O sétimo álbum da cantora e compositora é um ajuste, ela joga com seus pontos fortes já conhecidos enquanto insinua novos caminhos.

Dois anos atrás, Taylor Swift se meteu em uma enrascada e revidou. “Reputation”, seu sexto álbum, foi o mais sombrio, o mais aflito e, não coincidentemente, o álbum mais experimental. Ela já era uma estrela pop, mas “Reputation” foi quando ela entendeu que algo poderia queimar tão forte quanto carbono. Muitas vezes uma observadora, dessa vez ela se tornou uma combatente.

A recepção foi mista; “Reputation” é um álbum genuinamente bom, mas pode não ser particularmente apreciado pelos outros. Isso empurrou as fronteiras do que as pessoas esperam de Swift – o tipo de cantora que ela poderia ser, o tipo de colaboradores com quem ela poderia trabalhar, o humor que ela poderia adotar. De longe, é o seu esforço menos bem sucedido comercialmente.

O que diz muito. Os inimigos de Swift sempre foram íntimos, e a alegria que ela tem em amá-los ou odiá-los sempre foi evidente e emocionante. Mas atacar o complexo industrial de Kanye-Kardashian foi algo estranho e também um péssimo negócio.

“Lover”, seu sétimo álbum, é forte e reconfortante, uma limpeza de paladar, um ajuste e uma reafirmação de antigas forças. É um álbum de transição criado para encerrar um capítulo particularmente doloroso e sugerir maneiras de seguir em frente – ou, em alguns casos, retornar para como as coisas já foram. Mais uma vez, as preocupações de Swift são em grande parte pessoais: quem amar, como amar, como seguir em frente quando o amor se foi.

O poder do álbum está guardado em “Paper Rings” e “Cornelia Street”, duas músicas no meio que não poderiam ser mais diferentes. “Paper Rings”, escrita e produzida com Jack Antonoff, é um punk-pop alegre, que vibra com uma energia quase nervosa. Swift fala sobre o rubor de uma nova obsessão que se torna algo mais profundo: “Fui para casa e tentei te perseguir na internet / Agora eu leio todos os livros ao seu lado na cama.” Borbulhante e sábio, é o pico Swift.

Isso é imediatamente seguido por “Cornelia Street”, outra co-produção de Antonoff, mas muito mais alinhada com a melancolia atmosférica de “Reputation”. Aqui, Swift se mostra tímida e perdida em devaneios: “Eu aluguei uma casa na rua Cornelia / Digo casualmente no carro / Nós éramos uma página nova na escrivaninha, preenchendo os espaços em branco enquanto seguimos juntos.”

Essas músicas tem uma coisa em comum, no entanto. Perto de cada ponte, a música se afasta, e Swift canta menos ocupada, apoiando-se nos contornos naturais de sua voz e enfatizando a forma como se comunica de forma frágil e sem esforço. São partes pessoais, um lembrete de que há uma pessoa dentro da música, algo que Swift às vezes negligencia em sua busca pela grandeza.

Em “Lover”, não existe uma linha musical consistente, mas uma lista de opções, algumas familiares e outras novas. “I Forgot That You Existed”, a música de abertura, é alegre, quase superficial – um desinfetante lírico para a era do “Reputation”. “You Need to Calm Down” tem uma crueldade brutal. Como música, não se beneficiou do lançamento simultâneo de um vídeo pesado, enfatizando o apoio de Taylor para a comunidade LGBTQ+. E há insucessos: o cintilante “London Boy”, presumivelmente sobre seu amante, o ator britânico Joe Alwyn, é um argumento eficaz contra o romance transnacional.

Se ela se inclina para um estilo pop em particular, é o que ela e Antonoff tem feito em seus dois últimos álbuns, com arranjos espessos e etéreos que sugerem partituras para filmes onde as crianças descobrem mundos de fantasia. O melhor exemplo aqui é “Cruel Summer”, no qual Swift canta em várias vozes de sua assinatura – as sílabas de ponto de interrogação que disparam para o céu, as manchas duras e os cantos infantis: “Eu não quero continuar com segredos só para te manter!”

Mas no meio de “Lover” vem uma mudança difícil: “Soon You Get Better”, uma música acústica intimista sobre a mãe de Swift, Andrea, que está lutando contra o câncer. Swift nunca foi uma artista completamente transparente, mas no início de sua carreira, ela cortou extremamente perto do osso. Aqui, harmonias agonizantes dos Dixie Chicks servem como uma algo empático, já que o vocal e composicão da Swift são imediatos: “Garrafas laranjas santas, todas as noites eu rezo para você / pessoas desesperadas encontram fé, então agora eu oro a Jesus também”.

O impacto dessas palavras só ressalta como Swift vem recuando sobre os detalhes em suas letras, uma vez que elas em si já tem o seu poder. Traços gerais podem ser tão potentes emocionalmente quanto os impulsos pessoais, mas, pensando em suas canções mais antigas, suas letras sempre comunicaram uma quantidade de informação estimulante de forma fácil.

A mudança no ênfase mais íntimo nas músicas de seus álbuns recentes a deixou em um terreno menos estável. Mas não há Max Martin ou Shellback aqui – superprodutores que a ajudaram a criar suas faixas pop recentes – o que significa que não há código de fraude. E em suas composições, além de Antonoff, ela colabora com Louis Bell e Joel Little, que foram alguns dos mais bem sucedidos compositores do pop nos últimos dois anos, mas que não se aproximam do poder de Swift.

“Soon You’ll Get Better” captura essa energia, no entanto, e também aponta para algo que poderia passar silenciosamente despercebido neste álbum: Há country aqui – ele acena, pisca. A facilidade de Swift com o gênero é como a facilidade de flertar com um ex.

Pegue “Death by a Thousand Cuts”, uma música sobre como os relacionamentos que terminam parecem nunca acabar, o que poderia ser facilmente uma música de Kelsea Ballerini: “Eu fico bêbada mas não é o suficiente / porque a manhã chega e você não é meu.” Ou a faixa-título, que tem ecos de “Knockin ‘on Heaven’s Door”, mas também soa como um alt-country dos anos 90.

Se Swift voltasse explicitamente ao gênero que fez com ela tivesse aclamação global, ela seria tão influente quanto o dia em que resolveu ir para o pop. Mas é mais provocante pensar – especialmente depois que seus experimentos com trap no “Reputation” não conseguiram se conectar com o público – se Swift continua comprometida com o centrismo pop e que forma isso pode tomar.

Houveram dois grandes momentos com relação a música de Swift ao longo de sua carreira de 13 anos: em “Red”, quando ela tentou fazer um pop animado e reconstruiu completamente a base de seu som; e em “Reputation”, que provavelmente será o limite externo dos riscos que ela assumirá. À medida que os artistas envelhecem e são mais bem-sucedidos, a disposição deles de girar e experimentar coisas novas normalmente também se suaviza.

Por isso, é intrigante que “Lover” ofereça um conjunto de novos caminhos, a maioria deles promissores, especialmente “Paper Rings”. O excelente “The Man” é uma dura sintetização do machismo mas que também mostra uma Swift mais engraçada e irônica. “Toda conquista que eu fiz me tornaria mais um chefe para você”, ela diz, esgotando uma ladainha dos padrões duplos que vem evitando há anos. Nesta linha do tempo alternativa, ela afirma: “Eu seria como Leo em Saint-Tropez.”

O exibido “I Think He Knows” oferece uma intenção doce com uma mistura de euforia e petulância. E em “The Archer” – que é uma fragrância de “Time After Time” de Cyndi Lauper – ela é contida e um pouco imperial, usando sua voz para demonstrar seus sentimentos.

Em um álbum baseado em deixar o passado para trás, estas são as músicas que sugerem um caminho a seguir. Nos últimos anos, ficou claro que quanto menos Swift definir seus próprios termos, mais desafios ela enfrentará. E com “Lover”, ela está de volta à direção. Ser uma estrela pop, ela aprendeu, é diferente de ser você mesmo – exceto quando não é.

Matéria publicada pelo The New York Times e traduzida pela equipe TSBR.





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