24 de janeiro de 20 Autor: Julia Cardoso
Saiba o que a Rolling Stone achou de Miss Americana

Taylor Swift é livre. Livre para dizer o que ela quiser, mesmo que isso irrite o público de uma gravadora, seus pais e o presidente. (Especialmente o presidente). Livre para se posicionar pelas causas que ela acredita, como os direitos dos gays. Livre para não deixar que a voraz e sarcástica besta que chamamos de “internet” a deixe para baixo. Livre para reconhecer seus defeitos, suas hipocrisias, e exemplos de comportamentos não saudáveis (mentais e físicos), e para tentar ser uma melhor versão de si mesma. Livre para não ser mais a garota de 13 anos com cachos dourados que nem das princesas da Disney que vivem por aplausos, ou a garota de 19 anos que garantiu que não se aproveitou da música country, ou a de vinte e pouco anos que se sentiu obrigada a sorrir para as câmeras quando ela achava que não devia. Livre para não ser “Taylor Swift”, a figura que ambos, a indústria e ela mesma criaram, mas apenas ser Taylor Swift, a cantora, compositora e super famosa pessoa que ocasionalmente gosta de ficar de pijama, brincar com seus gato, e beber vinho branco com cubos de gelo.

Essa é a conclusão de Miss Americana, crônica de Lana Wilson de um período um tanto quanto tumultuado da vida de Taylor Swift, e essa é a sensação que você está assistindo alguém a finalmente chegar no ponto que ela, como ela mesmo diz, de tirar o focinho dali. Consequências sejam condenadas. Ele foi escrito para parecer menos como uma volta de vitória do que uma das saídas, um psicodrama de por trás das cenas que termina como uma fênix poderosa nascendo das cinzas.

É também um típico documentário confidencial de uma pop star, do tipo que segue as dicas de Madonna: Truth or Dare e revela apenas vulnerabilidade, confusão e desesperos para não acabar com a marca ou sentir muito sufocante ao administrar. (Veja também Katy Perry: Part of Me; Gaga: Five Foot Two; Beyoncé: Life Is But a Dream). E aí está o paradoxo. O filme mira  em algo cru, íntimo e autêntico – todas palavras que Taylor usou depois de entrar no palco na noite de estreia em Sundance e receber vários aplausos. O resultado é definitivamente honesto mas ao mesmo tempo cauteloso. Você não chamaria o filme de sem filtros. É uma espiadinha atrás das cortinas que você sabe que de repente, as cortinas se fecham.

Acesso é, com certeza, o que você espera desses filmes – quem não gostaria de ser uma mosca na parede da vida de Taylor Swift? E acesso é o que Miss Americana te dá, mesmo que ela te afaste das narrativas que ela quer que você seja excluído. Você poderá ver seus aviões, salas de estar, ela pintando unhas (“me dê uma boa avaliação no Yelp”, ela diz enquanto pinta as unhas de sua amiga). Você curte com ela no estúdios, gravando Lover e compartilhando burritos com seu produtor Joel Little, e assiste o seu processo criativo acontecer em tempo real. Jack Antonoff e Brendan Urie aparecem; os dois compartilham do stress de fãs raivosos e perseguidores. Ela traça sua ascensão através de pedaços de vídeos de premiações, depois aponta para “a vista do topo da montanha”, depois que ela sentiu que seus sonhos estavam sem essência. O infame tumulto com Kanye West no VMA e a forma como Taylor ficou dissecada; e aí então #TaylorSwiftIsOver e seu subsequente sumiço das câmeras.

O grande ponto de conversa vai ser Taylor confessando seu distúrbio alimentar, uma confissão genuína para as câmeras que apontam para suas aparições nos tapetes vermelhos. Você não precisa ser um gênio ou, Deus te ajude, um crítico de filme para ver a conexão entre as expectativas jogadas em cima dela como uma artista feminina (e em mulheres em geral) e a pressão imposta de viver sobre expectativas impossíveis arriscando sua saúde e sanidade. Isso aparece em Miss Americana, onde Swift está radical e você se sente assistindo alguém em um momento de crise. Isso começa com ela ganhando na corte um caso contra o DJ Colorado que a assediou em 2013. O clímax acontece quando ela apoia via Instagram os candidatos Democratas em Nashville, em 2018 – outro momento que justifica algumas das citações pesadas sobre não aguentar mais, etc. “Como eu posso estar de pé no palco e dizer ‘Feliz mês do Orgulho Gay, a todos!’ e não fazer nada como alguém que apoia a comunidade LGBTQ?” ela pensa, e então põe seu instagram para funcionar. Um argumento que seu time usava quando alguém mencionava que ela se manteve em silêncio durante as eleições de 2016. “Eu estou triste que eu não me pronunciei contra o Trump, mas não posso fazer mais nada sobre isso agora,” ela admite. A dor em sua fala é notável.

O documentário termina com T-Swift de volta aos palcos, parecendo como uma “bola de discoteca derretida” mas ainda assim fabulosa, pronta para mostrar ao mundo suas asas de borboletas diferentes fora do casulo. E quando ela se juntou com Wilson em frente o Eccles Theater, depois do filme terminar, com todo mundo de pé aplaudindo, alguns gritando e outros chorando, ela realmente parecia mais madura, uma versão correta de uma celebridade do pop. Nem mesmo com o colegial aparecendo no trabalho das duas (Swift questionou Wilson se ela podia a seguir depois de ver que ela era co-diretor do documentário After Tiller) ou uma sessão de perguntas e respostas poderia transmitir o sentimento de estar olhando para alguém  que acabou de tentar se adaptar as expectativas de “boa garota”. Miss Americana pode não estar em um lugar tão aberto e estridente quanto as letras de Taylor (ela é uma forte candidata à segunda vinda de Joni Mitchell). Mas, como uma cápsula do tempo extremamente curada de uma transição, ele deixa o trabalho bem feito. Não espere ela como Dont Look Back. Seja grato que você obteve Truth or Dare.

Matéria publicada pela Rolling Stone e traduzida pela Equipe TSBR.





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