Seu novo álbum é um mergulho radical na mais profunda coleção de músicas que ela já lançou até hoje.

Então, aqui estamos nós de novo. O mundo estava no meio do verão mais cruel de todos, se aproximando do final de julho, quando Taylor Swift decidiu bagunçar tudo ainda mais — o que é sua especialidade.  No dia 23 de julho, em uma jogada que ninguém previu, Taylor anunciou um álbum surpresa, menos de um ano depois de lançar o último sucesso da sua carreira – o álbum Lover. (Um ano desde o dia que ela lançou “The Archer”). Como o resto de nós, Swift precisou cancelar seu verão, incluindo os shows do Lover Fest — que seriam na próxima semana. Ao invés disso, ela passou o período de quarentena se dedicando a um novo e secreto projeto: seu oitavo álbum, Folklore. Mas a grande surpresa é a música, em si – as mais surpreendentes, emocionantes e emotivamente ambiciosas de sua vida.

É um álbum completamente folk / gótico com a sonoridade majoritariamente composta por violão acústico e piano, com grande colaboração de Aaron Dessner da banda The National. Nenhuma música pop. Está tão longe de Lover quanto Lover estava longe de Reputation. Ela sempre gostou de ziguezagues dramáticos e criativos, mas essa é, sem dúvidas, sua jogada mais audaciosa, cheia de uma profundidade ao contar histórias que ela nunca havia atingido antes. Alguns de nós passamos anos sonhando que Taylor fizesse um álbum assim, mas ninguém realmente imaginou que o resultado seria tão bom. Seu melhor álbum – até agora.

Lover resumiu, conscientemente,os primeiros 30 anos de sua vida, reunindo todas as suas paixões musicais. Mas em Folklore, ela deixa sua zona de conforto para trás. Soa quase como se ela tivesse entendido que não iria estar em uma turnê para tocar essas músicas ao vivo mesmo, então de fazer qualquer coisa para rádios, nada de “rá-rá” ou algo propício para um estádio. Ela só fez um café, se sentou ao piano e deixou sua mente viajar para alguns lugares sombrios. Quase dá pra ver a vela tremendo em cima do piano, com a cera derretendo e pingando na sua cópia de Wuthering Heights enquanto outra música nasce.

Sua química sonora com Dessner dá certo em cada detalhe; ela também se junta ao seu braço direito de longa data Jack Antonoff e canta um dueto com Justin Vernon, do Bon Iver, em “Exile”. A vibe lembra muito “Safe And Sound”, música que ela fez com o The Civil Wars para a trilha sonora de Jogos Vorazes. Como ela explica no prólogo, “No isolamento, minha imaginação correu solta e esse álbum é o resultado, uma coleção de músicas e histórias que fluíram como uma onda de consciência. Pegar uma caneta foi a minha maneira de escapar para a fantasia, história e memória.”

Folklore soa como o álbum de estreia de uma nova Taylor Swift – seu leque de narrativas se expandiu sem nenhum problema e criou um amplo elenco de personagens para 17 músicas. Ainda assim você ainda consegue ouvir que essa é a mesma compositora que lançou “Last Kiss” para o mundo dez 9-de-julhos atrás. Aqui está um relatório do progresso de Swift sobre sua quarentena: “Eu tinha as mais brilhantes rodas, agora elas estão enferrujando / Eu não sabia se você iria se importar se eu voltasse / Tenho muitos arrependimentos quanto a isso.” O poder da mente dela.

É divertido pensar que, no passado, as pessoas costumavam se preocupar pensando que 

ela não teria mais sobre o que escrever caso encontrasse felicidade no amor. Sem chance. Acabou acontecendo justamente o contrário, já que agora ela deixa os personagens contarem suas próprias histórias: Uma velha viúva escandalosa odiada pela cidade inteira. Uma garota de 7 anos assustada com uma amiga traumatizada. Um fantasma observando seus inimigos em seu funeral. Viciados em recuperação. Um adolescente desajeitado. Três dos destaques – “Cardigan”, “August” e “Betty” – retratam o mesmo triângulo amoroso sob as três diferentes perspectivas. Outras músicas contam os dois lados de uma história: “The 1” e “Peace”, ou “Invisible Strings” e “The Lakes”.

Folklore chega ao meio do caminho quando atinge a trilogia de músicas mais densas. “August”, a balada mais bonita do álbum, é um romance de verão que deu errado: “Eu posso nos ver enrolados em lençóis / Agosto foi bebido como uma garrafa de vinho / Porque você nunca foi meu.” “This Is Me Trying” é o conto perturbadoramente espirituoso de alguém que decide abrir o coração para evitar abrir mais um uísque. “Illicit Affairs” é outro conto sobre infidelidade: “Entenda as palavras como elas são / Um declínio mercurial que se atenua / Uma droga que só funcionou nas primeiras centenas de vezes.” A tensão explode quando ela canta: “Não me chame de criança / Não me chame de amor / Olhe pra essa bagunça miserável que você me transformou.”

Vai levar semanas, senão décadas, para descobrir todos os detalhes entrelaçados da narrativa. “Mirrorball” é sobre a mesma tensão afetada pela pista de dança de “New Romantics”, seis anos mais tarde, mas dessa vez ela é globo que reflete as inseguranças mais desesperadas de cada um. “Mad Woman” expande o tópico já familiar de caça às bruxas, mas também acentua a ira feminista de “The Man”. “The Last Great American Dinasty” satiriza o ambiente de elite de “Starlight” quando ela canta, “Lá vai a mulher mais barulhenta que essa cidade já viu / Ela passou um tempo maravilhoso arruinando tudo.” (Taylor só usou a palavra “marvelous” duas vezes em toda a sua carreira e nas duas são em músicas relacionadas aos Kennedy? Nenhum detalhe é pequeno demais para ela planejar com oito anos de antecedência).

“Betty” é uma novidade – ela canta na perspectiva de um garoto de 17 anos em uma música da Taylor Swift, contando novamente sobre seu comportamento instável já mencionado pelas garotas em “Cardigan” e “August”. Tem um solo de gaita que lembra “Thunder Road” de Bruce Springteen — o que parece apropriado para o único conto no álbum onde ela volta para o ensino médio. “The Lakes” é a faixa bônus para os CDs físicos, edições de vinil e (acredite!) fita cassete, mas que é indispensável ouvir: Taylor segue os passos de William Wordsworth — o poeta romântico que basicamente inventou o tipo de escrita introspectiva que ela faz — vagando pelos picos de Windermere, na região de Lake District.

Lembra quando ela estava ameaçando passar esse ano regravando seus antigos álbuns? Pois é, ela fez o contrário – se recusando a repetir seus truques mais confiáveis. As marcas registradas “Swiftianas” que o mundo tanto ama ficaram de fora. Sem mudanças de país, sem pop sintético, sem primeiros encontros, sem músicas de Taylor visitando uma cidade, nem mesmo uma risada. As referências à fama são poucas e distantes, embora sejam saborosas quando aparecem, como em “Invisible String”: “Ruim era o clima da música no táxi na sua primeira viagem à L.A.”. Ela não consegue resistir e acrescenta: “Frio era o aço do meu machado para ameaçar os garotos que partiram meu coração / Agora eu mando presentes para seus bebês.” Touché.

Se Lover foi o último álbum dos seus vinte e poucos, Folklore é o primeiro dos seus trinta. Lover foi definido como uma autobiografia musical completa que inclui tudo, desde o sotaque de Nashville até o eletro-disco. Folklore adota uma abordagem completamente diferente e ainda assim soa muito mais íntimo, simplesmente porque é o som de uma artista que não precisa provar absolutamente nada pra ninguém. Ela nunca soou tão relaxada ou tão confiante. Nunca pareceu tão blasé por conquistar alguém. Faz total sentido que a quarentena despertou o que há de melhor nela, já que ela sempre comoveu ao escrever sobre isolamento e sobre a tentação que é sonhar demais com a vida distante de outras pessoas. (“Last Kiss” geralmente é uma favorita de verão, mas esse ano “Espero que esteja bem onde você está” atinge perto demais.) Em Folklore, ela sonha com uma série de personagens para lhe fazer companhia e adentrar em suas vidas traz à tona a sua mais profunda compaixão, inteligência e empatia. E parece que para Taylor Swift, seu melhor ainda está por vir. 

Nota: 4,5/5

Resenha publicada pela Rolling Stone e traduzida pela Equipe TSBR.





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