).

Então coloque uma pitada de shade no Twitter das Kardashian — “Pera, é realmente o Dia Nacional da Cobra!?!?!? Eles fazem feriados para qualquer um, digo, qualquer coisa atualmente!” — algumas brigas públicas com nomes como Katy Perry, Miley Cyrus e Nicki Minaj.

Essa é a receita para a morte da boa reputação de Swift.

Sim, Swift já foi pintada como puta, vadia e sobra. Ela foi queimada na fogueira por um público julgador e assassino de sensações do pop.

“Eles estão queimando todas as bruxas mesmo que você não seja uma. Então me acenda (me acenda), me acenda (me acenda)”, ela canta. Desafiadora.

O que Swift fez quando seus inimigos a chamaram de cobra? Simples: Você quer ver uma cobra? Te mostro uma cobra — não, vou te mostrar uma franquia de cobras: colares de cobras, vídeos de cobras, cenários de cobras, projeções em 3D de cobras, cobras infláveis, e até mesmo uma carruagem de cobra que vai me carregar pelo estádio.

Essa é a reputation Tour: em resumo, um grande foda-se. Foda-se você, Kanye. Foda-se você, Kim. Foda-se você, DJ nojento. Fodam-se vocês trolls queimadores de bruxas.

Certeza que o excesso de cobras é uma dica que de Swift possa estar um pouquinho engasgada. Mas não foi isso que mostrou o show. Ao contrário, ela transformou a sua apresentação em um ritual pagão autêntico com a temática de cobras que faria que São Patrício tremesse nas suas bases amantes de Jesus e esmagadora de cobras.

Música atrás de música, algumas do reputation e outras direto da sua carreira country, ela fez um ritual de purificação: Fogueiras queimaram, cobras prepararam o bote, ela atacou como o próprio demônio — foi tudo meio que hair metal — e então ela flutuou como um cometa por metade do estádio, pousou em um segundo palco no meio da plateia e sacou o seu violão. Para a alegria dos seus fãs originalmente country, a Taylor boazinha voltou — ainda que diminuída por uma cobra inflável gigante. Então ela andou através de uma plateia em suspiros, entrou em um terceiro palco adornado por cobras, cantou mais e ascendeu em uma carruagem de esqueleto de cobra para voar de volta ao palco principal.

Depois de um número sincero em que Swift tocou em um piano de cauda, sua equipe trouxe outro cenário com colunas gregas e fontes. No final do show, ela se saiu vitoriosa, cantando alegremente, transfigurada da vítima desgraçada para demônia para deusa.

Ela mostrou que é uma vencedora. Ela é rica. Ela tem amigos, dançarinos poderosos que a apoiam, duas das mais talentosas estrelas do pop da atualidade, Camila Cabello e Charli XCX abrindo e até mesmo cantando junto dela.

Esqueça da reputação de Swift: Ela tem tudo. E não sem gratidão.

Perto do fim do show, a frase de um poema que ela escreveu foi projetado em um grande telão. A frase poderia se o slogan para o movimento #MeToo, um mantra de libertação da corrente mais poderosa que o patriarcado usa para prender as mulheres: uma boa reputação.

A frase de Swift integralmente: “E na morte de sua reputação, ela se sentiu verdadeiramente viva”.

Enquanto o público ia saindo, outro vídeo passava — esse com uma Taylor que erra, caí e é comum, faz bagunça com os dançarinos, se prepara para o show. Essa Taylor é charmosa, engraçada e generosa. Ela não está mais sob os holofotes. Ela é uma pessoa normal, desajeitada e que está se divertindo pra caramba.

Aquela Taylor parece muito, bem, nós: pessoas comuns tentando o seu melhor. E, para ela, talvez seja isso que se pareça com se sentir viva.





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