Um dia, tinha que acontecer: Taylor Swift cresceu. Não que a queridinha da América tenha evitado seu caso de amor com pop cheio de confissões. Como a moda e paleta de cores pastel sugeriram, a ganhadora de 10 Grammys – incluindo Álbuns do Ano por Fearless, de 2010 e 1989, de 2016 – ainda está investida na música eufórica e alegre que definiu sua vida após o country.
Com Lover, seu sétimo álbum, Swift se move além da saga conecte-os-pontos, disse-me-disse, que frequentemente ofuscam sua música. Ao abandonar a narrativa de “Pobre Taylor não consegue encontrar um namorado”, ela se torna capaz de englobar consciência social (a efervescente e acolhedora da comunidade LGBTQ “You Need To Calm Down”, a alegórica “Miss Americana & The Heartbreak Prince”) e, bem, apenas se divertir (“I Think He Knows”, que soa como Style, a justaposição cultural de “London Boy”, a mobilizadora “ME!”, com Brendon Urie).
Ainda que esteja embarcando com a Republic, onde Swift pode ter tudo e qualquer coisa, ela opta por uma abordagem “menos é mais”. Ela se apoia bastante no amigo Jack Antonoff, assim como Joel Little, Louis Bell e Adam King Feeney em um álbum em que o instrumental é escasso, deixando mais espaço nas faixas e um maior foco em o que é preciso para entregar a consistência emocional dessas 18 músicas, fugindo de camadas em cima de camadas que muitas vezes proporcionam faísca, essência e uma sensação de “Uau”.
“Soon You’ll Get Better”, quase como uma canção de ninar, existe como um momento silencioso de Taylor convencendo a si mesma e a pessoa para quem está cantando (obviamente sua mãe Andrea, que está lutando contra o câncer). Lidar com a verdadeira falta de poder na frente de uma doença dá uma vulnerabilidade genuína a sua performance vocal. Apoiada pelas Dixie Chicks, que também apresentam violino e traços de banjo, é uma canção frágil, estóica e desencorajadora, com o medo e a miopia ancorando sua perspectiva; ela lembra a todos nós que existem coisas que nem mesmo esse nível de fama, sucesso e dinheiro podem resolver.
Essa gravidade-em um nível menos crítico- está presente no caso de amor destruído e lindamente claustrofóbico, inclinado para o emo “Death by a thousand cuts”. Desconcertante, ela gruda com a frieza, perguntando “Você disse que foi um ótimo amor, um para muitos anos/ Se a história está acabada, porquê eu continuo continuo escrevendo as páginas?
O Lover é diferente no despertar e na autoconsciência. “False God” e “Afterglow” sugerem armadilhas, band-aids e concertar lutas insuperáveis de conexões carnais. No entanto, a parceria com Antonoff/St Vicent, “Cruel Summer” mostra o que pode ser a virada na saga de Swift quando ela vê o que não é bom para ela por meio de uma lente que não é melodramática ou ressentida. Em um esmalte de penas, ela canta em tempo real sua mágoa de colocar o coração nas mãos de alguém que não merece, sabendo disso.
“Estou bêbada na traseira do carro/E choro como um bebê voltando do bar/Disse que estou bem mas não é verdade/Eu não quero manter segredos, apenas manter você”, ela canta, revelando a verdade ofegante. A segunda faixa de Lover, “Cruel Summer”, transmite aquele momento em todos os métodos de “12 passos para atingir o fundo”. De repente, a bebida, as pílulas ou o sexo, seja lá o que tem te prendido, se revela como a armadilha que é.
A faixa título, que vem em seguida, é um passeio pós romântico punk com uma pitada da elegância de “Dusty in Memphis” (álbum de Dusty Springfield, cantora pop britânica). Com sua densidade aumentando e diminuindo, Lover se revela com a euforia de quase votos de casamento e vocais empilhados. Exultando nas trivialidades da existência conjugal – quartos divididos, assentos guardados em mesas, a intimidade de piadas contadas, luzes de Natal – aqueles três verões compartilhados são (na teoria) o início de sua vida inteira com o ator britânico Joe Alwyn.
O que dá à cheia de cordas “The Archer” uma pungência e auto conhecimento contextual que transcende a auto-piedade. O primeiro pré refrão na na balada que evoca Spandau Ballet (banda inglesa) define seus meios de sobrevivência e suas armadilhas. “Eles vêm fácil, eles vão fácil/Eu pulo do trem, eu ando sozinha/Eu nunca cresço, está ficando tão velho/Me ajude a me segurar em você” antes de mencionar a realidade de crescer e os “males de fazer ou não fazer” na capa de cada revista, em programas de TV e tablóides. “Quem poderia me deixar, querido?/Mas quem poderia ficar?”
E aí está. A realidade e a maldição da linda princesa: abençoada com as coisas que todo mundo deseja, que amor enfrentaria tudo que vem com ela?
Lover emerge com a habilidade de Swift de não criar um conto de fadas, mas trabalhar com os obstáculos, assumir os tropeços e tentar resolver um mundo real de compromissos. Se “Paper Rings” funciona como a inocência intermediada pós “Mickey” de Toni Basil ou “Mad about you”, ela pontua sobre trocar valores na faixa que soa tanto como um musical de Rogers & Hart como um acampamento de Rocky Horror Picture Show.
O que dá o tom de sinceridade é a adorável “Cornelia Street”, uma crônica do século 21 de Carly Simon, do primeiro da noite.fugindo das inevitáveis explosões e não sucumbindo ao ego em nome da intimidade. Nesta confissão de grandes notas, que novamente coloca dúvidas e desejos, o ouvinte tem a sensação de que o medo e a busca serão revertidos em nome de algo desconhecido.
O relacionamento tem seus pontos tempestuosos, mas, como todos os ouvintes que descobriram que a verdade de Swift representa seu próprio mundo, chega um momento em que a maturidade se instala e o reconhecimento do próprio eu proporciona a liberdade. À medida que a aquela mocinha atinge a maioridade, ela passa dos impressionantes vinte e poucos anos que lançaram um milhão de memes surpresa, cobrindo a boca, a uma pessoa que busca mais, acredita no poder de seu trabalho e defende as coisas em que acredita: um lar, um relacionamento, valores que afirmam as pessoas.
Sem dúvidas, a história desse álbum será contada em encontros de marketing, significados escondidos, a leitura das mãos de seus relacionamentos e de outros. Mas enquanto ela, no passado, costumava criar álbuns baseado em drama, aqui está sua vontade de abraçar a vida nos termos que realmente importam.
Ela continua extremamente “Vai, garota”. Espetando o sexismo nas diferenças de tratamento padrão masculino / feminino, ela usa um pouco da ousadia de Madonna em “The Man”, descrevendo com clareza de navalha uma realidade de sua vida muito discutida: “Cada conquista que eu fizesse/me tornaria mais seu chefe ”, uma faixa em que a melodia poderia ser confundida com uma pista de dança inchada e arrebatadora. Quando ela chega à ponte, vira a mesa, perguntando: “Como é se gabar de ganhar dinheiro/E gastar com vadias e modelos?/Eles me escolheram pra ser a ruim/Então está tudo bem se eu estou brava”.
Mais até que sua colisão de validação arco-íris “Calm Down”, o desejo de Swift de protestar contra o patriarcado lança os ideais feministas com uma batida de dança – fazendo a cultura pop ativista ser até divertida. Sem estridência, de alguma forma, ela joga ácido e protesta contra a marginalização hipócrita com um simples “Se eu saísse gastando meus dólares eu seria uma vadia, não um jogador de bola”.
BOOM! E aí está! A emancipação de TayTay. Com ainda um pouco da jovem mulher de grande impacto, ela está disposta a abrir mão dos contos de fada em nome de um final feliz alcançável e significativo. Enquanto as garotinhas criadas sob promessas impossíveis se dão conta de que o mundo, geralmente, está contra elas, talvez o melhor e mais audível aspecto de Lover é sua intenção de ser real sem rejeitar a doçura – os vídeos de gatos, a noção pulsante de conexão e a emoção do bom sexo, uma conversa ainda melhor e a defesa dos marginalizados com uma verdade fria. Pode não ser sempre uma bondade cremosa de unicórnio, mas pode ser bem incrível, mesmo quando não está perfeitamente instagramável.
Matéria publicada pelo site Hits Daily Double e traduzida pela equipe TSBR.
Erro: nenhum feed encontrado.
Vá para a página de configurações do Instagram Feed para criar um feed.